Entrevista Priscila Silva – As chaves para uma carreira de sucesso no exterior

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Entrevista relações internacionais
Priscila Silva

Após alguns anos de sua primeira colaboração com o What’sRel? (clique aqui para conferir sua primeira entrevista), Priscila Silva nos contou como considera as redes de networking o verdadeiro diferencial para o internacionalista no mercado de trabalho, assim como a fluência em idiomas para além do inglês.

Poliglota e formada em Relações Internacionais pela PUC Minas, hoje ela atua como Conselheira de investimentos estrangeiros na Québec International, localizada no Canadá. Contudo, parte de sua carreira foi consolidada na paradiplomacia, alcançando a posição de Coordenadora de Relações Internacionais do Governo de Estado de Minas Gerais.

Confira abaixo a entrevista na íntegra!

1. Quais características e/ou aprendizados do curso de Relações Internacionais mais contribuíram para o seu desenvolvimento profissional?

Creio que a oportunidade da discussão política e econômica propiciada pelo curso me fez começar a analisar situações do Brasil e de outros países de uma maneira muito mais ampla. E digo isso não somente pelo excelente corpo docente que tivemos, inclusive com professores estrangeiros, mas também pela possibilidade de ter discussões riquíssimas entre nós, alunos. Diferentes pontos de vista, teorias e compreensões sobre o mesmo assunto nos fazem crescer muito intelectualmente e fortalecem o princípio do respeito à diversidade de pensamento.

2. Na entrevista anterior, você citou que sua primeira oportunidade de emprego foi conquistada inicialmente através de networking. Em sua experiência, qual a importância do networking no mercado de trabalho atual?

Em um mercado tão concorrido, o networking vem se tornando cada vez mais essencial. Por mais que se tenha um bom currículo, o mercado hoje demanda muito mais que uma boa universidade, fluência em inglês (que não é mais um grande diferencial) e uma série de cursos ou estágios, ele requer recomendação e as famosas softskills. Não é fácil gerir pessoas e saber se alguém que é bom tecnicamente possui também certas características interpessoais para determinado tipo de trabalho, então estas habilidades acabam fazendo a diferença no processo final de decisão ao escolher um candidato. E não estou falando sobre trabalhar sob pressão e sim sobre habilidades em expor seu ponto de vista com respeito, sobre relacionamento interpessoal, respeito à hierarquia dentro da empresa, lealdade e compromisso com o trabalho.

3. Com mais de 10 anos de carreira, metade foi trabalhando para o governo de Minas Gerais. Quais são as possíveis oportunidades para analistas internacionais em secretarias municipais/estaduais? Em sua opinião, quais atributos são mais valorizados para este tipo de vaga?

Tive a oportunidade de começar minha carreira no Governo de Minas Gerais e creio que foi um período de aprendizado incrível. Quando saímos da universidade, não sabemos nada sobre como colocar nosso conhecimento em prática, e lá pude encontrar pessoas maravilhosas que me ensinaram muito e me deram espaço para crescer. Além da Assessoria de Relações Internacionais, ligada ao Gabinete do Governador, algumas secretarias possuem departamentos de Relações Internacionais para gerenciar as parcerias com instituições estrangeiras, como a Secretaria de Ciência e Tecnologia e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Gostar do caráter político das Relações Internacionais é fundamental, além de estar aberto a executar diferentes tipos de tarefas. Muitas vezes, o que parece apenas operacional, é uma atividade muito mais importante do que pensamos. Não poderia deixar de mencionar a grande satisfação que é poder contribuir para o bem da nossa sociedade, algo que pode beneficiar um grande grupo de pessoas. Isso não tem preço.

4.Entre sua primeira entrevista para o What’s Rel? e a atual, passaram-se aproximadamente 7 anos. De lá para cá, o que mudou em sua perspectiva sobre o mercado de trabalho para internacionalistas?

Acho que o mercado melhorou consideravelmente do ponto de vista que o curso de Relações Internacionais passou a ser mais reconhecido. Antes, as pessoas não sabiam o que fazia um internacionalista. Atualmente, as empresas já identificam as características e as vantagens em contratar um profissional dessa área. Além disso, os próprios internacionalistas estão mais abertos e capacitados para atuarem em áreas transversais, como inovação e desenvolvimento de novos produtos.

5. Durante seu percurso profissional, quais foram seus maiores desafios?

Primeiramente, creio que foi encontrar o que eu realmente gostava de fazer dentro do mundo das Relações Internacionais. Entrei no curso com a ideia de que tentaria concurso para diplomata e até hoje nunca fiz a prova, nem como teste. As possibilidades de atuação são tão vastas que é preciso realmente experimentar, se lançar sem medo. Hoje, olhando para trás, não me arrependo das minhas tentativas. Em um segundo momento, meu maior desafio foi deixar algo que eu adorava fazer para recomeçar minha vida profissional no Canadá. Ainda estou vivendo esse período desafiante, mas também não me arrependo.

6. Além do inglês, você também tem domínio do francês e espanhol. Que importância estes idiomas tiveram para você na conquista de novas oportunidades?

Como mencionei, atualmente o inglês já não é mais um diferencial, ainda mais para um profissional de Relações Internacionais. Então, falar um outro idioma já é um ponto a mais. Além disso, em uma perspectiva cultural, os negócios fluem muito mais quando se tem alguém que fala a mesma língua do cliente ou parceiro. Hoje, quando me deparo com alguém que também fala português, por exemplo, seja brasileiro, português ou mesmo de outro país, um outro nível de relação passa a ser estabelecido, a comunicação fica mais direta, logo, maior a chance de sucesso.

