15 músicas que retratam a América Latina

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15 músicas que retratam a América Latina

Plural, emergente e por muito tempo subjugada. Esta é nossa América Latina, continente que engloba 20 países, com histórias distintas, porém semelhantes em diversos aspectos. Afinal, desde o século XVIII, a luta por consolidação política, independência e reconhecimento apresentaram-se como pautas prioritárias a estes Estados, dando início aos esforços para a integração da região. 

A questão que gostaríamos que refletissem neste post é: Como brasileiros, conseguimos nos identificar como latinos? Valorizamos nossa cultura e nosso povo, deixando de lado pensamentos coloniais herdados pelos europeus? 

Se a resposta for não, você pode começar a mudar esta realidade, e o What’s Rel? está aqui para te ajudar 🙂 

Para conhecermos mais sobre os nossos vizinhos, separamos 15 músicas que contam a História sob a perspectiva latina. Coloquem seus fones de ouvido e venham conferir:

 

  1. Latinoamérica – Calle 13

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Começamos com a música da banda porto-riquenha Calle 13, conhecida por suas composições de cunho social e altamente politizadas. 

Na canção Latinoamérica podemos perceber a posição anti-imperialista da banda que, durante toda a canção, critica de forma clara a exploração do continente por outros países, especialmente pelos Estados Unidos. Dentre os versos do refrão, a canção afirma: “Você não pode comprar o vento / Você não pode comprar o Sol / Você não pode comprar a chuva / Você não pode comprar o calor” (tradução nossa). 

Há referências à Operação Condor no verso: “A operação condor invadindo meu ninho / Perdoo, porém nunca esqueço” (tradução nossa). É importante lembrar que o Plano Condor representou a estratégia norte-americana durante a Guerra Fria, orientada pela Doutrina de Segurança Nacional. Com este plano, o governo estadunidense promoveu e apoiou ditaduras na América Latina, com o propósito de conter o avanço dos setores de esquerda na região.

Além disso, a letra exalta o povo latino, apresentado como forte e guerreiro, e enfatiza as belezas naturais do continente.  A gravação da canção ocorreu em 2010 e contou com participação da colombiana Totó La Momposina, da peruana Susana Baca e da brasileira Maria Rita. 

 

  • Hijos del Cañaveral – Residente

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O vocalista da banda Calle 13, citada acima, também possui canções politizadas lançadas em sua carreira solo. Com o título “filhos do canavial”, a canção denuncia o colonialismo espanhol e norte-americano no Porto Rico e exalta os escravos da cana-de açúcar, explorados e dominados durante o período. O artista expõe a exploração em versos como: “Crescemos, porém para que outro se aproveite / Somos um povo com dentes de leite / Os filhos do trabalho sem merenda / A limonada para o capataz da fazenda” (tradução nossa). 

Além disso, o cantor exalta a identidade do povo caribenho, mostrando alguns aspectos culturais e sua força para superar obstáculos como os problemas econômicos e os furacões que ocorrem com frequência na região.

 

  • De Donde Vengo Yo – ChocQuibTown

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A canção de 2010 é uma das mais animadas do grupo colombiano, conhecido por misturar diversos ritmos em seu repertório. Devido à rica composição, recebeu o prêmio de melhor Canção Alternativa do Grammy Latino em 2011.  

Na letra, os músicos apontam as belezas e a alegria do povo colombiano, ao mesmo tempo em que expõem os problemas enfrentados pelo país, como a pobreza, o racismo, a exploração por países estrangeiros e o deslocamento forçado. É importante pontuar que o país apresenta um dos maiores índices de pessoas deslocadas forçosamente, perdendo apenas para a Síria e para o Congo. O motivo está na violência do conflito armado presente desde os anos 60, uma guerra assimétrica entre o governo colombiano, grupos paramilitares, traficantes e guerrilheiros de esquerda.

 

  • Alerta – Evelyn Cornejo

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A canção da cantora chilena é um hino que clama pela resistência dos oprimidos, ao citar os indígenas, os operários, os estudantes e a luta destes grupos por seus direitos. No trecho “Resiste, mapuche, resiste”, a cantora traz visibilidade para a questão dos Mapuches, povo originário da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina, que luta pela recuperação de seu território ancestral, pelos direitos indígenas e pelo reconhecimento por parte do Estado de suas especificidades culturais. 

Outro ponto importante na canção é o verso “Ya estamos libres de la monarquía absoluta /  Hoy nos atormenta la democracia y su yunta”. Com esta frase, a música apresenta a visão de que os problemas e as mazelas da América Latina não foram resolvidos com a independência, já que o modelo de democracia liberal trouxe novas formas de exploração e desigualdades.

