Em entrevista, Carolina nos contou como considera a especialização a melhor maneira de se consolidar no mercado de trabalho, assim como a importância do trabalho voluntário e dos idiomas para o desenvolvimento da carreira de um Internacionalista.
Carolina Christo, formada em Relações Internacionais pela PUC Minas, possui MBA pela FGV em Gestão, Negócios Internacionais e Comércio Exterior, com Curso de Extensão na Babson College (Estados Unidos) em Empreendedorismo. Possui ampla experiência profissional com Análise de Negócios, Relações Institucionais, e, sobretudo, Gestão de Projetos. Atualmente é Head do Time de Gestão da Stellantis LATAM no Programa Connected Services.
Por que você escolheu cursar Relações Internacionais?
Creio que a maioria dos alunos escolhe o curso por algumas razões semelhantes: paixão pela diversidade cultural, por aprender e dominar línguas estrangeiras, além do interesse por desafios políticos e/ou socioeconômicos que acompanhamos mundo afora. Eu, particularmente, me decidi por RI pois esses temas sempre me despertaram interesse e eu queria vivenciá-los na minha rotina profissional. Quando escolhemos uma graduação,, geralmente não temos pleno conhecimento das oportunidades e dos desafios que teremos na carreira (e que são muitos), e vamos nos apaixonando, ao longo do caminho, por todo um mundo diferente que nos é apresentado pelo curso: política e Direito Internacional, macro e micro economia, teoria das Relações Internacionais… Mas hoje, se pudesse dar um conselho àquela aluna prestes a fazer esta escolha seria: procure conteúdos abrangentes sobre a carreira; converse com pessoas que seguiram esse caminho; pense com carinho qual tempo e energia irá investir, e para o que vai se dedicar dentre as possibilidades (política, acadêmica, ONGs, OIs; serviço público ou iniciativa privada).
Além da graduação, você possui certificação PMP em Gestão de Projetos e MBA em Negócios Internacionais e Comércio Exterior pela FGV. Quais pontos você levou em consideração na hora de escolher se especializar nestas áreas de atuação?
Quando me formei, me deparei com a necessidade de aprofundar ou me especializar em algum tema específico, visto que a formação em RI é mais generalista e isso dificulta a nossa entrada na iniciativa privada (que era a minha escolha de carreira ao final do curso). A alternativa que
encontrei para isso, à época, foi fazer um MBA numa área que aproximasse um pouco mais os dois mundos: RI e uma carreira em uma empresa, buscando uma visão mais aprofundada de negócios. A especialização em gestão de projetos e produtos foi decorrente da minha própria jornada profissional. Este é um tema pelo qual me apaixonei desde o início: começando com um projeto do Estado de MG com o Banco Mundial e, posteriormente, a partir do meu primeiro emprego em empresa de grande porte, em que comecei a trabalhar com processos e projetos, gerindo inclusive contratos internacionais. Aproveitei o conhecimento e a experiência adquirida nessa área para obter uma certificação reconhecida internacionalmente, a de PMP. Evoluí nessa carreira aprofundando meus estudos sobre gestão de processos, projetos (incluindo métodos ágeis) e, hoje, produtos. O conselho que eu daria hoje para quem quer seguir uma carreira na iniciativa privada? A visão de mundo, a capacidade analítica e a formação generalista de um internacionalista podem sim ser um diferencial para um profissional de mercado, mas é importante investir numa formação complementar direcionada a outras áreas de conhecimento (administração, direito, economia, etc.), aprofundando em temas importantes para sua atuação e habilitando-o para o mercado de trabalho (que ainda oferece oportunidades mais ‘especialistas’).
Durante sua jornada profissional, você adquiriu habilidades de gestão de projetos, sendo essa uma de suas principais atividades nas empresas em que trabalhou. Como você entende a importância da gestão de projetos no mercado de trabalho atual? Qual a importância de se ter a certificação PMP?
A gestão de projetos me proporcionou ótimas experiências profissionais e me possibilitou trabalhar em atividades diversas: desde projetos com organizações internacionais; projetos da indústria tradicional, brownfield e greenfield; até os voltados para a transformação digital e tecnologia. Para mim, foi um ótimo guia para a vida profissional e até pessoal, mas, como qualquer outra área, precisa evoluir. Ao meu ver, a introdução de métodos diversificados e ágeis, times mais autônomos, culturas fortemente voltadas aos desejos e necessidades do cliente e um mundo cada vez mais ‘VUCA’, gera a necessidade de um profissional cada vez mais abrangente: migra do gestor de projetos para alguém capaz de gerir todo o processo de geração de valor para o cliente, desde a concepção até o produto. Perpassa a gestão de pessoas, processos, financeira, de mudanças, entrega do produto e evolução do mesmo. Neste sentido, a certificação é uma forma de você obter o reconhecimento da sua expertise e comprovar
habilidades básicas para atuar na área, mas é essencial fazer da prática a escola necessária para uma evolução profissional.
