A ATUAÇÃO DE DIPLOMATAS ESPORTIVOS NAS OLIMPÍADAS DO BRASIL

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Analistas internacionais entraram em campo para garantir que Centros de Treinamentos em estados como Minas Gerais e Santa Catarina recebessem delegações estrangeiras durante o período de aclimatação e treinamento para os Jogos.

Que as Olimpíadas de 2016 aconteceram no Rio de Janeiro todo mundo já está ciente. Mas o que poucos sabem é que antes – e até mesmo durante os Jogos – os principais atletas do mundo passaram também por outras cidades brasileiras.

O Rio é a cidade sede do evento, mas a preparação e aclimatação das delegações esportivas aconteceram longe de lá. Foram nas cidades que possuem os chamados Locais de Treinamento Pré-Jogos, instalações esportivas com estrutura de alto nível, que os atletas se adaptaram ao clima e fuso horário brasileiro e treinaram para as competições.

Em 2012, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016™ apresentou o Guia de Locais de Treinamento Pré-Jogos aos representantes dos Comitês Olímpicos e Paralímpicos Nacionais (CONs e CPNs) de todo o mundo. O Guia identificou 172 instalações em 73 cidades brasileiras, de 18 Estados, com condições de servir aos atletas no período pré-Olimpíadas.

O grande número de instalações espalhadas pelo país gerou concorrência entre as cidades, já que cada uma buscava hospedar as delegações de maior destaque internacional para atrair mais turismo e investimentos. A partir daí, cada instalação esportiva teve que “vender seu peixe”, negociar diretamente com os CONs e CPNs dos mais diversos países, apresentar suas características e vantagens e estabelecer contratos com termos de utilização dos equipamentos esportivos. Tudo isso anos antes dos Jogos começarem.

Mapa das instalações selecionadas pelo Comitê Rio 2016.

Diplomatas esportivos em ação

Foi na hora de “vender esse peixe”, preparar e promover os centros de treinamentos regionais, conversar com as delegações estrangeiras e buscar as melhores opções para cada país, que os profissionais das Relações Internacionais entraram em ação.

É caso, por exemplo, da analista internacional Anna Pimenta, uma experiente diplomata esportiva. Diretora da empresa Bee Sport Network, especializada em assessoria e consultoria internacional, Anna Pimenta e sua equipe auxiliaram instalações esportivas a receberem equipes estrangeiras e a potencializar essa experiência.

A empresa trabalhou nessas Olimpíadas com vários centros pelo Brasil, principalmente em Minas Gerais e em Santa Catarina, relacionando com comitês de mais de 20 países. Prestou também serviços, por exemplo, para os Comitês Olímpicos e Paralímpicos do Reino Unido, Irlanda, Canadá, Austrália, Bélgica e UAE.

Segundo Anna Pimenta, o trabalho exigiu muito cuidado, uma vez que o período pré-olímpico é fundamental para as delegações esportivas. Para ela, a qualidade da instalação esportiva não foi o único fator avaliado pelos estrangeiros na hora de escolher onde ficar. “Uma equipe vem ao Brasil com antecedência para aclimatação e essa etapa final de treinamento é de vital importância para ganhar a medalha. O Centro de Treinamento está no coração da ação, mas sozinho não convence. Se o atleta treinar no melhor local, mas não dormir bem, não comer adequadamente, ou não contar com a segurança fora desse espaço de excelência, a delegação não vai escolher aquele local. Fatores como transporte, distância do aeroporto e segurança são muito importantes. Tudo conta para garantir aquele centésimo que leva à medalha.”, explica a analista internacional.

Reconhecimento e negociação

Para que tudo ocorresse bem, Anna Pimenta diz que foi preciso conhecer os centros esportivos. “Visitamos e avaliamos a instalação com os seus atrativos visando equipes olímpicas e paraolímpicas. Depois orientamos a comunicação de acordo com os interesses da instituição e apresentamos quais são os possíveis tipos de negociação”, conta.

O segundo passo foi a parte mais difícil do processo: organizar a visita de uma delegação para conhecer o centro de treinamento. “Convencê-los que encontrarão naquele lugar o que procuram e se organizarem para fazer essa visita de reconhecimento envolve uma estratégia de contatos, preparação, informação e organização”, explica Anna Pimenta.

A primeira visita de um representante para reconhecimento do local avalia a instalação esportiva, hotéis, restaurantes, acesso aos locais, distância entre eles, dentre outros fatores. A partir desse reconhecimento, o Comitê avalia a necessidade de melhoria ou adaptação para receber os atletas. Depois começam as negociações para firmar o acordo entre o Comitê e o centro esportivo.