7. Desde 2007, você atua como voluntária em alguns projetos. Poderia nos contar como o voluntariado contribuiu para seu crescimento pessoal e profissional?

Sempre gostei de fazer trabalhos voluntários, não somente ligados à minha a área de atuação. Acho que quando podemos contribuir, doar um pouco do nosso tempo em prol de algo maior, o maior ganho é o nosso. Além da satisfação pessoal que já mencionei acima, acho que é uma excelente oportunidade para criar ou aumentar a rede de relacionamentos, conhecer outras experiencias, fazer coisas completamente diferentes e sair da zona de conforto.

8. Hoje, você atua como Conselheira de investimentos estrangeiros na Québec International, localizada no Canadá. Quais são suas principais atribuições e que características você considera imprescindíveis para exercê-las?

Hoje, sou responsável por atrair para a Região Metropolitana da Cidade de Québec empresas europeias, principalmente vindas da Alemanha e Reino Unido. Então, promovo nossa região para que ela seja conhecida no território europeu e passe a ser uma opção de localidade para novos investimentos. Para isso, participo de eventos (virtuais ou presenciais), missões nacionais e internacionais. Quando uma empresa se interessa pela cidade, fica também sob minha responsabilidade fornecer todos os dados necessários para que ela possa realizar seus estudos para a tomada de decisão. Então, juntamente com parceiros locais, esclarecemos as dúvidas e apresentamos o ecossistema da região para esse potencial investidor. Após a instalação, continuamos com um acompanhamento mais esporádico, com o intuito de apoiar a empresa em novas demandas e novos investimentos. Creio que é preciso muito respeito pela cultura e compreensão de que cada povo possui suas peculiaridades. Então, não adianta querer negociar com um francês da mesma forma que se negocia com um americano. É preciso ser flexível e aberto às adaptações.

9. Há diferença entre o mercado de trabalho de RI brasileiro e o canadense?

Creio que há algumas diferenças sim. O Canadá é um dos países que mais recebe imigrantes no mundo, ou seja, pessoas que migram por motivos de estudo, trabalho ou asilo. Com isso, a diversidade cultural faz parte do cotidiano, mas, ao mesmo tempo, têm-se mais instituição voltadas para apoiar essa parte da população, logo, mais ambientes propícios para a atuação de internacionalistas. Ainda, muitas empresas e instâncias governamentais possuem departamentos dedicados à colaboração internacional.

10. Sabemos que algumas diferenças culturais podem impactar em relações e negociações que envolvam diferentes países. Sendo uma brasileira que atua no exterior, como você lida com estas diferenças na hora de se comunicar com potenciais clientes e colegas de trabalho?

Minha vida em Québec é 100% em francês, mas trabalho hoje 60% em francês, 30% em inglês e 10% em espanhol. Vim para cá com um bom conhecimento em francês, mas ainda insuficiente para atuar na minha área. Então, passei 1 ano e meio aperfeiçoando o idioma e trabalhando em outros segmentos até realmente voltar à área de atração de investimentos. Minha experiencia no Brasil foi valorizada quando fiz a entrevista técnica para o cargo que ocupo hoje e, obviamente, o domínio do idioma também. O início foi muito desafiador, mas atualmente não tenho praticamente nenhuma dificuldade em trabalhar em outra língua, me comunico bem com meus colegas e há muito respeito entre os membros da equipe. Somos duas brasileiras, uma espanhola e uma chilena em meio ao restante dos colegas canadenses. A diversidade de culturas e línguas contribui de forma significativa para os nossos resultados, considerando o fato de que atendemos empresas de todo o mundo e podemos sempre utilizar nossas línguas maternas para criar vínculos mais próximos com nossos clientes.

11. Quais dicas você daria para estudantes de RI e internacionalistas que almejam trabalhar no exterior?

Não menosprezem o estudo de um novo idioma. Todo o tanto que achamos que sabemos, ainda será pouco para atuar no exterior. Não crie a expectativa de que chegará em outro país já ocupando um bom cargo. Se isso acontecer, ótimo, mas não é nem de perto o que mais acontece. É preciso ter a humildade de reconhecer que será um recomeço e que ninguém te conhece em outro país. Logo, será preciso provar sua competência e conquistar a confiança de seus empregadores e isso pode demorar mais do que o previsto. Então, não desista e se prepare para quando a sua oportunidade chegar.

12. Quais são os pontos negativos e positivos, na sua opinião, sobre morar fora do Brasil, especificamente no Canadá?

Os pontos positivos são a liberdade de andar na rua sem medo. Isso para mim é impagável! Em seguida, a segurança, qualidade de vida e a beleza das quatro estações bem distintas. Mesmo depois de 2 anos e meio aqui, sigo apaixonada por cada uma delas (mesmo pelo inverno com as temperaturas que chegam à -30º). Dentre os pontos negativos, estão a saudade da família e amigos, os eventos sociais e confraternizações. Algo também que me incomoda é a bolha em que muitas pessoas vivem. Aqui existe um sentimento de solidariedade, muitas pessoas fazem trabalho voluntario e são engajadas, mas a sociedade é um tanto individualista no estilo de vida. Então, é mais difícil para nós estrangeiros construirmos amizades.

Entrevista feita pela graduanda em Relações Internacionais Raquel Gomes

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