Especialista fala sobre internacionalização de empresas: oportunidades em expansão para profissionais de RI
A Analista Internacional Marina Coimbra é Especialista em Projetos Internacionais do Sistema Firjan – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Gestão de Negócios e Gestão de Marketing Estratégico, Marina trabalha assessorando empresas de setores como joias, moda e móveis do Rio de Janeiro em atividades internacionais e também no processo de internacionalização. Realiza missões para fora do país e produz estudos sobre mercados específicos.
Em entrevista ao What’s Rel?, Marina fala, além da sua atividade profissional, sobre a importância da internacionalização das empresas para a expansão do mercado de trabalho para analistas internacionais, os pontos positivos e negativos de ser um internacionalista e diz que duas características são fundamentais para um profissional da área: ser resiliente e falar idiomas. “Para atuar com relações internacionais é preciso ser realmente resiliente, pois há muita dinâmica, as coisas mudam o tempo todo e é preciso se adaptar, estar preparado para enfrentar desafios, situações inesperadas e lidar com diversos assuntos”, esclarece.
Confira abaixo a esta entrevista completa!
Marina, você poderia nos contar como funciona a área internacional do Sistema Firjan?
A Firjan Internacional é o braço Internacional do Sistema Firjan, cujo objetivo é promover negócios internacionais entre as empresas do Rio e do Mundo.
A área atua em diversas frentes, passando por programas de capacitação, informações qualificadas, estudos e publicações, assessoria para empresas que desejam atuar no mercado internacional, ações de defesa comercial e cooperação internacional por meio de parcerias com entidades congêneres internacionais. Promove ainda seminários, workshops, recepção de delegações estrangeiras com eventos de networking, rodadas de negócios, ações de acesso a mercado, como a organização de missões internacionais para as principais feiras e reuniões de benchmarking em empresas de referência de diversos setores. E para facilitar e beneficiar o processo de importação e exportação das empresas, a FIRJAN Internacional, emite três documentos: Certificado de Origem, Ata Carnet e Atestado de Não Similaridade.
Para os empresários estrangeiros, a Firjan Internacional conta com uma rede de empresas associadas e pode identificar potenciais parceiros, fornecedores e clientes.
Em que consiste especificamente a sua atividade? Pode nos falar da sua rotina e responsabilidades profissionais?
Meu trabalho consiste em realizar assessoria internacional de setores como moda, joias, móveis, audiovisual e indústria criativa. Para tanto, participo de reuniões periódicas com empresários, eventos e acompanho o trabalho das áreas técnicas e os projetos setoriais nacionais que me dão subsídios para elaborar projetos e ações a fim de promover a atividade internacional dos respectivos setores.
Uma das ações que realizamos são as missões internacionais. A coordenação desse trabalho demanda muita pesquisa, para entender quais países são referências no setor, ou qual região tem a expertise em temas como tecnologia, design, gestão da produção etc. Por isso, é fundamental conhecer os setores e entender suas prioridades. Para estruturá-las, estabeleço contatos com empresas, escolas, instituições, consulados e embaixadas a partir da rede de contatos e parceiras da Firjan Internacional.
Além das missões, produzo e analiso dados do setor para entender de que forma está inserido no mercado internacional, acompanho os principais mercados, faço o levantamento das principais feiras e eventos internacionais relevantes para cada segmento.
O que são os projetos internacionais setoriais? Poderia nos dar um exemplo?
Os projetos setoriais internacionais são um pouco do que mencionei acima, é a assessoria técnica dos setores e desenvolvimento de ações de acordo com as demandas. Cada segmento tem uma prioridade.
Para o setor de moda, por exemplo, estamos trabalhando na identificação de potenciais mercados para exportação. Identificamos alguns temas relevantes de comércio exterior e que, para os quais, os empresários precisam se qualificar e, com isso, vamos elaborar capacitações específicas para o setor.
Já para móveis e para audiovisual, identificamos profissionais internacionais de referência nesses setores para palestras e workshops para os empresários fluminenses, entramos em contato para trazê-los ao Rio e para realizar ações de disseminação de informações voltadas a cada setor, sempre referentes aos temas apontados pela área técnica e pelo empresariado.
Como funciona o trabalho de assessoramento para internacionalização de empresas?
