Postado em 09/2019;
O espanhol é a língua oficial de mais de 20 países, com mais de 400 milhões de falantes e é a segunda mais falada no mundo, apenas atrás do mandarim .
Apesar da proximidade política, cultural e geográfica do Brasil com os demais países da América do Sul falantes de espanhol, ainda há uma grande deficiência da língua no mercado de trabalho brasileiro atual.
Muitas vezes subestimado por nós devido à proximidade com o português, a língua espanhola demanda estudo e dedicação para aqueles que desejam alcançar fluência e performar suas atividades no idioma.
Para estudantes e profissionais de Relações Internacionais, a fluência no espanhol pode abrir inúmeras portas e oportunidades. Abaixo apresentamos algumas das esferas de atuação nas quais essa habilidade pode ser indispensável:
Esfera política
Mercosul
O Brasil se tornou signatário do Tratado de Assunção (1991) — que instituiu o Mercado Comum do Sul (Mercosul) — acompanhado dos demais membros fundadores: Argentina, Paraguai e Uruguai.
Dentre os principais objetivos do modelo de integração do Mercosul, estavam: a conformação de um mercado comum que implicasse na livre circulação de bens e serviços intra-bloco, estabelecimento de uma tarifa externa comum (TEC) no comércio com países extrabloco e adoção de uma política comercial comum. O processo de aprofundamento da integração regional fez com que passasse a abranger temas relacionados à política externa, direitos humanos e cidadania.
Secretaria-Geral Ibero-Americana
O organismo internacional criado em 2003 abrange 19 países da América Latina (incluindo América do Sul, Central e México), além de Espanha, Portugal e Andorra, países da Península Ibérica. A Secretaria é responsável pela organização das Cúpulas Ibero-Americanas, que reúnem anualmente os chefes de Estado, com o objetivo de gerar um ambiente de diálogos e acordos nos âmbitos da educação, cultura e bem-estar social. Além das Cúpulas Ibero-Americanas, a Secretaria Geral Ibero-Americana é responsável pela manutenção de diversos programas de promoção de políticas públicas em distintos eixos estratégicos: fortalecimento da cooperação sul-sul (entre países do sul global), mobilidade acadêmica, políticas sociais inclusivas e fomento à cultura.
Como pode-se perceber, o Mercosul e as Cúpulas Ibero-americanas atingiram grande espectro de atuação dentro da região, envolvendo temas mais diversos desde meio ambiente até políticas migratórias. Para os estudantes ou profissionais de Relações Internacionais que desejam atuar na área de Cooperação Internacional e Integração Regional — seja dentro dessas instituições internacionais ou em setores ligados a elas, o espanhol faz-se extremamente necessário.
Esfera comercial
O Brasil também está profundamente ligado a países falantes do espanhol devido a questões pertinentes ao comércio internacional. Dentre os 10 principais parceiros comerciais¹ do Brasil, 3 deles são latino-americanos. Além de Chile e México (em quinto e sétimo lugares), chama atenção o comércio com a Argentina, em terceiro lugar atrás dos gigantes China e os Estados Unidos, movimentando mais de 5 bilhões de dólares em exportações brasileiras apenas nos seis primeiros meses de 2019.
Como resultado do volume de comércio, estão as Câmaras de Comércio Exterior do Brasil com demais países, como, por exemplo a Câmara de Comércio Empresarial Brasil–Argentina (CECBA). Dentre os principais objetivos dessas instituições, estão: promover relações comerciais entre os países, facilitar e expandir o acesso ao mercado, incentivar comércio e serviços e atuar em conjunto na mediação de eventuais conflitos entre os parceiros comerciais.
Além das Câmaras de Comércio entre os países, existem os órgãos governamentais que atuam no âmbito de promoção do comércio exterior, à indústria e serviços, tais como a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) – parte integrante do Ministério da Economia — e suas demais subsecretarias.
No setor privado ou público, a atuação de um profissional de RI na esfera do comércio exterior, promoção comercial ou análise de importação e exportação, com muita frequência, irá exigir o uso da língua espanhola.
Esfera da Diplomacia Cultural
Neste aspecto, podemos destacar diversas organizações e secretarias que atuam na negociação de acordos e promovem iniciativas de difusão e intercâmbio cultural. Naturalmente, os blocos regionais são alvos de representação prioritária do Ministério da Cultura e de demais órgãos deste âmbito, em razão da forte identidade cultural entre os países, das relações culturais fronteiriças e da identificação de áreas culturais de interesse comum para o estabelecimento de projetos de cooperação e intercâmbio na região. Dentre essas organizações, podemos destacar: i) Conselho Sul-Americano de Cultura; ii) Mercosul Cultural e iii) Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI).
Conselho Sul-Americano de Cultura
É um dos principais Conselhos da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e foi criado em 2012 durante uma reunião de chefes de governo, no Peru. O Conselho faz parte de um plano de trabalho aprovado em 2013 que engloba iniciativas de fomento à educação, ciência, tecnologia e inovação nos países membros. Dentre os seus principais objetivos, está impulsionar a Cooperação Cultural na região e reduzir assimetrias regionais e sub-regionais no que diz respeito à promoção e acesso à cultura. O Tratado Constitutivo da UNASUL entrou em vigor em 2011 e foi assinada pelos seus membros fundadores: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Mercosul Cultural
As reuniões do Mercosul Cultural acontecem a cada seis meses e reúnem seus Estados-membros e associados. São coordenadas pelo país que estiver no exercício da presidência do Mercosul (pro tempore, ou seja, temporária). O órgão reúne Ministros da Cultura e se articula com demais instâncias do Mercosul. Além de discutir o andamento dos seus diferentes programas de trabalho durante o semestre anterior, as reuniões culminam no desenvolvimento de estratégias comuns e assinatura de acordos, que buscam atender os desafios partilhados do bloco: patrimônio cultural, direitos autorais, marcos regulatórios e pirataria digital.
Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI)
A Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) foi criada em 1949 sob o nome de Escritório de Educação Ibero-americana. Os principais objetivos para a criação da OEI eram fomentar o desenvolvimento de projetos de educação e cultura nos países membros, colaborar na transmissão de experiências de integração econômica, política e cultural produzidas nos países europeus e latino-americanos, impulsionar o desenvolvimento e intercâmbio científico e tecnológico e, por fim, contribuir para a difusão das línguas espanhola e portuguesa para fins de aperfeiçoamento de métodos de ensino e educação bilíngue.
Conclusão
No mercado de trabalho atual, falar inglês se tornou algo indispensável, por isso, comum entre muitos candidatos. Por outro lado, ainda é mais raro encontrarmos bons candidatos com o espanhol fluente. Seja em bancos internacionais, organismos multilaterais como o Mercosul ou na iniciativa privada, as possibilidades de atuação do profissional de Relações Internacionais citados acima têm como umas demandas principais o uso do espanhol. Por fim, a fluência na língua pode lhe oferecer oportunidades que não devem ser subestimadas.
Links úteis:
http://www.cecbario.com.br/Default_pt.aspx
http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/home.html
http://www.mercosurcultural.org/
https://www.unasursg.org/es/consejo-suramericano-cultura
¹ Estados para onde exportamos e países de onde importamos, embora muitas vezes o fluxo de importação e exportação coincida. O foco principal nesse caso, no entanto, será para os países que compram nossas mercadorias.
Curtiu o post? Clique aqui agora para ter acesso a mais matérias sobre o mercado de trabalho em Relações Internacionais!