Por fim, vale citar também as referências da canção ao militar e líder político venezuelano Simón Bolívar, conhecido por coordenar as campanhas militares responsáveis pela independência de cinco países sul-americanos: Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia.

 

  • Cartonero – Attaque 77

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A banda de punk rock argentina formada nos anos 80 traz em suas composições diversas críticas sociais. Na canção Cartonero, os músicos abordam o cotidiano de um catador de lixo, retratando as dificuldades do dia-a-dia das classes mais pobres no país. Ainda, a banda vai além ao criticar a lógica do sistema capitalista e a corrupção entre os mais ricos. 

É importante lembrar que, assim como no Brasil, a desigualdade econômica na Argentina foi intensificada após a ditadura militar que ocorreu entre 1976 e 1983. Sobre este período conturbado da história do país, os músicos escreveram a canção “Setentistas” que denuncia a alta censura e a violência do regime.

 

  • Somos Sur (Feat. Shadia Mansour) – Ana Tijoux

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Lançada em 2014, a canção chilena evoca a voz de “todos os calados, todos os subjugados e todos os invisíveis” (tradução nossa). Trata-se de mais um exemplo de canção sobre resistência, que cita, além dos latinos, a questão palestina e os africanos. Um fato interessante é que a música ganhou repercussão durante os protestos sociais que surgiram no Chile a partir de 2019, contra as desigualdades herdadas pela Constituição pinochetista. Sobre o episódio, a cantora compôs a canção “Rebelión de Octubre”, lançada em 2020. 

Ana Tijoux traz em suas canções muitas de suas vivências pois, apesar de ter crescido na França, retornou ao Chile com sua família após o exílio desde a ditadura de Pinochet.  Além disso, algumas letras como “Antipatriarca” e “Mi Verdad” contribuem para o movimento feminista das mulheres latinoamericanas. 

 

  •  Hay un son – Orishas

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Orishas é um grupo cubano de hip-hop fundado em 1999, na cidade de Havanna. O grupo funde a cultura afro-americana composta por hip hop e rap com ritmos latinos, em canções normalmente bem animadas e agitadas. Uma curiosidade interessante a respeito da banda é o fato de terem sido homenageados e presenteados com uma festa organizada por Fidel Castro logo nos anos iniciais de sua formação. Foi a primeira vez que o governo cubano mostrou apoio à música hip hop.

Nesta canção lançada em 2007, os músicos apresentam um pouco da cultura cubana, citando danças e instrumentos típicos como o bolero, rumba e pandeiros, além de citar a Santería, religião cubana trazida pelos escravos africanos. Esta última mistura a cultura do povo Iorubá com elementos do cristianismo, na tentativa de preservar suas tradições em um ambiente cultural dominado pelos europeus. É importante lembrar que em Cuba a ancestralidade africana está fortemente presente na consciência nacional, já que muitos cubanos são descendentes de nigerianos, escravos trazidos durante o período colonial para o cultivo da cana-de-açúcar. 

No mais, é interessante pontuar que a banda Orishas contribuiu para uma maior visibilidade do país no cenário internacional, com a comercialização da cultura cubana após a guerra fria. País socialista em meio a um continente fortemente influenciado pelo liberalismo estadunidense, Cuba foi por muitos momentos exclusa pelos demais. Assim, vemos na canção dos Orishas a tentativa da arte de desconstruir este afastamento cultural e social em relação aos seus vizinhos. Seus primeiros álbuns “A lo cubano”, de 1999 e “Emigrante” de 2002, alcançaram grande sucesso no mercado internacional, apresentando canções nacionalistas e de cunho social. 

 

  • Venas Abiertas – Mercedes Sosa

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Uma das cantoras mais famosas da América Latina, a argentina Mercedes Sosa lançou esta canção em 1985. Assim como outras de suas composições, a exemplo de  “Canción con todos”, a letra aborda a integração latina e o nome do título, “Venas Abiertas,” faz referência à renomada obra do uruguaio Eduardo Galeano, o livro “Veias Abertas da América Latina”, de 1979. Esta abordagem denuncia a exploração e a dominação da região por países europeus e, mais tarde, pelos Estados Unidos. 

Uma curiosidade a respeito de Mercedes Sosa se dá em sua afinidade com os músicos brasileiros. O  álbum “Corazón Americano”, lançado em 1985, contou com a colaboração do cantor e compositor brasileiro Milton Nascimento. Além disso, a canção “Volver a los 17”, presente no álbum supracitado, possui uma versão com participação de Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gal Costa. 

