AS 8 DICAS MAIS IMPORTANTES PARA COMEÇAR A TRABALHAR EM ORGANISMOS INTERNACIONAIS

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Por Analice Martins

Trabalhar em uma organização internacional é o sonho de muitos analistas internacionais. O caminho para alcançar esse objetivo pode ser longo, mas não é impossível. O candidato deve saber bem onde buscar vagas, como aplicar a elas e, principalmente, como se portar nas entrevistas.

Por isso, listei abaixo as 8 dicas que considero mais importantes para quem, como eu, sempre teve como objetivo trabalhar em uma OI. Vamos lá?

1 – Como devo iniciar a busca de vagas de trabalho em Organismos Internacionais?

Existem diversos tipos de organizações internacionais: ONGs Internacionais como a Cruz Vermelha, Médicos sem Fronteiras, Greenpeace, Plan International; Organizações Intergovernamentais como a ONU, OCDE; e as Organizações de Integração Regional como a União Europeia, a União Africana, Mercosul; e Bancos Internacionais como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o mais recente Banco dos BRICs.

A primeira coisa que se deve fazer é selecionar as organizações que se encaixam no perfil e na área de interesse e experiência do candidato. Alguns sites auxiliam nessa busca, pois é possível filtrar por área de atuação, nível de experiência e até local de trabalho. Os sites mais populares e que eu mais utilizo são:

  1. careers.un.org
  2. jobs.undp.org
  3. unjobs.org
  4. unops.org
  5. devex.com
  6. reliefweb.int/
  7. unjobfinder.org/
  8. idealist.org/
  9. developmentaid.org/
  10. devnetjobs.org/
  11. oneworld.org/jobs
  12. icrc.org/
  13. ifrc.org/
  14. jobs.guardian.co.uk

ACESSE AS VAGAS EM ORGANISMOS INTERNACIONAIS SELECIONADAS PELO WHO’S REL?

2 – Como são os processos seletivos em Organismos Internacionais?

Os processos seletivos na maioria dos organismos internacionais são compostos por ao menos três fases: 1) Análise do CV, carta de motivação e referências; 2) Teste escrito e 3) Entrevista pessoal, por telefone ou Skype. A primeira fase é a mais importante de todas, pois é onde muitos candidatos são eliminados. A primeira dica é só aplicar para vagas nas quais se tenha a experiência e perfil requeridos. A tática de se “atirar para todos os lados” não funciona, uma vez que estamos falando de vagas muito concorridas que exigem dedicação e tempo. O CV e a carta de motivação terão de ser ajustados para cada vaga. Os recrutadores gastam em média de 3-5 segundos analisando os CVs dos candidatos. Por isso, as informações mais relevantes para a vaga em questão precisam estar em destaque!

O mesmo serve para a carta de motivação: ela precisa ser concisa (no máximo uma página do Word) e original. Evite clichês! Esse é o seu momento de usar a criatividade para poder se destacar. Não repita experiências que já estão no seu CV ou descritas em outras partes da application (no caso da ONU, no site Inspira o candidato preenche o chamado PHP – Personal History Profile). Pense em um caso de sucesso que comprove suas competências conforme o que se espera do candidato na descrição da vaga ou TOR (Terms of Reference). Use verbos de ação quando descrevendo a situação, diga “eu gerenciei”, “eu organizei”. Dedique ao menos duas linhas para dizer como a vaga em questão te ajudará a desenvolver seus planos de carreira. Diga também porque você tem interesse em trabalhar naquela organização. Não diga coisas ingênuas do tipo “esse é meu sonho”, ou “eu quero salvar o mundo”, “quero ajudar pessoas na África”. Realmente, a maioria das pessoas que buscam trabalho na área de desenvolvimento e Direitos Humanos são idealistas, mas ser idealista ou querer salvar o mundo não vai te dar um trabalho! Demonstre simpatia nas palavras. Termine desejando um ótimo dia ao leitor de sua carta e SEMPRE tente encontrar o nome do responsável pela vaga ou um futuro colega. No caso da ONU encontrar nomes fica particularmente difícil, mas outras organizações normalmente disponibilizam o gerente ou “Head” dos diferentes departamentos. Outra dica é tentar conectar com essas através do Linkedin.

