ENTREVISTA COM CRISTINA BADARÓ

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É com muito orgulho que o Whats´Rel? – em comemoração de seus 4 anos de vida – entrevista a Diplomata Cristina Badaró, formada em RI pela PUCMINAS. Compartilhamos mais esta história com vocês!

A entrevista é muito esclarecedora para aqueles que desejam realizar o sonho de ingressar na carreira diplomática. Um especial agradecimento à Cristina que aceitou de cara nosso convite para participar do What´s Rel? e compartilhar com nossos leitores informações valiosas!

Obrigada, Cristina e parabéns pela carreira de sucesso!

  • Ano em que se graduou em RI: 2009
  • Instituição de ensino onde se graduou em RI: PUC-Minas
  • Idade: 27
  • Cidade onde mora: Oslo
  • Instituição para a qual trabalha: Ministério das Relações Exteriores
  • Cargo exercido: Diplomata
  • Há quanto tempo trabalha nesta instituição: 5 anos

 

O que a motivou fazer o curso de RI?

Na verdade, eu acabei fazendo RI quase que por acidente. Aliás, quase todas as coisas mais importantes da minha vida não saíram exatamente do jeito que eu planejei, mas no final deu certo. Eu havia me inscrito para o vestibular de Medicina na UFMG, mas me arrependi porque percebi que não tinha nada a ver comigo. Resolvi explorar outras possibilidades e, como a inscrição da PUC ainda estava aberta, resolvi me inscrever num curso relativamente afeto à minha área dos sonhos (Economia), que não fosse ofertado pela UFMG. Eu sei que é um motivo bastante fútil para fazer um curso, mas é difícil fazer escolhas tão importantes aos 17 anos! Eu acabei passando no vestibular de Economia da UFMG no ano seguinte e terminei os dois cursos.

Conte um pouco da sua trajetória profissional e sua situação atual. 

Eu tive bastante sorte em ser aprovada no Concurso de Admissão à Carreira Diplomática (CACD) recém-saída da Universidade (aliás, outro marco da minha vida que não foi exatamente planejado, como eu vou detalhar adiante), então minha carreira após a formatura foi exclusivamente no Ministério.

Assim que fui aprovada no CACD iniciei as aulas no Instituto Rio Branco. Na época, nós tínhamos um semestre de aula em horário integral e dois semestres com aulas no período da manhã e estágio em uma das unidades da Secretaria de Estado no período da tarde. Eu fiz os dois semestres de estágio na Divisão de Cooperação Financeira e Tributária (DCF), onde acabei sendo lotada depois da formatura do IRBR. A DCF trata de empréstimos e financiamentos de organismos multilaterais e de outros países a entes federados brasileiros; perdão de dívidas a países pobres: cooperação tributária multilateral no G-20 e no Fórum Global de Transparência Tributária da OCDE: e assinatura de acordos tributários bilaterais. Foi uma experiência bastante recompensadora, pois eu pude aplicar ambas as minhas formações, em Economia e RI; trabalhar em coordenação com outras unidades do governo, como a Receita Federal e o Ministério do Planejamento; participar de negociações delicadas como a assinatura do Acordo de Implementação do FATCA com os Estados Unidos, e representar o Brasil em reuniões multilaterais do Clube de Paris.

Além de trabalhar na DCF, eu também fui diplomata de ligação (o funcionário, geralmente iniciante na carreira, que atua como ponto focal entre a equipe de uma autoridade estrangeira em visita e as autoridades brasileiras) durante a Aliança de Civilizações, em 2010, e durante a Rio +20, em 2012.

Outra experiência interessante que tive na carreira foi realizar uma missão transitória de dois meses em Taiwan, quando trabalhei no Escritório de Represetanção em Taipé.

Depois de 4 anos trabalhando na mesma divisão, eu já estava com vontade de seguir novos desafios e resolvi tentar minha primeira remoção. O processo de remoção no MRE envolve um difícil equilíbrio entre as necessidades da administração, a vontade dos funcionários e a lotação dos Postos. Eu acabei sendo removida para a Embaixada do Brasil em Oslo, onde estou há 5 meses. Fiquei muito feliz de ter sido “sorteada” para a Noruega, já que acho mais interessante trabalhar com parceiros não necessariamente tradicionais do Brasil, que tenham potencial para criação de novas iniciativas. Na Embaixada eu sou primariamente responsável pelo setor político (o que é responsável pela comunicação entre o Governo Brasileiro e o governo local, bem como é responsável por informar Brasília sobre a movimentação política do país); mas como é um Posto pequeno eu acabo fazendo de tudo um pouco e também realizo atividades relacionadas a administração e ao atendimento consular.

Fez estágio de RI? Onde? Qual a importância deste fator na sua carreira?

Eu fiz estágio no site Conjuntura Internacional da PUC-Minas e em uma empresa de importação, e acho que não foram determinantes na minha carreira, apesar de ter sido interessante fazer algo variado enquanto eu estava na graduação.  Aliás, talvez a experiência com importação serviu para eu perceber que não curto a área comercial (apesar de que não descarto trabalhar com isso no futuro, já que a carreira diplomática sempre pode arrumar um jeito de surpreender).

