“(…) o Analista Internacional é capaz de enxergar o contexto geral das situações, interpretar cenários e tomar decisões em esfera micro, consciente da perspectiva macro. E esta habilidade é muito valorizada pelo mercado, principalmente em empresas multinacionais ou instituições que praticam relações internacionais em qualquer de suas facetas.”
Graduado em Relações Internacionais pela PUC-MG, Arthur Nigri iniciou sua jornada em 2009 como profissional Assistente de Relações Internacionais no Município de Belo Horizonte. Em 2010 atuou como Assistente de Relações Internacionais no Estado de Minas Gerais e como Business Development na empresa Eloquent Words. Desde então, trabalha há 7 anos na empresa Biominas Brasil, ocupando o cargo de Diretor de Negócios há mais de um ano.
Com uma vasta experiência e uma carreira brilhante, tendo atuado no setor público e privado, Arthur nos contou um pouco da sua trajetória profissional e compartilhou dicas valiosas aos futuros internacionalistas.
Confira abaixo a entrevista completa:
O que o motivou a escolher o curso de Relações Internacionais?
Definir o caminho a trilhar profissionalmente não é algo simples, ainda mais quando se é tão jovem (em média 17-18 anos) e praticamente sem ter tido nenhum contato prévio com a atuação prática de cada curso.
Por ser filho de médicos, cursar medicina parecia uma escolha natural e esperada por todos. No entanto, relutei quanto a esta possibilidade, por não sentir vocação para “salvar vidas” e por conhecer de perto a desgastante rotina desta profissão: estar 24h disponível para os pacientes e aturar longos plantões médicos virando a madrugada.
Diante disto, busquei orientação vocacional junto a um profissional credenciado, cujo resultado me direcionou para a área de humanas. A partir disto, pesquisei informações e assisti palestras sobre os cursos desta área, dentre os quais o de Relações Internacionais, que até então eu não conhecia.
Tendo em vista que desde a infância tive grande interesse por outras culturas e afinidade com idiomas, me identifiquei prontamente com o curso de RI, ainda que as suas possibilidades profissionais (para além da diplomacia) não me estivessem tão claras à época.
A minha decisão de cursar RI, ao invés de medicina, foi muito criticada e questionada por meus familiares. Não obstante, o sucesso obtido na carreira e a minha paixão com a profissão de RI comprovou a todos que minha decisão foi acertada.
Suas primeiras experiências profissionais foram como Assistente de Relações Internacionais no Município de Belo Horizonte e posteriormente atuou no Governo do Estado de Minas Gerais. Nesse período, quais atividades desenvolveu que julga terem sido fundamentais para a sua trajetória profissional?
Durante minha atuação como Assistente de Relações Internacionais na então Secretaria Adjunta de Relações Internacionais da Prefeitura de Belo Horizonte (SMARI/PBH), apoiei ações de cooperação internacional descentralizada, atração de investimentos e promoção comercial do Município de Belo Horizonte. Acompanhei também a organização de missões comerciais e a produção de eventos internacionais como o XVII Congresso do CIDEU (2010) e a XV Cúpula da Rede Mercocidades (2010).
Os conhecimentos e expertises adquiridos na SMARI/PBH, me credenciaram para o posto de Assistente Internacional na Assessoria de Parcerias Nacionais e Internacionais da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (APNI/SECTES). Nesta oportunidade, pude atuar em ações de prospecção de novas parcerias, construção de convênios em Ciência e Tecnologia (C&T) para cooperação entre instituições do Estado de Minas Gerais e instituições estrangeiras. Apoiei também a organização de missões técnicas e científicas no exterior, além da produção do evento internacional 6ª INOVATEC (2010).
Em ambas passagens profissionais, a experiência obtida com a organização de eventos internacionais de negócios e o contato com as temáticas de inovação e C&T, foram de suma importância para o meu ingresso e carreira na Biominas, instituição na qual trabalho há mais 7 anos e atualmente ocupo o cargo de Diretor de Negócios.
Você desenvolveu uma trajetória profissional brilhante na empresa em que se encontra atualmente. São sete anos galgando novos cargos. Em que sua formação em Relações Internacionais contribuiu para esse crescimento profissional? Existem outros fatores que julga serem importantes nessa ascensão?
Ingressei na Biominas como Analista de Relações com o Mercado, cargo que me foi conferido em grande medida pela capacidade de análise crítica que desenvolvi ao longo do curso de RI.
Da mesma maneira, a formação multidisciplinar que obtive no curso, com disciplinas perpassando áreas da economia, administração, direito, ciências sociais, ciência política, sociologia, filosofia e inclusive marketing, me permitiu progredir à posição de Coordenador de Marketing & Comunicação da Biominas, área esta que até então não passava pela minha cabeça ser possível um Analista Internacional atuar.
Para chegar ao posto de Gerente de Relacionamento, acredito que o fator preponderante foi a rede de contatos estratégicos que cultivei ao longo da minha formação acadêmica e carreira profissional. Minha capacidade de transitar com facilidade por distintos ambientes e grupos, me possibilitaram construir uma extensa rede de relacionamentos interpessoais, através da qual consigo identificar e acessar oportunidades comerciais ou de colaboração para a empresa em que trabalho.