Caso seu perfil seja selecionado você será avisado sobre o dia e horário do teste. Nem sempre fica claro o que será exigido de você. Empresas privadas costumam pedir testes online de lógica, personalidade e competência textual. Na ONU, os testes que realizei eram bem específicos sobre o tipo de trabalho que eu desenvolveria. Em um deles tive apenas 60 minutos para preparar uma apresentação de Power Point para um doador fictício sobre um projeto de reestruturação urbana no Sudão do Sul. Em outro teste tive 90 minutos para ler um texto bem técnico e “traduzi-lo” para uma linguagem mais acessível a ser publicado em um boletim ou blog. Durma bem um dia antes do teste, encontre um local silencioso e com boa conexão de internet, desligue o celular e tenha água, comida leve perto de você. Todo o minuto conta e você não terá uma segunda chance de se sair bem!

A terceira fase é a entrevista, que explicarei na pergunta abaixo.


3 – Como são as entrevistas da fase final?

As entrevistas podem ser pessoais, por telefone ou Skype. Normalmente são agendadas com 3-5 dias de antecedência e não costumam durar mais que 20-30 minutos. É cada vez mais comum se ter um painel de entrevistadores composto por 2 ou 3 pessoas. É uma forma mais justa de avaliação e dificulta assédios. No painel estão normalmente presentes o futuro supervisor, uma pessoa do RH (ou especialista da área, para cargos de direção) e futuros colegas de trabalho. Todos os membros do painel fazem anotações das respostas dos candidatos que são depois analisadas e discutidas entre eles. Consenso determina quem será o escolhido.

Existem algumas perguntas básicas que os entrevistadores fazem e que muitos candidatos não pensam muito bem antes de responder.

Por exemplo, a pergunta “fale sobre você”. Parece simples, mas é determinante para criar uma boa impressão ou minar sua entrevista! Primeiramente, suas respostas devem seguir uma linha de raciocínio, serem breves e você deve tentar manter um tom de voz e velocidade mediano (sem falar nem muito alto, nem baixo, nem muito rápido nem muito devagar). “Falar sobre você” não significa falar sobre sua vida privada. Limite-se a falar sobre sua formação, experiência de trabalho, nacionalidade e idiomas falados. Como você terá cerca de 1 minuto, foque sempre nas informações relevantes para a vaga em questão. Outra pergunta muito comum é “como essa oportunidade contribuirá para o desenvolvimento de sua carreira?” ou “por que você está interessado em trabalhar conosco?”. Muitos candidatos do tipo “atirador” se dão mal aqui, pois não têm uma vontade genuína de fazer parte da organização. Prepare-se para essa pergunta e destaque pontos positivos em sua personalidade ou carreira que irão contribuir para a organização e por que eles deveriam contratar você. Outra pergunta muito comum é “você tem alguma pergunta para nos fazer?” Dizer não é decepcionante para os recrutadores! Pense em uma ou duas perguntas interessantes e não óbvias para se fazer. Vasculhe o site, leia sobre o projeto que irá fazer parte e encontre alguma coisa que não está clara ali. Isso demonstra que você “estudou” a organização antes da entrevista.

Na ONU há uma abordagem de entrevista chamada competency based interview. Porém, mesmo os candidatos a outras organizações deveriam treinar para esse tipo de entrevista. Nela, o candidato é “testado” de acordo com as habilidades e competências pedidas na descrição da vaga.  Assim, as respostas devem ser objetivas e demonstrar claramente a habilidade exigida. Explicarei melhor abaixo.

4 – Prepare-se para se sair bem na entrevista

A primeira dica para se sair bem é estar descansado e bem-disposto no momento da entrevista. Outra dica importante durante a preparação é simular uma entrevista com um amigo ou parente. Se não for possível, grave a si mesmo respondendo a algumas perguntas e depois ouça e avalie como se saiu: o tom e velocidade da sua voz, sua pronúncia (se estiver sendo entrevistado em outro idioma), seu raciocínio (eventos seguindo uma lógica cronológica) e o tempo que gastou com cada pergunta.

5- Como devo abordar minhas competências na entrevista?

Quando os entrevistadores perguntam sobre sua experiência em determinada área, eles estão interessados em toda e qualquer experiência relevante na área! Por exemplo, fui questionada uma vez sobre minha experiência com edição de vídeos. Eu nunca trabalhei com edição de vídeos, mas tenho o meu próprio canal do YouTube e faço as edições no iMovie. Esse foi o exemplo que contei aos entrevistadores! Por isso, leia com atenção e identifique quais as principais competências e habilidades que estão sendo demandadas na vaga. Em seguida, escreva “histórias” baseadas em experiências prévias que ilustrem suas competências em determinada situação real que você já viveu. As histórias devem seguir uma lógica chamada CAR (challenge – action – result). Qual era o problema ou desafio que você precisou resolver? Qual foi a ação que você tomou? Qual foi o resultado dessa ação? Por exemplo: Eu havia identificado um problema – não havia nenhum canal do YouTube dedicado a questões de relações internacionais em português. Eu tomei a ação de criar um canal próprio onde eu dividira minhas experiências com outras pessoas da área. O resultado está sendo um número crescente de inscritos no canal e mensagens diárias de apoio e dúvidas! Essa é uma história de uma experiência “pessoal” que ilustra minhas habilidades na área de comunicação e, no caso, edição de vídeos. Portanto, mesmo pessoas com pouca ou nenhuma experiência profissional ainda assim têm algo a agregar e compartilhar na hora da entrevista!

