Internacionalista Guilherme Marques concede entrevista ao What’s Rel?

Conversamos com o Internacionalista Guilherme Marques, Co-fundador da Lets.Events e empreendedor multifacetado. Guilherme é a prova de que não existem fronteiras no mercado de trabalho que não possam ser cruzadas por um Internacionalista. Graduado pela PUC-Minas desde 2008, ele nos contou sua trajetória profissional e concedeu dicas valiosas!

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O principal ponto sobre o mercado de tecnologia é que ele é inevitável. Não existe caminho de volta. Estamos em um momento em que um dos grandes desafios das Relações Internacionais é entender que as demandas econômicas, de identidade, sociedade, moralidade e afins já não se limitam mais necessariamente às fronteiras dos Estados.”

Guilherme Marques é internacionalista formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2008). Possui Bacharelado em Direito pela mesma Instituição, com ênfase em Negociações Internacionais, Comércio e Legislação Tributária (2010).

Sua carreira teve início em 2005, quando realizou o programa de treinamento “College Program” da Walt Disney World. Em 2006, atuou como estagiário na Organização de Direitos Humanos “Human Rights Watch”, onde realizava atividades de monitoramento de mídias para países europeus. Em 2011, trabalhou como auditor interno na Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais. Marques também já foi professor de inglês na escola de idiomas “Mundy”. 

No ano de 2013, fundou a useLolli, onde foi responsável pelo desenvolvimento de soluções em e-commerce, vendas online e estratégia de marketing. Também foi responsável pela fundação da Miviro, plataforma online de estruturação e gerenciamento de grupos de turismo, exercendo todas as atividades relacionadas à criação de uma startup, desde CEO até programador Ruby On Rails, vendas e suporte ao cliente. Marques também trabalhou como desenvolvedor Back-End e Front-End na empresa 77Agency. Suas atividades estavam relacionadas à programação Ruby On Rails, HTML, css e  javascript. 

Atualmente Guilherme assume a posição de “Empreendedor Multifacetado”  na Lets.Events. Faz parte do suporte legal da startup, sucesso de vendas, desenvolvimento, marketing e diversas outras funções. Seu objetivo principal é aprimorar a experiência dos vendedores da Lets.Events, plataforma de vendas de ingressos e gerenciamento de eventos.

Confira a entrevista completa abaixo!

1 – O que o  motivou a fazer o curso de graduação em Relações Internacionais?

Quando eu estava para terminar o Ensino Médio não tinha ideia alguma do que queria fazer na faculdade (como várias pessoas). Eu tinha acabado de me formar em um curso técnico em turismo, em uma escola italiana, e tinha tanto a opção de prestar vestibular no Brasil, quanto  de ir para a Itália fazer faculdade por lá.

Optei por ficar no Brasil e, como um bom indeciso, prestei vestibular para ao menos 5 cursos em diferentes faculdades: Turismo, Administração, Direito Internacional, Direito, Relações Internacionais e, acreditem, Design de Produto. Isso mostra um pouco da situação em que me encontrava.

Passei em todos eles, mas fiquei em lista de espera para RI na PUC-Minas, curso que era extremamente concorrido à época. Isso mexeu comigo. Sou da teoria de que um curso de graduação é tão bom quanto os alunos que o cursam. Se tinha tanta gente com melhores notas do que as minhas, ali era o melhor lugar. Mas naquele ano de 2004, em que RI era considerado o curso do futuro, não me parecia fácil que alguém desistisse de se matricular.

Por sorte, ou acaso, a minha já amiga Barbara Boechat, colega de ensino médio, de graduação e hoje diplomata, me ligou avisando em primeira mão que havia aberto chamada para excedentes. Eu era o terceiro da fila.

Larguei a aula na faculdade de Direito Internacional em que já havia me matriculado e corri para a PUC para tentar pegar a única vaga que haviam aberto. Esperei por algumas horas alguém que estava na minha frente aparecer e, felizmente, consegui meu lugar.

Assim, a resposta curta à pergunta é: uma boa porta na cara!

2- Além de RI, você é também formado em Direito. O que te levou a optar por uma segunda graduação e de que maneira ela contribui para a sua atuação em Relações Internacionais?

