ENTREVISTA COM VIRGÍLIO FRANCESCHI NETO

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Um analista internacional no mundo dos esportes

Em entrevista ao What’s Rel?, o analista internacional Virgílio Neto fala sobre sua carreira na indústria esportiva e conta como se tornou locutor oficial nas Olimpíadas Rio 2016.

Foto: Virgílio Neto em vista às instalações esportivas do Parque Olímpico de Deodoro no Rio de Janeiro. Foto publicada em sua Fanpage.

Nestes Jogos Olímpicos, o analista internacional Virgílio Franceschi Neto, 34, tem uma missão que, em um primeiro momento, pode parecer incomum se levarmos em conta sua escolha acadêmica. Ele deve garantir, como locutor oficial do Comitê Rio 2016, informação de qualidade em três modalidades esportivas: Pentatlo Moderno, Rugby Seven e Rugby em Cadeira de Rodas.

Narrar as Olimpíadas, no entanto, é apenas mais um passo de um profissional que, ao longo de sua trajetória, tem unido muito bem suas duas grandes paixões: o esporte e as relações internacionais.

Após formar-se em 2005, Virgílio fez mestrado em Gestão Esportiva na Universidade de Lisboa, em Portugal, e desde então não saiu mais da indústria esportiva. Assessorou em jogos internacionais equipes como Corinthians, Botafogo e Cruzeiro durante as Copas Libertadores e Sul-Americana. Trabalhou na comunicação da Confederação Brasileira de Rugby durante a bem sucedida – e cômica – campanha publicitária da Topper que alçou nacionalmente o jargão: Rugby, isso ainda vai ser grande no Brasil. Tornou-se, em 2010, Gerente das Seleções Nacionais de Rugby, cargo em que pode usar seus conhecimentos de RI para ampliar o intercâmbio técnico e auxiliar o crescimento do esporte no país. Dedica-se também a um Doutorado em Educação Física na USP.

Conhecer bem sobre esportes e, principalmente, saber lidar com questões internacionais, colocou Virgílio diante de um novo desafio: comentar e apresentar programas esportivos no rádio e na TV. Começou na BandSport e agora está na ESPN e no Comitê Olímpico. Na comunicação, ainda se dedica ao blog O Esporte e o Mundo e a um podcast semanal sobre rugby.

Apresentador, comentarista, gestor, professor e pesquisador universitário. Virgílio é um profissional que nos mostra as múltiplas facetas de uma analista internacional. Para aqueles que, como ele, têm paixão por esporte, fica uma mensagem otimista: “Tenho certeza que com o crescimento da indústria do esporte no Brasil, o profissional de RI terá ainda mais espaço”.

Sua trajetória e seus conselhos você conhece agora nesta entrevista exclusiva para o What’s Rel?

Perfil:

  • Nome: Virgílio Franceschi Neto
  • Idade: 34
  • Cidade onde mora: São Paulo/SP
  • Instituição onde trabalha: ESPN / RIO 2016 / EEFE-USP

Em sua Fanpage no Facebook, Virgílio apresenta o Parque Olímpico de Deodoro

Virgílio, como foi a sua decisão de cursar RI e o que te levou a escolher o curso?

Escolhi o curso de RI porque quando adolescente tinha vontade de trabalhar no Ministério das Relações Exteriores e foi natural que escolhesse cursar Relações Internacionais.

Depois de se formar, você estudou fora do Brasil. Conte-nos um pouco dessa experiência.

Tenho uma grande paixão na minha vida, que é o esporte. Durante o curso de RI me dei conta que queria trabalhar com esporte. Há 10 anos, quando me formei na PUC-MG, não tinha tanto espaço para o esporte nas RI e vice-versa. No entanto consegui um estágio na Federação de Futebol do Rio de Janeiro e um ano mais tarde fui para Portugal fazer Mestrado em Gestão do Esporte, pela Universidade de Lisboa. Procurei pela Gestão do Esporte em função da paixão que tenho pelo tema, mas um ponto que chamou-me muito a atenção no conteúdo programático do Mestrado foi ter a disciplina “Olimpismo”, cujo principal evento é o maior do mundo – esportivo ou não -, que reúne o maior número de países. Os contras de estudar fora é a distância da família apenas. A adaptação não pode ser problema para quem quer e está disposto a sair do País. Os prós é a oportunidade conhecer outras culturas, fazer amizades, perceber realidades e maneiras de trabalhar/ver a vida.

Como foi a junção de sua paixão por esportes e RI?