Recebendo as delegações

Um dos trabalhos de destaque da Bee Sport Network foi receber e assessorar a equipe da Grã Bretanha em Belo Horizonte. Os britânicos começaram a chegar na capital mineira no dia 16 de julho, três semanas antes dos jogos, para preparação no Minas Tênis Clube, no Centro de Treinamento Esportivo da UFMG e na Toca da Raposa I (estrutura do Cruzeiro).

A equipe de esgrima da Grã-Bretanha se preparando em Belo Horizonte. Fonte: Minas Tênis Clube

“Antes da chegada das delegações, é preciso que tudo referente à vinda da equipe esteja alinhado e preparado para recebê-los”, explica Anna. Esse trabalho prévio exige atenção aos detalhes. O planejamento vai desde o equipamento esportivo a ser utilizado pelo atleta até a sua alimentação no período. Na fase de aclimatação, o atleta deve se sentir o mais confortável e seguro possível para auxiliar o seu rendimento.

Uma aclimatação adequada faz toda a diferença. Se formos ver o histórico da Grã Bretanha nas olimpíadas passadas, pode ser notada uma grande evolução: de Atlanta 1996 a Londres 2012, a Grã Bretanha subiu 33 posições no quadro de medalhas; e na Rio 2016 foi o primeiro e único país anfitrião a conseguir uma colocação melhor nas olimpíadas seguintes que a colocação adquirida em casa. Alguns estudos e matérias, como  uma publicada no site de notícias Mirror,  afirma, dentre outras coisas, que o projeto de aclimatação pré-jogos é um dos muitos fatores que influenciaram positivamente nos resultados das equipes britânicas.

“É com grande alegria que nós da Bee Sport Network, e toda a equipe de Belo Horizonte e Minas Gerais, fizemos parte desta história. Foi com muita dedicação que conseguimos auxiliar a transição da equipe Britânica aqui em BH da maneira mais efetiva e suave possível”, avalia Anna.

Em uma parceria com o Complexo Esportivo SESI – Santa Catarina, a empresa também prestou assessoria a países como Arménia, Botsuana, Barbados e Equador, ajudando-os da melhor maneira possível durante o período de aclimatação.

 

Mapa de Minas Gerais mostra onde se hospedaram as equipes estrangeiras no estado no período pré-Olimpíadas

Próximo passo: Olimpíadas no Japão

Na primeira quinzena de agosto, a internacionalista Anna Pimenta se reuniu com a vice-governadora de Yamanashi, província do Japão, vizinha a Tóquio. O motivo do encontro foi auxiliá-los nesta fase de preparação para estruturar o programa Pré-Jogos Tokyo 2020. Assim como Minas Gerais, Yamanashi visa atrair várias delegações para seus centros de treinamento.

O Brasil aprendeu muito com Londres 2012. Chegou a hora de passar o seu conhecimento para os próximos anfitriões das Olimpíadas, e quando se trata de Pré-Jogos, Anna Pimenta se tornou uma referência internacional. A mediação cultural é ponto fundamental para o sucesso da atração e recepção de equipes estrangeiras.

Foi essa mediação cultural que fez Minas Gerais terminar as Olimpíadas como o maior estado, após o Rio, a receber equipes estrangeiras. Um eforço de diplomatas esportivos como Anna Pimenta que certamente trará benefícios para a região.

   

Anna Pimenta em reunião com a delegação japonesa para transmitir conhecimentos sobre período de preparação para os Jogos. Fonte: Bee Sport Network

 

Benefícios e legado para as cidades que receberam delegações no período antes das Olimpíadas
  • Melhorias das estruturas esportivas da cidade – para receber uma equipe internacional, os Centros de Treinamento passaram por intervenção de melhoria na sua infraestrutura ou aquisição de equipamento;
  • Desenvolvimento de uma modalidade esportiva – intercâmbio de atletas locais e internacionais, bem como legado de equipamentos esportivos de padrão internacional, auxilia no desenvolvimento do esporte;
  • A cidade e os Centros de Treinamentos se tornam referência na preparação de atletas;
  • Projeção internacional do Centro de Treinamento, do município e do estado;
  • Aquecimento da economia local – no período de treinamento, além dos atletas, a cidade recebe os membros da comissão técnica, imprensa nacional e internacional e fãs do esporte.

 

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Jornalista e analista internacional apaixonado por Mountain Bike. Trabalha com Relações Internacionais e é Editor de Conteúdo do What’s Rel?

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