Já para assumir a posição de Diretor de Negócios, os conhecimentos adquiridos no curso de RI sobre “Metodologias” foram de grande relevância, afinal os aspectos metodológicos utilizados na esfera acadêmica também servem como método-base à gestão e execução de projetos. E isto se faz ainda mais aplicável no caso da gestão de projetos de inovação tecnológica, atividade esta que tenho como uma das atribuições no âmbito do meu cargo atual.
Por fim, uma característica típica do profissional de RI que acredito ter sido fundamental em minha carreira, é ser um generalista. Em outras palavras, o Analista Internacional é capaz de enxergar o contexto geral das situações, interpretar cenários e tomar decisões em esfera micro, consciente da perspectiva macro. E esta habilidade é muito valorizada pelo mercado,principalmente em empresas multinacionais ou instituições que praticam relações internacionais em qualquer de suas facetas.
Você teve experiência tanto no setor público como no privado. De acordo com as suas experiências, como você julga as vantagens e desvantagens das esferas pública e privada para um Analista Internacional atuar?
A natureza do setor público é muito diferente do setor privado. A lógica de trabalho, o jeito de se pensar as ações e as relações se dão de outra forma. Se por um lado temos um setor privado muito mais orientado à solução, com foco em inovação e grande capacidade de se adaptar aos desafios, por outro o setor público conta com um alcance bem maior (usufruindo da chamada “máquina pública”) e grande capacidade de impacto. Portanto, os desafios para garantir a eficiência, o desempenho no trabalho e o retorno à sociedade são diferentes nestes setores.
Para um profissional de RI, o setor público traz como grande diferencial positivo a possibilidade de atuar na essência das relações internacionais, que é a diplomacia/cooperação entre entes governamentais de países distintos, seja na esfera municipal, estadual ou federal.
No entanto, trabalhar no setor público normalmente vem com inúmeros desafios: condições precárias de trabalho, com escassez de materiais/equipamentos e de pessoal, burocracia exagerada e lentidão de processos. Muitas vezes se faz necessário lidar com nepotismo, apadrinhamento político e hierarquia excessiva. De forma que, em muitas ocasiões, o fator “política” prevalece na tomada de decisões, em detrimento de escolhas mais lógicas e produtivas para o projeto ou a instituição.
Ademais, o setor público é marcado por instabilidade tanto nos órgãos/instituições, quanto nos projetos. Em períodos de transição da gestão pública, boa parte das equipes são trocadas e os projetos descontinuados. Em outras palavras, os gestores públicos de procedência política criam apenas programas de governo, que mudam a cada quatro anos, e não projetos de Estado.
O setor privado, por sua vez, costuma apresentar melhor infraestrutura para se trabalhar, flexibilidade hierárquica, permitindo maior autonomia aos funcionários, e menor burocracia, garantindo mais simplicidade e velocidade a processos.
Não obstante, o fato de o setor privado focar primordialmente a geração de resultados financeiros e a viabilidade econômica dos projetos, pode ser um fator de frustração para aqueles Analistas Internacionais mais idealistas e com uma maior consciência social. Felizmente esta característica do setor privado vem evoluindo com o avanço da ideologia do capitalismo consciente.
Como Analista Internacional, quais foram as suas maiores dificuldades com relação ao mercado de trabalho? – Como fez para superar essa dificuldade?
As possibilidades de atuação de um Analista Internacional são diversas, justamente pelo fato de ser um profissional bastante completo, com habilidades analíticas dificilmente encontradas em profissionais com outra formação. E esta variedade de possibilidades pode na verdade resultar em uma dificuldade de o profissional encontrar a área que mais se identifica, principalmente considerando que os cursos de RI não abordam/exploram de forma prática a maior parte das oportunidades de carreira que um Analista Internacional pode seguir.
Este inclusive foi o meu caso, já que a minha carreira profissional foi trilhada a partir de oportunidades, que me direcionaram para áreas de atuação muito interessantes, porém pouco divulgadas aos profissionais de RI: cooperação internacional descentralizada, organização de eventos internacionais, marketing internacional, gestão da inovação (inclusive transferência de tecnologias e captação de investimentos internacionais para startups), etc.
Outro desafio comumente enfrentado pelo Analista Internacional é o fato de, apesar de conseguir se encaixar em diversas atividades nas mais variadas áreas, o profissional de RI não sai da graduação com uma função específica, como ocorre com engenheiros, médicos, etc. Consequentemente, o mercado de trabalho também não sabe exatamente o que um Analista Internacional faz. E esta falta de conhecimento da maior parte dos empregadores acerca da área de Relações Internacionais e das habilidades deste profissional é um grande dificultador no momento de uma contratação. Não obstante, nos últimos anos é possível perceber que algumas empresas/setores vêm descobrindo e explorando o potencial dos profissionais de RI.
Você possui a habilidade falar quatro idiomas: Português, Inglês, Espanhol e Francês. Em sua vida profissional quais desses idiomas possui maior relevância?