 

  • Sulamericano – BaianaSystem

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Chegamos às canções brasileiras, afinal, somos parte deste imenso complexo cultural chamado América Latina. Neste campo, estamos bem representados pela banda BaianaSystem, um grupo de músicos baianos que mistura gêneros afro-latinos com o sound system jamaicano, transacionando entre o samba, reggae, rap rock e ijexá. Várias de suas canções possuem um posicionamento político e social, a exemplo da música escolhida nesse tópico.. A canção lançada em 2019 faz parte do disco “O futuro não demora”, vencedor da 20ª edição do Grammy Latino, na categoria de melhor álbum de rock. 

A letra apresenta um caráter de resistência e um alerta que demonstra a desconfiança dos músicos em relação aos Estados Unidos, mais especificamente, ao governo do democrata Barack Obama (2009-2017). Assim, a canção diz: “Avisa o americano / Eu não acredito no Obama / Revolucionário, Guevara / Conhece a liberdade sem olhar no dicionário” (tradução nossa).  Este trecho ilustra o sentimento da comunidade internacional para com a política externa de Obama, visto que, no início de seu mandato havia expectativas sobre o abandono do unilateralismo e militarismo republicanos e uma mudança de postura em relação aos aliados. Além disso, Obama proclamava a pauta dos Direitos Humanos e prometia encerrar as guerras no Afeganistão e no Iraque. 

Porém, durante seu governo, o caráter transformacional da administração não se sustentava mais, já que muitas de suas promessas não foram cumpridas. Em relação à América Latina, apesar de ter mantido certa aproximação, como o fato de ter reatado relações diplomáticas com Cuba em 2014, percebe-se uma desconfiança bilateral, fruto de diversos fatores, como a aproximação da região com a China, em termos econômicos. 

Portanto, trata-se de mais uma canção que chama a atenção para o histórico imperialista norte-americano. Além disso, a gravação conta com a participação de Manu Chao, músico francês descendente de espanhóis. Manu traz a figura do “Señor Matanza”, personagem presente em outras de suas canções. Este personagem representa um político que se diz contra a violência e defensor de pautas sociais, ao mesmo tempo em que lucra às custas dos mais pobres e da Guerra ao Terror. 

 

  • América Latina – Fábio Brazza

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O rapper brasileiro Fábio Brazza denuncia a matança e aniquilamento dos povos indígenas pelos europeus, trazendo um caráter nacionalista e territorialista para a canção. Lançada em 2018, a música traz frases em português e em espanhol. Um de seus trechos afirma: “Quem descobriu o Brasil não foi Portugal / Índios já viviam aqui irmão, muito antes de Cabral / Mas sua herança cultural / Foi dizimada pelas garras sedentas da matança colonial”. A estrofe continua com “E os mais americanos dentre nós / Nunca tiveram voz / Pois a história foi contada pelos vencedores / Portugueses e espanhóis / Que fizeram questão de transformar os assassinos em Heróis”. Neste contexto, a música cita três figuras, como Hernán Cortés, Fernando Pizarro e Tupac Amaru. Os dois primeiros seriam os vilões, conquistadores e exploradores da América. Já o segundo representa o herói indígena executado e torturado pelos espanhóis, sendo o último imperador inca de Vilcabamba, região atual do Peru.

Além disso, o cantor demonstra que a exploração da região continua a existir, com o verso: “E ainda é um mistério, os que antes vinham de caravelas / Chegam hoje pelo espaço aéreo / Até marítimo e a colonização segue seu ritmo / Tomadas pelas forças do outro lado do hemisfério”.

 

  • Baile Sudaca – Francisco, el Hombre

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Chegamos à banda brasileira Francisco, el Hombre, formada pelos irmãos mexicanos naturalizados brasileiros Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte. O próprio nome da banda faz referência a um personagem do livro 100 anos de solidão, de Gabriel Garcia Marquez; obra que é considerada a mais importante da literatura latino americana e que concedeu o Nobel de Literatura à Garcia Marquez. A canção conta com a participação do grupo chileno Moral Distraída e denomina a América Latina como “um viveiro de línguas e lutas de séculos”. A letra também retrata os latinos como povo alegre e caloroso. 

Um fato interessante é que a expressão “baile sudaca” inverte o sentido do termo empregado, em um tom de ironia, já que sudaca é adjetivo pejorativo e xenofóbico utilizado para definir nós, sul-americanos, de forma depreciativa. Considerando este ponto, vale citar que, como região tradicionalmente exportadora de imigrantes, a América Latina sofre preconceito que perpassa por dois âmbitos: o primeiro tem origem externa e está relacionado aos países desenvolvidos, como os Estados Unidos e os europeus, que pregam políticas públicas de exclusão e fechamento de fronteiras. Já o segundo, tão grave quanto, é a exclusão e o preconceito dentro do próprio continente, com o aumento do intercâmbio de pessoas entre o bloco Sul e a má recepção dentro do próprio solo. Em relação ao Brasil, podemos perceber este fato nas falas de algumas pessoas em relação aos venezuelanos ou até mesmo em discursos do então atual presidente Jair Bolsonaro a respeito dos médicos cubanos.