Resolvi fazer Direito muito pela influência do meu pai. Desde que comecei a pensar em vestibular ele já me indicava que esse seria o melhor curso. Sou filho de uma geração em que se formar Direito ou Engenharia era garantia certa de emprego e futuro abastado.

Mas além das ponderações do meu pai, fui convencido por um amigo do quanto o Direito é importante independentemente do que eu acabasse fazendo após me formar. E, diferentemente das motivações geracionais que citei acima, isso continua uma verdade.

Optei por fazer as duas faculdades juntas para me formar melhor como pessoa. A verdade é essa. Somente no meio do percurso que comecei a ligar uma à outra, inicialmente por vontade de trabalhar com Direitos Humanos e, depois, por vontade de trabalhar em solução de controvérsias na OMC. Acabei fazendo nem um, nem outro.

3- O mercado de tecnologia e inovação vem ganhando muito espaço, no entanto, entre os profissionais de Relações Internacionais pouco se fala sobre o assunto. Enquanto programador, como você relaciona a sua formação em RI com seu trabalho atual?

Comecei a estudar programação logo após me formar em RI. Sempre tive um tino empreendedor e resolvi criar minha primeira startup em 2009, antes mesmo de passar na OAB.

O principal ponto sobre o mercado de tecnologia é que ele é inevitável. Não existe caminho de volta. Estamos em um momento em que um dos grandes desafios das Relações Internacionais é entender que as demandas econômicas, de identidade, sociedade, moralidade e afins já não se limitam mais necessariamente às fronteiras dos Estados. Todos os assuntos têm alcance e repercussão mundial.

Então, para os profissionais de Relações Internacionais o importante é entender como a tecnologia impacta nesses discursos que moldam nossa realidade cada vez mais rapidamente.

No meu caso específico, eu diria que minhas formações não tiveram impacto direto sobre meu trabalho como programador. Mas tudo que eu faço no meu trabalho, seja programando ou não, é impactado pelos valores e percepções de mundo que passei a ter a partir do contato com as Relações Internacionais. E isso vai desde o momento em que contrato alguém até na definição de uma estratégia para escalar um produto nacional ou internacionalmente.

4- Você já teve experiência na área de e-commerce. Como analisaria esse mercado para profissionais de Relações Internacionais?

No momento em que o acesso ao comércio em escala global deixou de ser exclusivo das grandes corporações, houve um aumento na quantidade de empresas que passaram a lidar diariamente com demandas multilaterais que podem ser bem trabalhadas por profissionais das RI.

Uma amiga de curso, Raquel Oliveira, trabalhou em uma marca de fast fashion na área de responsabilidade corporativa, onde analisava se as políticas da empresa estavam de acordo com as leis dos países onde atuava. Isso incluía análise de políticas ambientais (uso de químicos nos produtos), contra o trabalho escravo ou excessivo, carbon footprint e outras diretrizes que valiam tanto internamente quanto para os fornecedores.

Hoje ela trabalha em uma consultoria em Londres prestando serviço similar para várias empresas. Esse é um mercado muito interessante e diretamente ligado ao trabalho dos profissionais em Relações Internacionais.

5- Como co-fundador da Lets.Events, startup e plataforma de vendas de ingressos e gerenciamento de eventos, pode nos dizer quais são as suas principais funções e como foi o processo de fundação da startup?

Toda empresa, seja ela uma startup ou não, nasce de uma ideia. Para dar certo, essa ideia deve necessariamente resolver um problema, mesmo que seja otimizando soluções já existentes.

No caso da Lets.events, nascemos para resolver o problema da gestão de eventos, principalmente, na gestão de convidados em listas (lista de aniversário, palestrante, expositor, promoção e por aí vai). Com o passar do tempo, agregamos a venda de ingressos e passamos a resolver toda a organização dos participantes de um evento em um uma única ferramenta.

Hoje, nosso objetivo é continuar crescendo para ser a melhor solução para eventos no Brasil, cobrando o mínimo de taxas possível dos compradores. E isso só se atinge com eficiência e escalabilidade através de muita dedicação do nosso time.