As empresas nos procuram para tirar as mais diversas dúvidas sobre internacionalização. Em geral, são empresas que gostariam de se inserir no mercado internacional, mas que não conhecem o processo. Explicamos os procedimentos básicos de exportação e importação.
Se a empresa está mais avançada, apoiamos a empresa na decisão de exportar, oferecemos informações sobre mercados, impostos, regimes aduaneiros, financiamento, barreiras técnicas, entre outras informações qualificadas.
Além disso, realizamos pesquisa de inteligência comercial com informações mais completas para subsidiar as tomadas de decisão da empresa.
Pensando no mercado de Relações Internacionais, empresas internacionalizadas naturalmente demandam mais a presença de analistas internacionais. Como você enxerga o processo de internacionalização das empresas brasileiras? Tem crescido?
Acredito que o processo de internacionalização das empresas ainda é retraído. O Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas apenas o 25º país no ranking de exportadores mundiais. As empresas têm mostrado mais interesse em função da questão cambial, mas percebemos que não é uma decisão estratégica, mas, sim, para aproveitar o momento e em função da situação ruim em que se encontra o mercado interno.
Portanto, justamente por essa presença tímida, ainda há muito potencial para crescer. A expansão dos negócios para outros países aumenta a diversidade de mercados, possibilitando às empresas mais flexibilidade em momentos de crise. Eventualmente, a empresa pode precisar aumentar sua escala de produção, promover a inovação e competir em novos mercados, atingindo novo perfil de consumidores. A internacionalização promove o desenvolvimento empresarial, amplia a base tecnológica e a presença de produtos brasileiros no exterior, aumentando a competitividade das empresas brasileiras. Em momentos de crise no mercado interno, as empresas internacionalizadas sofrem menos impacto, pois já adotaram a internacionalização como estratégia de expansão.
A internacionalização envolve estratégias de marketing internacional, não é mesmo? Você acha que essa é uma área que o analista internacional pode se aprofundar? Poderia nos falar um pouco sobre marketing internacional?
Sim, é umas das áreas que mais gosto e que me especializei. O marketing internacional consiste na análise e entendimento dos macro e microambientes do mercado que a empresa deseja atingir. É preciso conhecer aspectos do setor, dos concorrentes, das questões demográficas, culturais e socioeconômicas.
O marketing internacional é fundamental para criar as estratégias de inserção no mercado, analisar canais de distribuição, possíveis entraves, adequação do produto, formação de preço, entender o perfil do consumidor naquele país, conhecer as estruturas de comercialização e práticas comerciais, definir a melhor forma de comunicação. É importante, ainda, definir a estratégia de branding da empresa em cada mercado; a estratégia nacional não necessariamente funcionará de maneira global. Um profissional com conhecimento mais profundo sobre marketing, seus conceitos e práticas, certamente, estará mais preparado para trabalhar com todas essas questões.
Atuar com missões empresariais exige que você realize viagens internacionais? Poderia nos contar sobre uma missão que foi marcante para você?
Sim, coordeno as missões empresariais e preciso acompanhar as delegações nas viagens internacionais. Uma das missões mais marcantes foi a do setor de moda para o Japão. Foi um dos maiores desafios que enfrentei, pois o grupo era grande, a barreira da língua era um fator complicador. Depois de muitas horas de voo, estar à frente do grupo para todas as questões logísticas e operacionais, foi preciso fazer a assessoria técnica, entender como o setor funciona, ampliar a rede de relacionamento. Depois de realizar essa missão, me senti mais confiante para organizar mais missões internacionais.
Registro de missões internacionais organizadas pela Firjan Internacional com a participação de Marina Coimbra.
Muitos dos nossos leitores nos perguntam sobre a importância de fazer pós-graduação. Você tem duas: Gestão de Negócios (IBMEC) e Gestão de Marketing Estratégico (USP). Porque a escolha dessas áreas e como as especializações têm contribuído para o seu desempenho profissional?
A pós-graduação em Gestão de Negócios me proporcionou uma visão do funcionamento de uma empresa, aspectos operacionais e financeiros, além de conhecimentos sobre gestão de projetos. A segunda pós em Gestão de Marketing Estratégico fiz em um momento em que já tinha mais experiência, aproveitei mais o conteúdo e tive a oportunidade de relacionar o trabalho e o que aprendia na pós. O foco era para estratégia e marketing e houve abordagem dos conceitos de branding, planejamento estratégico, comportamento do consumidor, análise de indicadores, gerenciamento de produtos, serviços, canais, entre outras questões.
