Como funcionam os processos seletivos nos Consulados: evitando saias justas

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Há quase um ano atrás, escrevi um texto que até hoje é recordista de acessos aqui no blog, intitulado “Como funcionam os processos seletivos nas Embaixadas e Organismos Internacionais no Brasil?”, que você pode ler aqui. Acredito que isso se aconteceu muito em virtude da curiosidade das pessoas sobre o meio diplomático no Brasil, da falta de informação sobre estes processos (afinal, isso a gente não aprendeu da faculdade e nem no estágio), e sobretudo, por se tratar de uma experiência real no mercado de trabalho dos analistas internacionais que pude vivenciar.

Atualmente trabalho como consultora no setor de petróleo e gás (outro tema que já foi abordado no blog em O setor de Petróleo & Gás como opção de mercado para os Analistas Internacionais”), mas antes que isto acontecesse, eu ainda passei por outros processos seletivos relacionados à área diplomática em alguns consulados, e gostaria de compartilhar essas experiências aqui no blog.

Não vou mencionar os países, pois acredito que seja inadequado, mas trata-se de países com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) sempre muito alto todos os anos.

Antes de falar mais sobre o processo seletivo em si, preciso dizer mais sobre a minha escolha com relação aos países. Preciso explicar que, depois de minhas experiências trabalhando com países árabes e asiáticos, (que se mostraram muito boas, porém desgastantes pelas diferenças de hábitos e culturais), eu optei por trabalhar com pessoas de culturas mais próximas à minha. É preciso deixar claro que não de trata aqui de nenhuma forma de preconceito ou discriminação com qualquer tipo de cultura, povo, crença e/ou religião e sim uma opção muito particular.

Aproveito a oportunidade também para ressaltar o peso das diferenças culturais, especialmente para as mulheres. Diferenças foram feitas para serem respeitadas sim, mas muitas vezes também questionadas. A partir delas, é possível aprender e absorver aquilo que consideramos bom e positivo. É também um caminho para aprendermos aquilo que não acreditamos que seja bom, e utilizarmos como exemplo de como não deve ser feito. O fato é que, o dia-a-dia profissional lidando com determinadas culturas pode ser muito desgastante emocionalmente e até estressante, principalmente em culturas pouco tolerantes e com estruturas hierárquicas muito rígidas com bases religiosas e de gênero. Por isso, caro(a) analista, aconselho avaliar muito bem até que ponto está disposto(a) a lidar com este tipo de pressão todos os dias da sua semana.