6- Use sempre verbos de ação

Uma dica muito importante é sempre utilizar verbos (positivos) de ação! Tanto no CV, na carta de motivação e principalmente na entrevista. Eles demonstram as suas realizações, as atividades nas quais você executou alguma ou várias ações que tiveram um resultado positivo. Pense, repense! O que você já “entregou” de positivo? Um relatório sobre novos e possíveis mercados na empresa que trabalhou? Um artigo que foi publicado na revista da universidade? Uma apresentação num simpósio de iniciação cientifica? Organizou um evento? O verbo de ação demonstra o resultado da sua participação em certa atividade e como você agregou valor em determinada organização ou iniciativa.

7 – Pesquise sobre a OI e o cargo pretendido

Nunca, jamais se inscreva para uma vaga sem ter pesquisado sobre a organização e função a ser executada. Você perderá tempo, pois não conseguirá direcionar seu CV e carta para o que os recrutadores procuram. Palavras-chave são essenciais. Há algumas palavras que precisam estar presentes na sua carta e CV dependendo da vaga pretendida. Por exemplo, se você pretende trabalhar com contabilidade, as palavras “orçamento”, “fundos”, “gestão de recursos”, “balanço” vão naturalmente aparecer no seu CV e na sua carta. Também se espera que, no caso, seu perfil seja de uma pessoa organizada, disciplinada e com um forte raciocínio lógico. Também é crucial que se vasculhe o site e Mídias Sociais da organização! Procure saber sobre prêmios e reconhecimentos que a empresa já ganhou, o seu orçamento anual, as principais iniciativas (principalmente na área desejada). Quando você estiver fazendo essa pesquisa é o momento de se criar as perguntas para os seus entrevistadores!

8 – Tenha uma boa conduta durante a entrevista 

Sorria! Mesmo que a entrevista seja por telefone ou Skype sem câmera, sorria! O sorriso é identificado no tom da sua voz! Comece perguntando como as pessoas estão e diga que é um prazer conhecê-las. Peça para que repitam a pergunta caso não entenda o que foi perguntado, não tenha vergonha de pedir esclarecimentos! Se a entrevista for pessoalmente, a preparação ainda é maior. Nunca, jamais se atrase! Escolha roupas de cor sóbria (cinza, marrom, preto, branco, bege). Roupas bem passadas e limpas. Unhas e maquiagem com cores claras. Saia ou vestido abaixo do joelho e sem decotes. Utilize joias e relógios discretos. Homens devem usar camisa, blazer e calça social. Gravata pode ser dispensada dependendo do tipo de organização. Leve seu CV impresso e um bloco de notas caso precise fazer alguma anotação. Sempre olhe nos olhos dos entrevistadores, dê um aperto de mão firme e sorria! Seja positivo em suas respostas. Não conte tragédias! Tome água entre uma pergunta e outra, isso irá te acalmar e melhorar sua voz. Desligue o celular. Coma algo leve no dia da entrevista e durma bem. Fique calmo! Acredite que você tem potencial e que se não for escolhido desta vez, será de uma próxima! Nunca, nunca desista dos seus sonhos e nunca duvide de suas competências. Muita, muita boa sorte!!!

 

Analice Martins é bacharel em Relações Internacionais pela FECAP (SP), possuí especialização em Administração de Empresas e Gestão Ambiental (MBA) pela FGV (SP) e recentemente concluiu um programa de Master em Ciências Ambientais, Comunicação e Política na Universidade de Södertörns em Estocolmo, Suécia. Já fez parte do programa de estágio da ONU em Nairóbi, Quênia (UN-Habitat). Atualmente trabalha como Communications Assistant no International Policy Centre for Inclusive Growth, do PNUD. É também criadora do canal “Internacionalidades” do YouTubeAcesse a fanpage do Internacionalisdades.

 

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Jornalista e analista internacional apaixonado por Mountain Bike. Trabalha com Relações Internacionais e é Editor de Conteúdo do What’s Rel?

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