Startups e Relações Internacionais

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Postado em 03/20;

“Empreender é algo que nasce com o analista internacional. É preciso muita criatividade, muita negociação, amplo conhecimento. O profissional de RI tem a capacidade de gerar negócios e solucionar problemas. Isso é tudo o que uma Startup precisa”.

Você provavelmente já ouviu falar em startups. Com certeza já ouviu falar, e até usa os serviços do Uber, Facebook, Twitter, Amazon, AirBnB, Nubank, LinkedIn. Você sabia, no entanto, que todas essas empresas são, ou foram em algum momento, startups?

O que é uma startup?

Startup, basicamente, é uma ideia colocada em prática para resolver um problema e monetizar a sua solução, ou seja, ganhar dinheiro com a inserção dessa ideia no mercado. Fundadores de startups sempre começam resolvendo algum problema de um grupo de pessoas ou de um mercado específico. Esses problemas geralmente existem em nosso cotidiano, mas já estamos tão acostumados que não nos tocamos que eles devam ou mesmo possam ser resolvidos.

É comum que as  pessoas acreditem que uma startup crie ou trabalhe somente com tecnologia de ponta, mas isso não é verdade. A principal característica de uma startup é a capacidade de escalar seu negócio, alcançando um crescimento exponencial em um curtíssimo tempo, sem a necessidade de um aumento proporcional em sua equipe de trabalho. Quer um exemplo? Cartões de crédito já não são considerados tecnologia de ponta há alguns anos, e uma startup brasileira está dando o que falar entregando a seus clientes um “simples” cartão de crédito.

Cartão sem custo

Essa startup é a Nubank. É um banco virtual que oferece cartão de crédito de forma gratuita, possibilitando ao cliente visualizar e controlar todas suas transações por meio de um aplicativo.

O maior problema das outras empresas que oferecem esse serviço são os altos valores de tarifas e anuidades cobrados pelo cartão de credito além dos juros extremamente caros. Somado a isso, tem-se a espera pela fatura mensal para conferir os valores gastos em um determinado mês, e o atendimento  ao cliente feito por call centers terceirizados. Claro que é possível acessar o internet banking para fazer esse acompanhamento, mas muitas pessoas não têm o hábito de fazê-lo ou têm medo de terem seus dados roubados. A maioria de nós está tão acostumada a esse modelo que não vemos tudo isso como problemas. O Nubank viu isso como um problema e se propôs a resolvê-lo. Ao usar canais 100% digitais para comunicar-se com o cliente, a Nubank reduziu sua burocracia, eliminou custos com estruturas de agências e, por isso, consegue ofertar seu serviço sem tarifas. Essa mudança leva ao cliente um serviço de melhor qualidade, mais barato e sem obrigá-lo a aprender como usar o serviço, pois já o fazem corriqueiramente.

Em um mercado gigantesco como o Brasil, que gasta cerca de R$ 30 bilhões de por ano em lojas virtuais, e com as pessoas vendo seu dinheiro se desvalorizar sem correção de salários e ganhos, é visível que a startupacertou na idealização de uma solução para esse “problema”, no planejamento dessa solução, e, claro, em sua execução.

O que isso tem a ver com as Relações Internacionais?

Recentemente o Nubank recebeu um investimento de 200 milhões de dólares, de um fundo (Founders Fund) que já investiu no Facebook, Uber, LinkedIn, e tem como um dos investidores o criador do PayPal é também do Fundo, Peter Thiel. Além disso, o cartão que a Nubank entrega a seus clientes é de uma empresa global, a Mastercard, e sua internacionalização deverá acontecer nos próximos dois ou três anos.

As startups são empresas globais ou que atuam, no mínimo, em âmbito nacional. Isso faz com que um profissional de RI seja amplamente capacitado para participar do processo de criação e crescimento de uma startup. É preciso conhecer investidores de todas as partes do mundo, com suas peculiaridades, suas necessidades, suas burocracias, mas principalmente, seus interesses. Alguém trabalhando em uma startup precisa saber e ler muito bem um cenário para receber um investimento, escalar seu negócio em um mercado ou internacionalizar a empresa.

Um fundador de startups precisa planejar pelos próximos cinco anos, em trimestres (período padrão de mercado), cada detalhe da execução de seu negócio, e isso requer uma capacidade de análise e previsão que um profissional de RI faz com uma facilidade quase que intrínseca. É necessário também que ele entenda de metodologia de pesquisa, porque uma startup não começa a operar sem ter uma pesquisa de mercado muito bem feita de acordo com os moldes científicos. Não há muitos espaços para erros nesse caminho, e essa análise criteriosa bem como pesquisas e criação de cenários futuros é algo que faz uma startup crescer ou morrer.

RI: conhecimento amplo

Como sabemos, um profissional das Relações Internacionais possui um conhecimento geral amplo, e pode facilmente se especializar em algumas áreas que talvez demorariam mais para outros profissionais. Lembrem-se sempre que a capacidade analítica é um ponto muito forte e que a habilidade de analisar informações e transformá-las em conhecimento e projeções é algo que pode destacá-los no mercado, inclusive de startups.

Empreender é algo que, mesmo sem saber, nasce com um analista internacional. É preciso muita criatividade, muita negociação, amplo conhecimento de histórias e históricos, além de habilidades diplomáticas para se trabalhar em qualquer área das RIs. Lidar com o mercado não é fácil, nem com investidores, sócios, fornecedores e clientes. A certeza que existe é que um profissional de RI traduz tudo o que estudou em capacidade de gerar negócios e solucionar problemas, e isso, é tudo o que uma startup deseja em um profissional.

 Guilherme Guedes é analista internacional, empreendedor em sua terceira startup e também faz parte da equipe What’s Rel?.

 

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