Os caminhos que escolhi me levaram a ser uma pessoa multifacetada, que gosta de entender e estudar assuntos em diversas áreas. O trabalho como co-fundador em uma startup é ideal para pessoas nesse perfil, principalmente nos primeiros anos após a fundação, antes de conseguir uma maior tração de mercado.

Eu trabalho com coisas diversas: no desenvolvimento do produto, principalmente, mas também faço contratos, suporte, atendimento, marketing, vendas… o que for preciso para que os nossos clientes tenham a melhor experiência possível. Aprendo muito todos os dias, mas pretendo focar em alguma área específica no futuro.

6- Empreendedorismo é um ramo promissor para profissionais de Relações Internacionais, entretanto muito competitivo. Desta forma, quais são as aptidões que um internacionalista deve ter para se destacar enquanto empreendedor?

A principal aptidão é a multidisciplinaridade. Para empreender você precisa entender de negócio, de relacionamento, de produto, atendimento, investimento, finanças e por aí vai. Não digo que seja preciso ser especialista em tudo, mas é preciso ter convicção e domínio suficiente para evitar tomar decisões precipitadas ou sem conhecimento. De resto, é vontade de fazer a diferença e de crescer e aprender durante o processo.

7- Sua trajetória profissional está muito ligada à tecnologia, inovação, desenvolvimento e marketing, de que maneira você conseguiu estabelecer uma conexão entre estas áreas e a sua formação em Relações Internacionais?

As Relações Internacionais ensinaram a mim, e a todos meus colegas de curso, a extrapolar os limites do Brasil (o que é uma pena, muita gente morando longe…). Empreendedorismo e tecnologia fazem a mesma coisa por mim. Tudo que você cria hoje pode ser consumido por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Quanto mais noção desse mundo, melhor.

 8- Você poderia explicar o que é e como funciona o trabalho de um programador e como ele se posiciona no mercado?

Uma pessoa programadora pode trabalhar com várias coisas em prol do desenvolvimento de um produto de tecnologia, seja ele um site, um app, um jogo. No meu caso, trabalho ativamente no desenvolvimento da nossa plataforma de eventos.

Lembra que mais acima falei que para a geração dos meus pais o diploma em Direito ou Engenharia era “garantia de emprego e futuro abastado”? Então, para mim saber programar é, hoje, exatamente isso. Desconheço mercado mais aquecido hoje em dia.

9 – De que maneira o domínio de outros idiomas tem sido importante para a realização de suas atividades profissionais?

Acho difícil mensurar como o domínio de outros idiomas ajuda especificamente para mim profissionalmente. Mais de 50% do conteúdo que consumo diariamente é em inglês, sou responsável por fazer, rever e avaliar traduções do meu produto para inglês e espanhol e, eventualmente, me valho desse conhecimento em reuniões, contratos e etc.

Entretanto, acho importante frisar que saber outros idiomas me ajudou muito no processo de aprender a programar. Todo desenvolvedor trabalha com o que chamamos de “linguagens de programação”. E não é  atoa que são chamadas assim. Cada uma delas possui regras e estruturas muito similares aos idiomas falados. Isso torna o processo de aprendizagem muito semelhante, no meu ponto de vista.

Do mesmo jeito que é mais fácil aprender uma terceira língua do que uma segunda, aprender uma nova linguagem de programação também é mais fácil quando a sua cabeça já está acostumada a lidar com variadas estruturas de lógica e comunicação.

10 – Existe alguma dica ou caminho a ser seguido para que se possa fundar uma startup de sucesso? Quais são os riscos ao se comprometer com esse tipo modelo de negócio e quais as suas vantagens?

Talvez a principal dica seja entender que a minoria das startups de fato atingem algum sucesso. Por mais que você tenha uma boa ideia, que o seu time seja bom, que tenha investimento e por aí vai. Empreender com sucesso muitas vezes leva anos e várias empresas e ideias diferentes. Startups nascem e morrem em uma velocidade grande (risco), mas a todo momento a pessoa que empreende está evoluindo, estudando e aprendendo sobre vários tópicos que no mínimo vão tornar a busca por emprego muito mais fácil (vantagem).

Entrevista produzida pela Internacionalista e Colaboradora Voluntária Bruna Cabral.

 

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