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ONU:  Rio +20
Não pretendo com este texto desanimar ninguém a trabalhar com determinadas culturas. Só acredito que seja importante tomar uma decisão a este respeito com posse do maior numero de informações disponíveis no mercado, a fim de evitar (novamente) frustrações desnecessárias. É preciso levar em consideração diferenças abismais com relação a hábitos de higiene, à maneira como as pessoas preferem trabalhar, à flexibilidade (ou falta dela) de atuação na execução das tarefas, a questões religiosas, hábitos alimentares, dentre vários outros fatores que devemos conviver diariamente.
Imagine que muitas vezes o ambiente de trabalho já é complicado entre brasileiros que, em tese, compartilham da mesma cultura, e apenas tiveram criações diferentes.Agora imagine tudo isso somado a uma infinidade de diferenças culturais e múltiplas interpretações de idiomas distintos. Imaginou? Parabéns, analista internacional! Você é capaz, ou pelo menos está mais bem preparado, para lidar com tudo isso…. e inclusive, reconhecer que esta é uma tarefa muito difícil.
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Data Nacional – Embaixada em Brasília
Decidido com quem queria trabalhar, foi a vez de escolher o setor, ou pelo menos de tentar, de acordo com as opções do mercado.
Mais uma vez, fiz uma operação pente fino no meio diplomático, só que agora com foco mais específico: a área de petróleo e gás. No momento ainda existem poucas vagas para os analistas internacionais nesta área, mas tenho percebido uma tendência crescente de nos incluírem nos editais, o que já considero uma boa notícia.Vagas selecionadas, redigi uma excelente carta de motivação para enviar junto com meu CV, mesmo para aquelas vagas que não pediam a carta. Acho que isso sempre causa uma boa impressão, mesmo que sua carta nunca venha a ser lida. Isso já demonstrou, como o próprio nome diz, o seu interesse em ocupar aquela tão sonhada vaga. Gaste tempo sim na redação desta carta. Se fizer um modelo muito bom, poderá apenas adaptá-lo para todos os seus processos seletivos dali pra frente. Aqui não tem espaço para preguiça.
Conferência Rio +20
Fiquei muito feliz quando recebi o e-mail dizendo que tinha passado para a próxima etapa do processo seletivo. Esteja sempre atento aos seus e-mails, pois na maioria das vezes todos os contatos serão feitos através dele. Foi marcada então a data da prova escrita. Como sempre, questões para avaliar conhecimentos do idioma, da área em que iria trabalhar, das atividades que iria desenvolver naquela área, conhecimentos gerais sobre o setor. A prova foi feita pela internet, com horário rigoroso para entrega. Recebi a prova por e-mail no horário marcado, e tive uma hora para traduzir, redigir uma carta convite para um diplomata, fazer planilhas, e responder a questões sobre petróleo e gás. Outro fator que estava sendo avaliado: quão rápido você consegue achar na internet informações que desconhece.
A etapa seguinte foi uma entrevista com três pessoas: uma representante do RH, a chefe do setor e uma (possível) colega de departamento, em três idiomas, que mudavam a todo o momento. (“tecla SAP” atuando fortemente o tempo todo). É preciso avaliar a qualidade da fala dos idiomas, e a naturalidade e velocidade com que o candidato é capaz de mudar de um para o outro. Cinco minutos de aquecimento com perguntas sobre a vida do candidato, para ficar mais confortável no ambiente de entrevista, e partimos para as questões situacionais relacionadas à vaga.
Logo depois desta fase, já recebi um feedback muito positivo na mesma hora das pessoas que me entrevistaram, o que é muito interessante para nossa própria avaliação de como nos comportamos durante a entrevista. Considero um grande erro e falta de profissionalismo quando fazemos uma entrevista e nem sequer recebemos um e-mail para dizer se passamos ou não para determinada vaga (longe de ser o caso neste dia).
Então veio o elemento surpresa: dali, eu fui convidada para ser entrevistada pelo Consul, aproveitando sua presença naquele momento no escritório. Nervosismo à parte por estar na presença dele, fui sabatinada por perguntas sobre meu CV que ele havia lido atentamente a cada linha. Perguntas rápidas. Respostas mais rápidas ainda. Até que percebi uma grande falha na minha preparação para esta entrevista: por se tratar de uma vaga para o setor de petróleo e gás, eu havia lido tudo sobre o setor tanto no Brasil, quanto no país pretendido. Mas como não estava prevista esta entrevista com o Consul, eu não havia me preparado sobre questões bem mais básicas sobre o país, que geralmente são as primeiras coisas que leio quando vou me preparar para uma entrevista num corpo consular. Ao fim da entrevista, ele me elogiou, e disse que, independente do resultado eu deveria ficar muito feliz porque milhares de pessoas se inscreveram para a vaga; centenas foram aprovadas na avalição curricular; dezenas fizeram a prova e, apenas sete tinham sido chamados para uma entrevista.
Moral da história: Conheça muito bem não somente a vaga para a qual está se candidatando, mas também a instituição em que pretende trabalhar e sua estrutura organizacional a fim de evitar saias justas.
IMPORTANTE:
– Se prepare muito bem desde o momento da escolha da vaga que pretende se candidatar.
– Gaste tempo redigindo sua carta de motivação.
– Esteja afiado em outros idiomas. Sem eles será impossível fazer carreira nesta área.
– Demonstre que está disposto a encarar desafios e a aprender.
– Esteja aberto a lidar com diferenças culturais e ciente do desgaste proveniente delas.
Se você já teve alguma experiência na área, compartilhe aqui no blog!
 
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Internacionalista, mineira, radicada no Rio de Janeiro desde 2012. Idealizadora/Fundadora do What's Rel? (2011). Business Development Latin America para uma empresa canadense de engenharia, sócia da PAR Consultoria, e grande entusiasta da carreira de R.I. :)

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