Entrevista com Luiz Humberto Chaem

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Em entrevista exclusiva ao What’s Rel?, analista internacional fala sobre a importância dos estudos de RI para a aplicação de nova tecnologia ambiental no Brasil.

 

Diminuir o consumo de água e aumentar a produtividade das lavouras.  Essa é a proposta da Making The Difference – MTD, empresa mineira que adota conhecimentos de RI para inovar na área ambiental, fundada pelo analista internacional Luiz Humberto Chaem.

Exemplo de empreendedorismo nas Relações Internacionais, a MTD baseou-se nos mais recentes estudos financiados pela União Europeia sobre redução do consumo de água no agronegócio e mitigação dos efeitos do aquecimento global para implementar no Brasil uma nova tecnologia de irrigação inteligente. A tecnologia permite uma gestão completa da irrigação da lavoura, proporcionando economia e aumento produtivo.

Atualmente, o Brasil tem cerca de 6 milhões de hectares irrigados. Desse total, apenas 5% conta com alguma forma de monitoramento e controle. Contudo, o país tem potencial para expandir as terras irrigadas em até 61 milhões de hectares – o equivalente a 10 vezes o tamanho atual, segundo estudo “Análise Territorial para o Desenvolvimento da Agricultura Irrigada”, elaborado pelo Ministério da Integração Nacional.

É nesse cenário de expansão no país que a MTD se insere. Por ser uma empresa de caráter global, o mercado é ainda maior. Estima-se que em todo o mundo, o mercado movimente € 1,7bi, aproximadamente R$ 7,5bi.

Em entrevista exclusiva ao What’s Rel? Luiz Humberto conta como seus estudos em Relações Internacionais foram essenciais para a criação da empresa, fala de sua especialização na área ambiental, explica como surgiu a ideia de criá-la e dá dicas aos analistas internacionais que desejam empreender: “Não é fácil, mas vale muito a pena”.

Luiz, você poderia nos contar sobre a sua trajetória acadêmica? Onde e quais estudos você desenvolveu na área de RI?

Minha trajetória acadêmica teve início em meados de 2004 quando ingressei na PUC Minas no curso de RI. Como o curso é bastante amplo, posteriormente comecei um mestrado na Universidade Webster, em Genebra, na Suíça. No entanto, quando estava completando seis meses de curso, tive a resposta de um outro mestrado que havia aplicado anteriormente, este na Áustria. Como eu tinha interesse de aplicar meus estudos na área ambiental, decidi iniciar nesse novo programa que se chama Environmental Technology and International Affairs, oferecido por duas instituições: Academia Diplomática de Viena (DA) e Universidade de Tecnologia de Viena (TU).

Os seus estudos foram importantes para a criação da sua empresa, a Making The Difference?

Foram de suma importância. Por meio deles eu pude descobrir a tecnologia que hoje é utilizada pela Making The Difference – MTD.

Como nasceu a ideia da empresa?

Surgiu após uma conversa que tive com uma diplomata alemã, quando terminei o 1º ano de mestrado na Academia Diplomática de Viena (DA). Durante as férias, entre o 1º e o 2º ano de mestrado, decidi que faria uma viagem à Amazônia brasileira. Eu havia pesquisado muito sobre desmatamento na região e queria enxergar o problema com meus próprios olhos. No entanto, o que eu vi foi completamente diferente do que eu estudava. No ambiente diplomático muito se falava sobre projetos sustentáveis que têm imensos impactos sobre o desenvolvimento lá. Mas o que eu vi, no geral, foram populações que pouco sabiam a respeito disso, que buscavam se desenvolver da mesma maneira que o sudeste, e que dependiam bastante do agronegócio. Para mim, isso foi extremamente frustrante.

A partir daí, voltei para iniciar o 2º ano, agora na Universidade de Tecnologia de Viena (TU), muito desanimado e decidi conversar com algumas pessoas. Foi nesse momento que a diplomata que citei me falou sobre um projeto dentro da União Europeia que buscava aumentar a produtividade das lavouras através da irrigação inteligente. Eu enxerguei a ideia como uma saída para que produtores do sul/sudeste/centro-oeste decidissem aumentar suas receitas na sua região de origem, e se desinteressassem de ir às fronteiras agrícolas da Amazônia.

Você poderia falar um pouco desse serviço que agora é oferecido no Brasil pela MTD?

