“Todo mundo já viu aquela clássica cena de Tropa de Elite quando o Capitão Nascimento repete a palavra “estratégia” em diferentes idiomas, né? Pois então, ele não estava enganado sobre a importância do termo! Estratégia é essencial para fundamentar qualquer projeto a longo prazo. A área de Inteligência de Mercado carrega consigo a responsabilidade de tornar os processos das empresas mais estratégicos, assertivos e analíticos, para dessa forma conseguir elevar os seus resultados.”
Laura é formada em Relações Internacionais com ênfase em Marketing e Negócios e possui vasta experiência em Inteligência de Mercado, área na qual atuou no Brasil e na Índia. Com ampla vivência no mercado de trabalho, ela nos contou sobre sua trajetória e deu dicas aos futuros internacionalistas.
Confira abaixo a entrevista completa:
1. O que a motivou a escolher o curso de Relações Internacionais com ênfase em Marketing e Negócios?
Antes de pensar em Relações Internacionais como opção de curso, eu tinha certo que eu cursaria Jornalismo. O que mais me encantava dentro da área eram os repórteres que viviam em outros países para fazer reportagens sobre outras realidades, transmitir ao vivo eventos internacionais ou até mesmo conflitos – isso fazia o meu olho brilhar! Eu assistia quase 24h canais de televisão que passam notícias internacionais o tempo todo.
Com o tempo, obtive mais contato com a profissão de RI – que na época ainda não era muito divulgada. Aprendi que ela tinha tudo a ver com que eu sempre quis: viver outras culturas e poder representar meu país por onde eu trabalhasse. Com o foco nos negócios, vi que esse poderia ser um viés muito interessante a ser trabalhado e, aos poucos, fui me apaixonando pelas relações internacionais.
2. Atualmente você trabalha na área de Inteligência de Mercado na multinacional Laureate International Universities. Seria possível nos explicar sobre essa área de atuação para conhecermos melhor? Conte um pouco sobre sua rotina, responsabilidades profissionais e principais atividades desenvolvidas.
A área de Inteligência de Mercado está ligada diretamente com as estratégias que visam melhorar os resultados da empresa e auxiliar no processo de tomada de decisão. Com isso, a área é responsável pelo monitoramento do mercado (dentro disso concorrência, tendências, etc.), análise dos indicadores e planejamento de estratégias comerciais.
Mais detalhadamente, em minha rotina sempre estiveram presentes: análise de mercado, análise da concorrência, planejamento de estratégias (de acordo com as análises anteriores e sazonalidade) e acompanhamento dos indicadores de desempenho.
3. Quais impactos você acredita que a área de Inteligência de Mercado possui no mundo profissional?
Todo mundo já viu aquela clássica cena de Tropa de Elite quando o Capitão Nascimento repete a palavra “estratégia” em diferentes idiomas, né? Pois então, ele não estava enganado sobre a importância do termo! Estratégia é essencial para fundamentar qualquer projeto a longo prazo. A área de Inteligência de Mercado carrega consigo a responsabilidade de tornar os processos das empresas mais estratégicos, assertivos e analíticos, para dessa forma conseguir elevar os seus resultados.
4. Enquanto Internacionalista, quais as características você julga importantes de serem desenvolvidas para exercer o cargo de Analista de Inteligência de Mercado?
Um Internacionalista por si só já tem o dom da análise. Já nos é instigado ao longo da graduação analisar os diferentes contextos, estatísticas, situações, indicadores, possibilidades, etc. Aprendemos a ampliar o nosso olhar e, a partir disso, temos muito mais cuidado em nossas análises.
O que ainda assim julgo ser necessário, caso o estudante não tenha cursado uma faculdade com ênfase em Marketing e Negócios, como foi o meu caso, seria o desenvolvimento da experiência no mundo dos negócios – o que é bastante comum por meio das experiências profissionais, até mesmo no estágio.
5. Você foi consultora de projetos de internacionalização na Global Jr., empresa júnior da ESPM-Sul. Em que medida participar de uma empresa júnior influenciou na escolha de sua carreira e como contribuiu para sua formação?
Penso que se eu pudesse dar um conselho para os estudantes que têm a oportunidade de participar da empresa júnior é que façam o quanto antes. Trabalhei na empresa júnior de negócios internacionais da ESPM, então tive a oportunidade logo no primeiro semestre de colocar a mão na massa. Entender o que seria um estudo de mercado, o diferencial que era lidar com um projeto internacional e a internacionalização de empresas.
Posso dizer que a experiência na Global foi fundamental para entender e descobrir mais sobre a profissão e saber o que eu queria seguir. Claro, que ao longo dos anos, vamos aperfeiçoando nossas exigências, gostos e conhecimentos para poder trilhar nossa carreira.
6. Em 2017 você foi para Noida, na Índia, atuar como consultora de inteligência de mercado. Seria possível nos contar um pouco sobre essa experiência? Como é o mercado indiano? Como você lidou com um mercado de trabalho de valores tão diferentes e que impactos esse período teve em sua vida profissional?
Morar e trabalhar na Índia foi único e inesquecível. O mercado indiano tem uma dinâmica bastante diferente da que eu estava acostumada aqui no Brasil e eu não classifico nem como melhor ou pior, mas algumas considerações precisam ser feitas.