 

  • El Derecho de Vivir en Paz – Versão Colaborativa

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A canção composta em 1971 por Víctor Jara ganha nova versão em 2019, com a junção de 29 músicos chilenos, no intuito de protestar contra a violência do governo durante as famosas manifestações populares que ocorreram no país naquele ano. Além da homenagem a Jara, ícone político preso, torturado e fuzilado durante a ditadura de Pinochet, a canção se mostra atual pois clama o direito de todos os cidadãos de viver em paz em seus países de origem. É um clamor em relação aos direitos humanos, condenando guerras, genocídios, ditaduras e a violência policial ao redor do mundo.

Nesta versão, alguns trechos foram modificados, adequando-se à realidade chilena atual:
“O direito de viver sem medo em nosso país / Em consciência e unidade com toda a humanidade / […] / Com respeito e liberdade / Um novo pacto social / Dignidade e educação, que não haja desigualdade / A luta é uma explosão que funde todo o clamor / O direito de viver em paz” (tradução nossa). 

 

  • Mojado – Ricardo Arjona

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Lançada em 2005 pelo cantor guatemalteco Ricardo Arjona, a canção retrata a situação dos imigrantes clandestinos e critica a burocracia para legalizar a estadia destas pessoas nos países estrangeiros. Vale lembrar que na América, o país que mais recebe imigrantes é os Estados Unidos, que possui leis de imigração restritas. Segundo dados que coletamos da BBC International, cerca de um em cada quatro imigrantes, ou 11,1 milhões de pessoas, vive no país sem autorização legal, sendo a maioria deles mexicanos e asiáticos. 

Nos versos: “A grande necessidade de um papel / Lhe tornou um fugitivo / E não é daqui porque o seu nome não aparece nos arquivo / E nem de lá porque se foi” demonstra uma das consequências da problemática, sendo a falta de direitos e de cidadania para estas pessoas. 

 

  • Somos más americanos – Los tigres del norte

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A canção do grupo mexicano brinca com a palavra “americano”, utilizada pelos estadunidenses para definir aqueles que nasceram no país, em uma retórica imperialista. Porém, como todos sabemos, a América abrange muito mais que este país, sendo composta por 3 grandes complexos distribuídos em norte, central e sul. Durante toda a canção, os músicos criticam e ironizam os Estados Unidos e afirmam que eles, como mexicanos, “são mais americanos que o filho do anglo-saxão”. Neste sentido, americano é o latino e o mestiço e não o descendente de inglês.

Além disso, a banda expõe suas vivências na canção, posto que todos vivem na Califórnia e já sofreram preconceito em território estadunidense. Eles deixam o recado: “Eles já gritaram comigo mil vezes para voltar para minha terra / Porque aqui eu não me encaixo / Quero lembrar ao gringo: não cruzei a fronteira, a fronteira me cruzou / A América nasceu livre, o homem a dividiu.” (tradução nossa)

 

  •  Hasta la Raíz – Natalia Lafourcade

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Chegamos a última canção da nossa lista, mas não menos importante. Nesta canção de pop alternativa, a cantora mexicana apresenta um sentimento lírico a respeito de suas raízes. A canção que pode ser facilmente confundida com uma mensagem amorosa, fala sobre identidade e amor aos seus descendentes. Uma curiosidade é que a cantora escreveu a canção em um projeto para celebrar o Bicentenário do México e, para se inspirar, viajou para outros países da América Latina como Cuba e Colômbia. 

Outra curiosidade a respeito da faixa é o fato de ter sido regravada em outubro de 2020, em uma colaboração do Comitê Internacional da Cruz Vermelha com o projeto  Playing for change, que une músicos em prol da mudança global. A regravação da canção possuía o intuito de lembrar o Dia Internacional dos Desaparecidos, vítimas de desaparecimentos forçados por ditaduras e pela violência policial. Você pode ouvir esta nova versão aqui.

 

Gostou desse post? Confira essa e outras músicas na nossa segunda playlist, criada com muito carinho pra vocês: ¡Víva la América!

 

Viva a América! Aquí se respira lucha!

 

Esse artigo foi produzido com a ajuda da internacionalista formada pela UFF e Colaboradora Voluntária Marina Fontoura. 

 

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