Como trabalho com setores e projetos internacionais, esses conhecimentos foram fundamentais para ter uma visão estratégica de cada setor, seus mercados, cadeias produtivas e as características de cada um deles; observar a vocação setorial no Estado e poder ter um olhar mais estratégico para formular os projetos, missões e ações que desenvolvemos na área internacional.
Imaginemos que você tenha que contratar um analista internacional para trabalhar com você. Quais características o candidato deve ter para desempenhar a função?
A palavra da moda é resiliência que, para atuar com relações internacionais, é preciso ser realmente resiliente, pois há muita dinâmica, as coisas mudam o tempo todo e é preciso se adaptar, estar preparado para enfrentar desafios, situações inesperadas e lidar com diversos assuntos.
Considero que a capacidade de pesquisar e de se comunicar são primordiais também. A habilidade de transformar as demandas e ideias em ação; ser realizador!
É claro que falar línguas também é necessário, pois normalmente a maior parte do material de leitura e pesquisa está disponível em outras línguas, assim como a comunicação com a rede de parceiros. Nas viagens, se fazer entender é fundamental.
Como você vê o atual mercado de trabalho para analistas internacionais no setor privado?
Diante das dificuldades do mercado interno, torna-se cada vez mais latente a necessidade de internacionalização das empresas como forma de diversificação de mercados. É preciso que as empresas tenham um olhar estratégico de longo prazo e não apenas pensem em internacionalização em momentos de crise.
Para tanto, a presença de profissionais com formação na área – analista internacionais – preparados para trabalhar com questões de comércio exterior e com competência para lidar com questões do mercado internacional é fundamental.
O que você listaria como pontos negativos e positivos de atuar profissionalmente como analista internacional?
Um dos pontos críticos, acredito que seja a necessidade de estar sempre “antenado” com tudo o que acontece a sua volta e no mundo. A globalização estreitou o mundo, mas ao mesmo tempo temos informações demais, os acontecimentos impactam o dia a dia, é preciso estar ligado o tempo todo. Isso me causa certa ansiedade, é como se não pudesse relaxar. No entanto, é minha escolha e é necessário!
Um ponto positivo é lidar com pessoas e culturas tão diferentes. Entender como os setores funcionam no mundo e como cada país tem seus costumes, ver a diversidade, verificar tantas possibilidades diferentes. Fico feliz de poder trabalhar com setores tão criativos e interessantes.
Outro ponto positivo é justamente ver a dinâmica das coisas, pois sempre estamos aprendendo, cada dia aparece uma dúvida ou uma demanda nova que nos motiva a pesquisar e nos aprofundar em determinados ou em diversos assuntos.
Quais dicas você daria aos analistas internacionais que desejam seguir a mesma área que a sua?
Observo que a minha geração e as gerações seguintes sofrem de ansiedade. Mal saem da faculdade e já querem ter um “superemprego”. Acho que, hoje, a exigência em relação aos jovens é grande em todos os sentidos, é preciso falar muitas línguas, ter várias competências e habilidades, o que exige tempo e dedicação.
Com a experiência que tenho, valorizo um tempo para a experimentação, tão difícil para o jovem se permitir. Acredito que é preciso estagiar e pesquisar bastante para se testar, tentar entender o que realmente se tem vontade de fazer. Observar o ambiente de trabalho, como se dão as relações, o dia a dia. É preciso se dedicar às tarefas, ler, pesquisar, fazer as coisas com certa calma.
Entrevista fantástica sobre uma área que mescla tão bem as RI e o mundo corporativo, onde uma contribui com sua visão mundial e crítica à outra.
As partes sobre as escolhas das pós e conselho final (de se dar um tempo para testar e tentar) foram muito construtivas. De verdade!
Adorei conhecer esta história! Amo ser internacionalista!
Ola, Thamires,
Você não sabe como comentários como o seu enchem nosso coração de alegria.
Fazemos esse trabalho com muito carinho e seriedade, e seu apoio é fundamental para seguirmos nesse caminho.
Abraços,
Elisa