Na Índia são pouco mais de 1 bilhão de habitantes, então imaginem o quanto de pessoas trabalhando existem. Ainda assim, as taxas de pobreza, se comparadas com o Brasil, são mais chamativas. Porém, o que sempre me chamou a atenção foi a questão de amigos indianos saírem de um emprego em um dia e em questão de 1 semana já estarem empregados novamente. Essa não é uma realidade brasileira, definitivamente! E isso se confirma nas taxas de desemprego de Brasil e Índia, que são bem diferentes. Brasil está em cerca de 13% e Índia em 5%.
No cotidiano de trabalho vivi com muitas diferenças culturais, dos meus colegas, amigos e chefes, mas aprendi muito. Aprendi e cresci. Entendi o quanto os indianos envolvem questões religiosas em todas as esferas de suas vidas, inclusive no trabalho. Isso foi estranho em um primeiro momento, mas ver o valor que tinha pra eles, me fez aprender a respeitar e valorizar.
Não posso negar que como mulher, estrangeira, eu não deixei de receber olhares de reprovação, porque recebi – e muitos. Principalmente vindos de quem pensei que receberia maior aprovação: das próprias colegas mulheres indianas. Foi uma surpresa, mas com o tempo me acostumei pois, afinal de contas, eu tinha muitos meses pela frente ainda.
Aprendi que precisava me impor – e isso valia desde o motorista do tuktuk ao colega de escritório, porque só assim era possível ganhar respeito. Por outro lado, o indiano gosta muito de fazer negócio e está muito aberto a servir sempre ao cliente e esse é o lado “workaholic” deles, que preciso confessar que gosto bastante.
Por isso, posso dizer que a Índia me impactou tanto pessoal, quanto profissionalmente. Acredito que mais do que os outros podem enxergar a partir da minha experiência lá, é como eu me enxergo com isso: muito corajosa, capaz e mais apaixonada ainda por outras culturas. Por último, um conselho que dou a qualquer um que almeje uma experiência em outro país (principalmente países com culturas tão distantes da nossa): estejam abertos a olhar as outras culturas e costumes sem julgamentos, entendendo que o que estamos acostumados não é necessariamente comum para o outro, principalmente para os que vivem do outro lado do mundo.
7. Além do inglês, você também é proficiente em espanhol. Que importância você atribui ao conhecimento de uma terceira língua dentro de sua área de atuação?
Dentro das Relações Internacionais eu diria que idiomas como inglês e espanhol são regra básica como itens de sobrevivência da profissão. Isso porque mesmo durante a graduação será necessário ter esses conhecimentos para, pelo menos, fazer leituras nos idiomas. Durante a faculdade tive algumas aulas em ambos idiomas.
Porém, é essencial a vivência dessas línguas, porque só isso permitirá a fluência necessária. Após a vivência é preciso seguir praticando. Atualmente, eu pratico todos os dias, pois tenho amigos que falam ambos idiomas e converso quase que diariamente com eles por mensagem, áudio e vídeo.
8. Como Analista de Inteligência de Mercado, quais foram as suas maiores dificuldades com relação ao mercado de trabalho? Como fez para superar essa dificuldade?
A maior dificuldade que enfrentei na profissão foi em 2016, quando após estar quase 2 anos formada, estava afastada do mercado e era difícil retornar. Portanto, o afastamento certamente foi minha maior dificuldade, porque nos coloca em uma posição de limbo. Foi quando tomei duas atitudes: a primeira foi a de realizar o meu intercâmbio profissional na Índia, como relatei anteriormente; a segunda, na volta de minha experiência, estando afastada do mercado brasileiro, foi a busca pela ajuda de um processo de coaching, pelo qual eu pude me reinserir pouco a pouco no contexto do mercado do Brasil e buscar novas oportunidades de acordo com o meu perfil e valores.
9. Dentre suas diversas experiências profissionais, qual você julga ter sido mais enriquecedora?
Acredito que, de verdade, todas as experiências nos acrescentam um pouco, porque auxiliam na nossa formação profissional. Encare como um jogo de etapas, será necessário passar por elas para poder obter o conhecimento que permitirá destravar as próximas fases.
É inevitável deixar de destacar a minha experiência profissional na Índia. No entanto, destaco também minhas experiências trabalhando na Global Jr. e em uma consultoria para negócios internacionais em 2014-15.
10. Para terminar, se pudesse dar alguma dica aos futuros analistas internacionais que desejam seguir a sua carreira, qual seria?
Primeiro conselho que posso dar, independente da carreira que queiram seguir a partir do curso de RI, aproveitem todas as oportunidades que puderem durante a graduação para se conhecerem, entenderem o mercado e as possibilidades da profissão.
Segundo, se você deseja seguir na área de inteligência de mercado, aconselho que desde cedo comece a buscar experiências de estágio neste setor para poder entender, na prática, se você realmente gosta das demandas que são exigidas.
Meu terceiro e último conselho é para nunca deixarem de aprimorar os seus conhecimentos: somos os principais responsáveis pela nossa formação e temos o dever de seguir em busca de mais conhecimento.
Esse post foi produzido com a ajuda da estudante de Relações Internacionais da
UFF e Colaboradora Voluntária Bruna Cabral.