Você também possui experiência como Analista de Negócios Internacionais. Poderia descrever no que consiste esta área de atuação? Ela possui relação com Comércio Exterior?
A minha experiência como analista de negócios internacionais esteve mais relacionada a pesquisa de mercado para geração de oportunidades de negócios entre empresas de diferentes países, participação em feiras internacionais de negócios e geração de projetos de desenvolvimento da exportação em pequenas e médias empresas brasileiras. Possui pouca relação com Comércio Exterior.
Em sua ocupação atual você é responsável pela gestão de equipes multidisciplinares. Poderia nos contar um pouco mais sobre esta experiência? A graduação em Relações Internacionais contribuiu para exercer esta função específica?
É muito gratificante trabalhar com projetos e negócios que permitem conciliar minha área de atuação com a paixão pelas ‘relações internacionais’, as relações entre pessoas, países e culturas diferentes. A graduação em si contribuiu para ampliar a minha visão de mundo, de processos, de pessoas, assim como um conhecimento geral sobre temas relacionados (economia, direito, política, etc.). Ela me ajudou sim a ser uma profissional mais abrangente, a desenvolver uma visão mais holística de diversos assuntos e a ser uma pessoa mais flexível e de fácil adaptação.
Em seu perfil no LinkedIn, pudemos perceber que você possui experiência como voluntária em três diferentes instituições. Quais foram as contribuições do voluntariado para sua vida pessoal e profissional?
Quando jovem, o voluntariado serviu para contribuir com iniciativas em prol da comunidade: uma realização pessoal como cidadã, e até uma forma de unir o desejo de doar meu tempo e energia para ajudar outras pessoas com experiências culturais diferentes (como no caso da ONG Operation Smile). Hoje atuo como voluntária do PMI na mentoria de turmas de Pós-Graduação em Gestão de Projetos da PUC-MG, o que me proporciona não só satisfação em contribuir com a formação de outras pessoas, mas também me possibilita a troca de experiências profissionais, aprendizado e insights para a evolução na minha própria área de atuação.
Você tem domínio do francês, do inglês, italiano e espanhol. O que a motivou a aprender outros idiomas para além do inglês?
Primeiramente, a paixão, desde nova por aprender e me comunicar em outras línguas estrangeiras (se conseguisse, estudaria mais rs) e por conhecer outras culturas. O inglês e o espanhol estudei ainda adolescente. Além disso, uma boa comunicação é extremamente importante na minha carreira: gerir pessoas e processos envolve gerir expectativas, a informação e a comunicação entre elas. Como lidei e lido com pessoas de diferentes países e acredito que a comunicação na língua materna gera empatia e aproxima as pessoas, estudei o francês, o espanhol e o italiano para, também, me comunicar melhor com todas elas profissionalmente.
Como internacionalista, qual foi a maior dificuldade que você encontrou em sua jornada profissional e como você conseguiu superá-la?
Como mencionei anteriormente, o curso de RI é apaixonante e muito rico. Mas a maioria das referências a ele e das instituições que o oferecem (basta pesquisar um pouco o tema na própria internet) ainda focam em carreiras acadêmicas, de engajamento político ou social, atuação diplomática, ONGs ou OIs. Quando falamos de oportunidades na iniciativa privada, o profissional de RI ainda enfrenta muitas dificuldades, seja para conseguir uma oportunidade de emprego ou para evoluir nela. Para superar isso, é essencial investir desde o início, se possível, em outras áreas de formação que, somadas, farão de nós profissionais com um rico conhecimento holístico, cultural e generalista; mas também com a capacidade de atuar em atividades mais específicas, usando esta formação como diferencial competitivo e agregador de valor.
Quais habilidades e soft skills você considera essenciais para que um internacionalista desenvolva uma carreira de sucesso?
Comunicação eficaz e objetiva; orientação para resultados; capacidade analítica acentuada; colaboração e empatia; flexibilidade; resiliência / capacidade de evoluir e se adaptar; capacidade de resolver problemas e trabalhar sob pressão; pensamento criativo e bom relacionamento interpessoal.
Esta entrevista foi realizada pela internacionalista Marina Fontoura.