ENTREVISTA COM PROF. JOSÉ LUIZ NIEMEYER

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“Invistam na retórica e na análise estratégica”, diz coordenador de curso de RI

O What”s Rel? conversou com o coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec/RJ, prof. José Luiz Niemeyer dos Santos Filho. Formado em Economia pela PUC/SP, Niemeyer é Doutor em Ciência Política pela USP. É também pesquisador associado do Núcleo de Políticas e Estratégica/NAIPPE da Universidade de São Paulo/USP e do Nupri/USP.

Nesta entrevista exlcusiva, José Luiz Niemeyer traça suas impressões sobre o mercado de trabalho nas Relações Internacionais, que na sua avaliação ainda vive um processo de estruturação. Para ele, há muito oportunidade de atuação ‘do lado de fora’ dos tradicionalismos em RI. Para profissionais e estudantes que almejam se desenvolverem profissionalmente na área, Niemeyer deixa nesta entrevista a dica que considera mais importante: investir na retórica e na análise estratégica.

Confira a entrevista completa abaixo.

Há algum tempo, as pessoas buscavam os cursos de Relações Internacionais porque almejavam a carreira diplomática. Esse perfil parece ter mudado já que tem crescido as oportunidades no setor privado, em ONGs e também em outras áreas públicas além da diplomacia. Qual a sua avaliação?

As carreiras de Estado continuarão com certo destaque – mesmo com a crise das finanças públicas -. Entrar para a ‘Casa de Rio Branco’ continua um objetivo importante para o Internacionalista. Além das carreiras de Oficial de Chancelaria, ABIN, BNDES, Banco Central – para aqueles alunos que teve uma boa base quantitativa em RI -, entre outras. A participação em Governos Estaduais e Municipais também é uma boa oportunidade para o Internacionalista ser alocado, via concurso público, em carreiras do Estado.

Todavia, nestes últimos 20 anos, o pêndulo das oportunidades em RI tem apontado mais para o setor privado. Grandes empresas brasileiras – multinacionais ou em vias de internacionalização -; grandes empresas estrangeiras; empresas brasileiras de médio e pequeno porte – principalmente na área do Comércio Exterior -; Fundações ligadas ao 3º. Setor; Associações de Classe; Sindicatos; Organizações que atuam nas áreas dos Projetos Público-Privados (PPP); e Empreendedores no geral, precisarão do Internacionalista no seu dia a dia.

Pela sua experiência, os analistas internacionais que se formam no Ibmec têm sido absorvidos pelo mercado para desenvolver quais tipos de atividades?

A taxa de empregabilidade do Ibmec é alta. Muito em função das parcerias que a instituição construiu nos últimos quarenta anos com o mercado de trabalho.

O Ibmec começou como uma Escola de Pós-Graduação, estabelecendo vínculos importantes e estratégicos com as Empresas dos mais variados setores.

Depois, com a Graduação desde a década de 1990, o Ibmec se estabeleceu como uma escola que prepara muito bem seus alunos para o mercado de trabalho.

Em RI, desde do início do curso em 2007, procuramos manter e estreitar a relação com o mercado de trabalho, seja via nossos departamentos de Carreiras, Convênios Internacionais, Centro de Empreendedorismo, como a partir da própria Coordenação e da ação dos nossos Professores que atuam no mercado além da área acadêmica. O Professor do Ibmec, com toda sua titulação e trabalho acadêmico diário, em muitos casos trabalha em empresas, governos, consultorias e etc.

E como o Sr. vê o mercado de trabalho para analistas internacionais?

Em função do processo de internacionalização dos mercados, sociedades e pessoas e a partir da maior inserção estratégica do Brasil no cenário internacional, o mercado de trabalho para o Internacionalista é uma realidade insofismável.

Em um vídeo no Youtube, o Sr. fala sobre a vocação para os estudos de RI. Nele fica claro que ter aptidão para essa área não é somente para quem gosta de política externa e outros temas das Relações Internacionais “formais”, digamos assim. A cultura, o esporte, o turismo, por exemplo, são áreas que podem ser desenvolvidas pelo o analista internacional. Eu gostaria que o Sr. falasse sobre esse tema. Além disso, o Sr. acha que a área de RI ainda é pouco compreendida pela sociedade e até mesmo pelos estudantes?

Começo pela segunda pergunta. Sim, é ainda pouco compreendida. Mas como o movimento de estruturação da carreira é inevitável em função do processo, mesmo civilizatório, é até interessante este nível de desconhecimento para criar vínculos de expectativas e de interesse por parte daqueles que desconhecem a carreira e quando encontram o Internacionalista acabam percebendo o alto gabarito deste profissional.

As áreas da cultura, esporte, turismo são fundamentais para o Internacionalista; somadas à criatividade, relacionamento interpessoal e ação empreendedora, são variáveis de uma mesma equação na qual o resultado é muito favorável à formação em RI.

Prof. Niemeyer comenta a vocação para os estudos de Relações Internacionais

Estados e municípios tem cada vez mais agido internacionalmente dentro da chamada “paradiplomacia” ou “cooperação internacional descentralizada”. A economia fez algumas empresas a buscarem novos mercados. No entanto, nos parece que o grau de internacionalização do país, seja de órgãos públicos ou de entidades privadas, ainda é baixo. Como o Sr. vê esse cenário de internacionalização?

O grau de internacionalização ainda é baixo, sim. A crise de 2008, a nova dinâmica internacional pós 11 de setembro e a refundação de um sistema com tendência ao multipolarismo pós Guerra Fria faz com que cada unidade estatal se preocupe mais com o ‘doméstico’ do que com o ‘internacional’. TODAVIA, as RI estão aí! Prontas para serem operadas pelos Internacionalistas. Se a partir destes ciclos de compressão e dilatamento as RI continuam com suas demandas, a Paradiplomacia e cooperação internacional descentralizada podem ser saídas para países que querem uma maior inserção a partir de uma menor burocratização.

Mas o mais importante são os ‘movimentos de dentro para fora’, onde processos, meios e valores ligados ao ambiente internacional surgem na cabeça das pessoas (empreendedores), nas pequenas cidades, nas comunidades, nas regiões marginais e etc. Há muito oportunidade ‘do lado de fora’ dos tradicionalismos em RI.

Muitos jovens formam em RI e ainda não têm ideia de como se inserir no mercado de trabalho. Que dicas você daria para aqueles que estão iniciando a carreira?

Continuem frequentando e participando de ações riquíssimas como as do What´s Rel. Sejam persistentes e olhem as coisas sempre com um olhar bi frontal, como Nicolo Maquiavel fazia séculos atrás. ‘O Príncipe’ nada mais é do que um olhar sobre Florença como cidade-estado italiana na lógica da Europa do século 16; e vice-versa. Assim, olhem para o doméstico ao mesmo tempo que observam o internacional.  Estudem sempre. Mantenham os CRs altos. Invistam na retórica e na análise estratégica. E mantenham o amor pelas RI.

Assita a outros vídeos do Prof. Niemeyer sobre carreira e RI:

 

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O mais completo site brasileiro sobre o mercado de trabalho em Relações Internacionais.

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