Foi natural, são duas grandes paixões. Me dei conta disso quando fui Secretário-Geral do V MINI-ONU. Era época dos Jogos da 28a Olimpíada, em Atenas (2004). Lembro-me de escrever a carta de boas vindas do evento que fazíamos e mencionar os Jogos Olímpicos. Na mesma época eu era bem envolvido com o esporte amador em Belo Horizonte (especificamente o rugby). Percebi que queria mesmo trabalhar com o esporte. Mas como disse antes, há 10 anos não havia espaço para o esporte nas RI e vice-versa. Sofri alguma resistência por parte de colegas do esporte por eu ser de RI, mas hoje o mercado é muito mais aberto e conheço muitos que são de RI e trabalham com esporte.

Hoje você é um especialista em gestão e marketing esportivo. Se não me engano, chegou até a organizar um livro sobre o assunto. Na sua visão, quais conhecimentos de RI foram fundamentais para você desenvolver sua especialidade?

Sim, em 2011 tivemos o livro: “Marketing Esportivo no Brasil”, organizado pelo IBME (Instituto Brasileiro de Marketing Esportivo), instituição que também faço parte. Os conhecimentos de RI para eu poder atuar hoje são vários. Economia Internacional, Macro e Microeconomia, Geopolítica, Sociologia e Antropologia, sobretudo. O futebol – e eu posso generalizar o esporte – é um fato social total e se eu não compreender o contexto nacional e internacional, não potencializo minha atuação.

Virgílio, qual atividade você está desenvolvendo para o Comitê Olímpico e Paraolímpico Rio 2016?

Eu atuo também como comentarista de TV (Rugby) e isso me levou também a fazer narrações e atuar como locutor de grandes eventos. Em função do meu conhecimento em Geopolítica, os países e o esporte, participei de um processo seletivo para a Rio 2016 e serei locutor em Português-Brasileiro nos Jogos Olímpicos, no Rugby Sevens, Pentatlo Moderno e Rugby em Cadeira de Rodas.

Como aconteceu o contato para compor a equipe dos jogos no Brasil?

Como eu disse antes, trabalho como comunicação. Sou comentarista de rugby nos canais ESPN e tenho um podcast semanal sobre rugby. Trabalhei na Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) entre 2009 e 2013, como Gerente das Seleções do Brasil. A CBRu me indicou para a Rio 2016, que me chamou para um processo seletivo como locutor. Passei no primeiro, em que tinha que falar umas frases em quantos idiomas eu conseguisse. A segunda fase foi o evento-teste, no início deste ano. Deu tudo certo e estou muito feliz em fazer parte de uma equipe “Olímpica”.

É comum ter internacionalistas trabalhando no Comitê Olímpico? 

É muito comum! Tenho vários colegas no comitê Rio 2016 que são contemporâneos de RI. É um dos profissionais mais buscados, ao lado de Administradores, Bacharéis em Esporte e Ciências Sociais. Vejo muita gente de RI no Rio 2016 e eu tenho certeza que com o crescimento da indústria do esporte no Brasil, o profissional de RI terá ainda mais espaço neste mercado.

Poderia nos contar sua trajetória profissional?

Me formei no final de 2005 e morei pouco mais de seis meses no Rio de Janeiro, quando fiz estágio na Federação de Futebol do Rio. No fim de 2006 fui para Portugal cursar Mestrado em Gestão do Esporte (Universidade de Lisboa). Lá trabalhei na área de Sports Marketing na adidas e na Football Corner (rede de lojas de artigos de futebol em Portugal). No final do Mestrado, pedi demissão, apresentei minha tese e voltei ao Brasil. Com o título de Mestre passei a dar aulas de gestão do esporte no extinto “Instituto Wanderley Luxemburgo”. De lá, trabalhei com Logística Esportiva na MAGLITUR, agência que assessorava equipes de futebol que faziam jogos fora do país. Trabalhei com Corinthians, Botafogo e Cruzeiro, nas Copas Libertadores e Sul-Americana de 2009 e 2010. Em 2009 passei a fazer parte, como voluntário, da Confederação Brasileira de Rugby, na área de comunicação. Em 2010 fui efetivado e convidaram-me para ser Gerente das Seleções Nacionais. Foi um grande desafio, começar um trabalho do zero, literalmente, com o esporte que eu amo. Em 2011 fui convidado para comentar um jogo no BandSports. Gostaram da atuação e sugeriram para que eu investisse na carreira de locutor, radialista, apresentador. Fui atrás e desde 2013 me dedico à comunicação e ao Doutorado na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP).