A MTD fornece ferramentas para auxiliar produtores rurais a  irrigarem de maneira  inteligente, informando-os ONDE, QUANDO e QUANTO eles devem irrigar.

Mas como é de fato essa nova tecnologia?

Nossa tecnologia utiliza parâmetros climáticos, fisiológicos e do solo, ligados entre si por meio da lógica fuzzy (inteligência artificial), para definir exatamente ONDE, QUANDO e QUANTO irrigar. Funciona de seguinte maneira: equipamentos são instalados no campo, sendo que cada um deles contém três sensores, que são instalados em 3 distintas profundidades. Os sensores captam a umidade do solo, e o equipamento é capaz de transmitir a informação a um servidor que se encontra na “nuvem”. Esse servidor, através de modelos matemáticos, transforma as leituras de umidade recebidas em recomendações de irrigação. Com um smartphone, tablet ou computador, o produtor pode acessá-las a qualquer hora, em qualquer lugar, e assim tomar suas decisões de forma precisa. Logicamente, que temos que alimentar o software com certas informações em um momento anterior à instalação dos equipamentos, tais como localização, dados sobre a composição do solo, e sobre o sistema de irrigação.

E como ela surgiu?

Por meio de estudos acadêmicos financiados pela União Europeia. Foram investidos cerca de 4 milhões de Euros nas pesquisas que culminaram no desenvolvimento dessa tecnologia, envolvendo 10 instituições: 4 universidades e 6 empresas privadas.

Como esses serviço podem ser associados à agenda internacional de mudanças climáticas e sustentabilidade?

Creio que atualmente há uma enorme preocupação com a escassez hídrica. Segundo publicações da WWF, 70% da água doce utilizada no mundo é utilizada na agricultura – cerca de 2.500 trilhões de litros de água. Desse total, 60% são desperdiçados devido, principalmente, a sistemas de irrigação ineficientes. Ao utilizar a nossa tecnologia, estudos na Europa comprovaram redução de até 44% no uso de água na irrigação, sendo 21% de média, sem nenhum impacto negativo na produtividade. Ao contrário, em alguns casos, houve aumento de produtividade em até 10%

Em meados de 2015 vocês receberam um aporte financeiro do programa do Sebrae de Inovação (SEBRATEC) para realização de testes na utilização da tecnologia que está sendo importada da Europa. Poderia nos contar um pouco sobre esse projeto?

Nós recebemos aporte de investimento do SEBRAE por meio de dois editais SEBRAETEC. Os recursos foram utilizados basicamente para custear experimentos de campo, que buscam validar os resultados obtidos pelas pesquisas na Europa. Os testes de campo ainda estão rodando. Já conseguimos observar problemas, e consequentemente, soluções.

Posso dizer que o mundo real é bem diferente daquilo que lemos em artigos, estudos e livros. Esse é um primeiro alerta que faço aos leitores que pretendem seguir carreira no empreendedorismo.

Quais as expectativas para a MTD neste ano de 2016?

Neste ano buscamos um novo sócio para a empresa. No empreendedorismo muito se fala de investidor-anjo. Entretanto, esse não é tipo de parceiro que pretendemos incluir nos nossos negócios. Estamos em busca de uma empresa que atue no agronegócio, se possível no área de irrigação, e que tenha interesse em participar ativamente na tomada de decisão e definição de estratégias internas.

Além disso, temos como meta para este ano o desenvolvimento de uma nova tecnologia, totalmente adaptada às realidades do nosso agronegócio, e produzida no Brasil.

A MTD se encaixa à ideia de empreendedorismo nas Relações internacionais. A partir da sua experiência, quais dicas você daria a alguém que deseja implementar uma tecnologia estrangeira no Brasil?

Creio que seja um caso de empreendedorismo nas RI, se vocês desejam chamá-lo assim.

Algumas dicas que posso dar é que, primeiramente, como o curso é muito abrangente (as vezes até em excesso), a pessoa deve focar em uma área de seu interesse. No meu caso foram o agronegócio e questões ambientais. Depois, ela deve buscar informações sobre o mercado em questão e a parte de custos (em um primeiro momento concentre-se em impostos, tributos, barreiras tarifárias, etc). Não é fácil, mas por experiência própria, vale muito a pena.

Equipe da MTD é formada também por especialistas em ciências agrárias

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