O inglês é certamente o idioma de maior relevância para a minha vida profissional. Falar inglês deixou de ser um diferencial e passou a ser uma obrigação, em especial para o profissional de RI, por ser o idioma padrão para negócios e interações internacionais.
Já no próprio curso de RI, o domínio deste idioma me foi fundamental para a plena compreensão e absorção das leituras acadêmicas. E o mesmo pode ser dito em relação aos cursos de extensão/atualização que fiz posteriormente e ao MBA em Gestão da Inovação que estou cursando atualmente.
Ainda durante a época da graduação, a fluência em inglês me possibilitou trabalhar como intérprete em inúmeros eventos internacionais, acompanhando empresários em feiras e intermediando rodadas de negócios.
E em toda a minha carreira profissional, o idioma inglês vem sendo uma ferramenta de trabalho primordial. Afinal, no âmbito das minhas diversas colocações profissionais, o componente “internacional” sempre esteve presente e requereu o domínio do inglês, em especial nas seguintes atividades: análise de mercados, prospecção e negociação com clientes, gerenciamento e execução de projetos, captação de recursos, relações governamentais/institucionais, acompanhamento de parcerias e produção de eventos corporativos.
No mais, em determinados momentos da minha carreira, o francês e o espanhol também tiveram grande importância. À época em que eu trabalhava na SMARI/PBH, o espanhol foi necessário para execução de projetos e eventos da Rede Mercocidades e do Centro Ibero-Americano de Desenvolvimento Estratégico Urbano (CIDEU). Da mesma forma, mais recentemente tenho utilizado o espanhol com frequência na Biominas para execução de projetos do Mercosul (como o Econormas e o Biotecsur/BIOTECH II) e organização do evento BIO Latin America Conference.
Já o francês foi muito útil durante minha passagem profissional na APNI/SECTES, tendo em visto a forte parceria e projetos do Estado de Minas Gerais com a região de Nord-Pas de Calais na França.
Portanto, acredito ser de grande importância que todo profissional busque aprimorar suas habilidades em outras línguas. Afinal, com a crescente presença de empresas multinacionais no Brasil, existem inúmeras oportunidades de trabalho que exigem o domínio de outros idiomas ou que no mínimo consideram isto um diferencial. Sem contar o fato de o conhecimento de outras línguas possibilitar a candidatura para bolsas de estudo e vagas de trabalho no exterior.
Você possui certificado de Proficiência na Língua Inglesa. A busca desta certificação foi devido a alguma exigência do mercado de trabalho ou devido os cargos que já ocupou? Em que período da sua jornada profissional adquiriu essa certificação?
Ao final do ensino médio, cogitei aplicar para universidades no exterior (em especial nos EUA) e, para tanto, precisei obter o certificado do TOEFL àquela época. No entanto, o certificado do TOEFL possui validade apenas de 2 anos e, passado este período, achei interessante buscar uma certificação sem prazo de validade (Certificate of Proficiency in English – Cambridge) pelos seguintes motivos:
- O curso de Relações Internacionais da PUC-Minas exige a comprovação de domínio do idioma inglês para concluir a graduação. Esta comprovação pode ser feita apresentando um certificado reconhecido no mercado ou fazendo uma prova de proficiência da própria universidade.
- Durante a graduação, eu busquei fazer um intercâmbio universitário através de programas de cooperação internacional da própria PUC-Minas, o que também exigia o domínio do idioma inglês para a maior parte dos destinos. Acabei fazendo intercâmbio na França, que exigia domínio tanto o inglês quanto do francês.
- Para fins de currículo profissional, quando se possui o certificado de domínio de um determinado idioma, o mercado consegue ter segurança em relação à habilidade do candidato naquele idioma. E como o inglês é um idioma essencial para praticamente toda oportunidade profissional nos dias de hoje, optei por obter a certificação e trazê-la em meu currículo.
Se pudesse dar alguma dica aos futuros analistas internacionais que desejam seguir a sua carreira, qual seria?
Sugiro buscarem, desde o início da graduação, obter experiências profissionais nas mais variadas áreas de atuação. Um Analista Internacional pode trabalhar em diversos setores que não necessariamente estão ligadas às Relações Internacionais. Muitas vezes, as circunstâncias da vida podem conduzir o estudante/profissional para caminhos e oportunidades em áreas a priori pouco sinérgicas com RI, mas que podem trazer resultados e descobertas inesperadas.
Ademais, futuros Analistas Internacionais devem procurar investir, cultivar e ampliar seus relacionamentos interpessoais, sua rede de contatos. Networking é sempre importante em qualquer segmento profissional, podendo abrir muitas portas e oportunidades.
Por fim, aconselho se dedicarem ao autoconhecimento, a partir do qual ficará mais fácil identificar qual caminho seguir para alcançar seus objetivos. Da mesma forma, recomendo aprimorar e reciclar constantemente seus conhecimentos, em especial na área em que optar por atuar. O mundo em que vivemos hoje é extremamente dinâmico e competitivo, requerendo profissionais cada vez mais atualizados e diferenciados.