Como foi sua experiência na seleção brasileira de Rugby?

Em 2009 eu vi uma notícia de que uma nova diretoria assumia a antiga ABR (Associação Brasileira de Rugby). A notícia deixava um e-mail de contato para quem desejasse ajudar de alguma forma. Sem quaisquer esperanças de uma resposta, escrevi oferecendo ajuda, eu havia acabado de voltar ao Brasil. Responderam-me e dois dias depois fui conhecer o grupo que estava assumindo o rugby brasileiro. Eram pessoas do mercado financeiro e tive muita sorte de a equipe ser extremamente competente e trabalhadora. Comecei como voluntário na parte de Comunicação (vocês conhecem ou se lembram das campanhas da Topper sobre o rugby?), depois fui efetivado e o trabalho chamou a atenção do pessoal do Alto-Rendimento, que me convidou para ser gerente das seleções do Brasil. Isso foi em 2010. Aceitei e foi um grande trabalho. Muito puxado porque tínhamos que começar tudo do zero. O rugby de rendimento era inexistente naquela época. E por isso comecei meu envolvimento intenso com rugby do Brasil e do mundo.

Em 2011 fizemos um belo trabalho de parceria com a União de Rugby da Província de Canterbury (Christchurch/Nova Zelândia), uma das mais bem-sucedidas daquele País, em que o rugby é esporte número um. Ali a minha formação em RI foi muito útil.

Também em 2011 fui procurado pelo Itamaraty (MRE) e ajudei nos projetos de esportes das recém-estabelecidas Embaixadas das Ilhas Fiji, em Brasília; e do Brasil, em Suva. O Rugby nas Ilhas Fiji é também o esporte principal e é nele que repousa a única esperança de medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A medalha nos Jogos Olímpicos é uma das maneiras mais eficientes e eficazes de um País manifestar-se no mundo e ser reconhecido pela opinião pública mundial.

Paralelamente, fazia meu trabalho com rádio e TV e também dava aulas de Gestão do Esporte em cursos de Pós-Graduação. Fiquei com a Seleção Brasileira até 2013.

Você tem uma vida profissional cheia. É professor, comentarista, escreve para sites, faz partes de instituições, como GEPECOM e Abragesp, e ainda toca alguns projetos paralelos, como o Rugby Club. Poderia nos contar um pouco da sua rotina? Como lidar com tantas atividades?

Eu trabalho com rádio e TV, dou aulas em cursos de pós-graduação, estou envolvido com a pesquisa na EEFE-USP (GEPECOM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Comunicação e Marketing no Esporte), sou Vice-Presidente da ABRAGESP (Associação Brasileira de Gestão do Esporte) e estou envolvido com os Jogos Olímpicos Rio 2016. É bastante coisa, mas em todos os lugares a equipe é bem integrada, as funções são delegadas e tenho conseguido lidar com as atividades. Quem sou eu para dizer algo, mas acredito que passa pela questão de se ter uma boa equipe, com boas pessoas, sobretudo. Saber definir prioridades e delegar funções.

Por conta de suas atividades, você precisa fazer muitas viagens internacionais?

Já precisei mais. No ano de 2012 eu passei 205 dias fora do Brasil devido às atividades com as seleções brasileiras de rugby. Ainda hoje eu faço –  eventos esportivos, e congressos acontecem pelo mundo todo e eu gosto disso -, mas não no ritmo como era antes.

Quais conselhos você daria aos analistas internacionais que estão começando a vida profissional?

O começo pode ser bem difícil. Mas acredite em você mesmo, naquilo que te motiva e vá para os seus sonhos. Mas vá, vá com tudo, sem ser 30, 50 ou 80%. Que seja 100% para mais. Passe o que tiver que passar, “dá a cara toda para as tapas”. Se especialize, se atualize, conheça pessoas, estabeleça relacionamentos e trabalhe muito.

Pela sua experiência, como você analisa o mercado de trabalho nas Relações Internacionais?

Bem melhor do que há 10 anos. O Brasil e a América do Sul estão muito mais inseridos em um contexto global, o que demanda mais profissionais de RI. Entretanto o profissional deve buscar uma atualização (Mestrado, Especialização, MBA) para aumentar suas próprias oportunidades. 

Foto publicada na Fanpage oficial de Virgílio durante partida de Rugby no dia 08 de agosto de 2016.

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