Fez intercâmbio? Onde e quando? Em que medida acredita que isto afetou positivamente a sua carreira?

Não fiz intercâmbio de estudo, mas participei de um programa universitário de trabalho nos EUA. Acho que ele não contribuiu muito para a minha carreira, mas, no nível pessoal, foi uma grande preparação para morar sozinha em outro país, como estou fazendo agora.

Você chegou a atuar profissionalmente antes de ingressar na carreira diplomática?

Fiz apenas estágio.

Fez mais algum outro curso de graduação? Qual e Por quê?

Eu também fiz graduação em Economia, tanto por  satisfação pessoal quanto por temer o mercado de trabalho de Relações Internacionais. Agora vou soltar aqui uma declaração polêmica: acho que não vale a pena fazer duas graduações ao mesmo tempo. No meu caso, me ajudou bastante, pois eu não teria passado de primeira no CACD sem fazer cursinho preparatório se não fosse pela minha formação conjunta. No entanto, eu sou uma exceção: há anos que ninguém é aprovado sem fazer cursinho e a carreira diplomática é apenas uma parcela do mercado de trabalho para formados em Relações Internacionais. Em qualquer outra área de trabalho, tanto de RI quanto de Economia, a dupla graduação teria fechado mais portas do que aberto para mim.

Fazer duas graduações é um processo caro, cansativo e com pouca vantagem real. Eu perdi diversas oportunidades de fazer estágio, não conseguia acompanhar toda a carga de leitura necessária, me formei praticamente sem uma networking e fui prejudicada até no nível pessoal, pois tinha menos férias devido à diferença no calendário das duas universidades. Eu não recomendaria essa rota para alguém que está entrando na Universidade, a não ser que ela tenha algo bastante específico em mente quanto à carreira.

Como foi o seu processo de tomada de decisão para ingressar nesta carreira?

Bem, novamente vou ter que admitir aqui que a minha carreira não foi fruto de um longo planejamento, mas uma administração das circunstâncias. Eu digo isso porque acho que se deve desmistificar um pouco a diplomacia. É uma carreira que pode ser extremamente recompensadora, que parece exótica para quem vê de fora e que abre um leque de oportunidades para você. No entanto, não é um sacerdócio ou uma profissão de fé. Você não precisa ter sonhado em ser diplomata desde criança para ser um bom profissional, basta ter força de vontade e conhecimento suficientes.

Eu estava com poucas perspectivas de emprego quando estava terminando a graduação e resolvi fazer o concurso, mais por insistência familiar, já que seria o “caminho natural” da minha graduação, do que por vontade própria. Eu sinceramente não tinha a menor esperança de passar e  estava deixando a definição do meu futuro profissional para 2010 (eu tomei posse em agosto de 2009 e só me graduei em Economia em fevereiro de 2010). À medida que eu fui avançando nas fases do concurso o projeto diplomacia foi tomando mais contornos nos meus planos de futuro.

Como era sua rotina de estudos para passar no concurso? Quanto tempo levou para alcançar seu objetivo?

Eu não tive uma rotina para passar no concurso, pois ainda estava fazendo duas graduações, além de estágio, e passei na primeira tentativa. Mas, na verdade, a minha preparação para o concurso durou os 4 anos da minha graduação. Eu já havia lido a maior parte das indicações bibliográficas e tentei aplicar os conhecimentos que eu tinha da graduação para as provas do concurso, mesmo que não fossem diretamente da minha área. Por exemplo, os conceitos de Economia Regional que eu aprendi na faculdade foram essenciais para que eu garantisse uma boa nota na prova de Geografia do CACD.

Em sua opinião, qual a maior dificuldade de um analista de RI com relação ao mercado de trabalho?

Não tenho como responder essa pergunta, já que fui aprovada no concurso logo após a formatura e não tive muito contato com o mercado de trabalho.

Em que medida seus relacionamentos interpessoais (networking) foram importantes na sua carreira?

Para passar no concurso não, já que ele é absolutamente impessoal. Na minha carreira no Itamaraty, sim, são importantes. Os contatos que você faz ao longo da carreira (ou que eventualmente tenha antes de entrar) influenciam bastante em questões como remoção, promoção, missões eventuais, lotação na Secretaria de Estado etc.

Se pudesse dar alguma dica aos futuros analistas internacionais que desejam seguir a sua carreira, qual seria? E para os colegas que já são analistas, mas têm dificuldades de se posicionar no mercado de trabalho ou de tomar a decisão de estudar para este concurso?

Minha dica é encarar a diplomacia como qualquer outra profissão. Para ser aprovado no concurso, você não precisa ser extremamente inteligente, abdicar de toda vida social, ser filho de diplomata ou sei lá que outro mito sobre a profissão. Basta contar com um misto de preparação, formação, paciência e, claro, de sorte.

 

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