Em conversa com o What’s Rel?, Walkiria Zambrzycki nos contou os aprendizados de sua trajetória profissional, além de dar dicas para um internacionalista ter uma carreira de sucesso.
Formada em Relações Internacionais pela PUC Minas, Walkiria é mestre em Ciências Políticas pela Universidade Federal de Minas Gerais e possui doutorado em Ciências
Políticas pela UERJ. Além disso, é técnica em administração de empresas pelo SEBRAE.
Possui experiência nas áreas de Pesquisa e Gestão Pública e atualmente é Diretora na
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de MG, atuando na atração de
investimentos e diversificação econômica. Dentre suas atividades extracurriculares,
destacam-se o voluntariado e o domínio dos idiomas alemão, francês e inglês.
1- Por que você escolheu cursar Relações Internacionais?
A minha resposta para essa pergunta é o fio condutor de toda a nossa conversa.
Eu vim de uma família que me pressionou muito para fazer medicina, direito ou engenharia, porém nenhuma dessas carreiras me agradavam. Descobri Relações Internacionais durante o ensino médio, na escola técnica de formação gerencial do SEBRAE. Era uma metodologia bem inovadora e diferente, um curso integral que me dava educação profissional de nível técnico. Ao final do curso, nosso projeto consistia em montar uma empresa e montei uma de assessoria em Comércio Exterior. Foi meu primeiro contato com “RI”.
Além disso, eu sempre quis um curso que me proporcionasse uma liberdade de atuação, sem que houvesse uma carreira linear e estrita a ser seguida. E o que eu buscava, encontrei: para mim, RI é um curso dinâmico e interdisciplinar, que te induz de alguma forma a pensar fora da caixa. Na época, eu lia que o mercado de trabalho estava procurando pessoas dinâmicas, que possuíssem capacidade de se posicionar e fazer uma leitura de diferentes cenários. Hoje, acredito que o aluno de RI consegue se inserir no mercado por meio destas características, desde que saiba onde e como se posicionar.
2- Após a graduação em Relações Internacionais, você ingressou no programa de pós-graduação em Ciência Política. Como você entende a aproximação do campo das Relações Internacionais com esta área?
Eu me apaixonei por Ciência Política assim que entrei para a área de gestão pública, logo antes de me formar. Para mim, Ciência Política e Relações Internacionais não são complementares. Usando de uma metáfora, é como se a primeira fosse um guarda-chuva e as RI estariam dentro dela, como uma subárea. Em Ciência Política, nós ampliamos o leque de conhecimento, pois além de RI, estudamos política pública, questões de gênero, relação entre executivo e legislativo, comportamento eleitoral, dentre muitos outros campos. Enquanto a Ciência Política estuda a teoria mais densa do comportamento humano, RI foca mais no comportamento estatal.
3- Você também foi professora universitária, atuando em universidades federais e privadas. Por que você se interessou pela carreira acadêmica?
A pesquisa e docência sempre me atraíram muito, desde a graduação. Quando ingressei no mestrado, eu já tinha a pretensão de ter uma trajetória acadêmica, mesclando esta ocupação com outras atividades profissionais.
É uma profissão muito honrada e aproveito para dar algumas dicas aos estudantes que se interessam pela carreira. A primeira delas é que o mestrado e o doutorado são fundamentais para se especializar cada vez mais. A segunda é que há possibilidades de seguir uma área de pesquisa e atuar no mercado por fora em outras frentes, como uma dupla inserção.
O espaço acadêmico é um campo de atuação muito rico, que incrementa e acrescenta o profissional em diversos âmbitos. A pessoa enquanto acadêmica possui uma entrada e um vínculo no campo que ela atua muito diferente do que se ela fosse um profissional de uma empresa privada ou órgão público, por exemplo.
4- Você também possui vivência como voluntária em um hospital no Rio de Janeiro. Quais foram as contribuições do voluntariado para sua vida pessoal e profissional?
As contribuições se deram mais no âmbito pessoal. Sempre tive o desejo de despender meu tempo e colocar meus conhecimentos à disposição dos que precisam. No lixão do Gramacho, área em que o projeto ocorreu, havia total ausência de acesso a qualquer política pública. O projeto inicial consistia em ajudar mulheres carentes a se inserirem, dentro da realidade delas, no mercado. Em um momento ajudei na construção de uma escola, por exemplo, e sinto que foi muito enriquecedor, pois estava trazendo minha experiência profissional em prol de um bem maior.
5- Observamos que durante sua trajetória profissional você precisou se mudar de cidade algumas vezes, tendo nascido no interior de Minas, se mudado para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília, por exemplo. Como foi esse processo?
Eu fui orientada primeiramente pelos estudos, saindo do interior de Minas para estudar na capital. Posteriormente, me mudei para o Rio de Janeiro para fazer o doutorado. Além disso, meu campo de atuação profissional me levou a mudar para as cidades de Brasília e Belo Horizonte.
6- Seu campo de atuação perpassa a área de Gestão Pública. Quais áreas de políticas públicas você já atuou?
Minha primeira experiência profissional se deu na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana de Minas Gerais, portanto comecei trabalhando com política de habitação. O meu mestrado foi nesta área e escrevi um livro sobre o tema, inclusive há um post no What’s Rel? divulgando o lançamento.*
Depois de alguns anos, migrei para a Segurança Pública, através da Ciência Política. Trabalhei no Ministério da Justiça durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, ajudando na articulação federal do Pacto Nacional de Redução de Homicídios. Ali, consegui agregar com minha expertise sobre sistemas federativos, ou seja, o estudo sobre a dinâmica entre município, estado e governo federal, um tema muito em alta atualmente devido à pandemia.
Já em 2019, fui trabalhar na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, com a pauta prisional. É importante pontuar aqui que, apesar de fazer parte da Secretaria de Segurança Pública, as políticas penais estão em outra esfera. Elas dizem respeito ao processo jurídico após o momento de apreensão, quando o indivíduo responde à justiça pelo crime que cometeu. É um conjunto de serviços ofertados pelo poder público para que a pessoa cumpra com sua sentença. As políticas penais não envolvem apenas prisões, mas sim outras formas de responsabilização do indivíduo, de acordo com a legislação brasileira.
Por último, em meu emprego atual, atuo com a gestão pública sobre o desenvolvimento econômico, um outro viés.
7- Como mencionado, nos últimos anos seu foco na gestão pública se deu no campo econômico. Quais aprendizados adquiridos durante a graduação em Relações Internacionais têm sido fundamentais para o trabalho na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico?
O curso de RI foi muito importante para o meu cargo atual. As disciplinas de economia e desenvolvimento econômico da graduação me permitiram fazer pontes entre teorias de desenvolvimento econômico e aspectos da política internacional e política doméstica. Portanto, me permitem fazer uma leitura do cenário econômico de forma dinâmica. Além disso, a área que eu atuo tem intensa relação com o Comércio Exterior, fortalecendo ainda mais minha expertise como internacionalista.
8- Quais habilidades e soft skills você considera essenciais para que um internacionalista desenvolva uma carreira de sucesso?
Em minha opinião, o internacionalista precisa ser dinâmico e proativo, pensando problemas e soluções de forma conjunta. A ideia é sempre trazer a solução antes que alguém pergunte, esta característica é muito valorizada pelo mercado.
Além disso, é importante ter um raciocínio fluido, que permita fazer associações e leituras de diferentes cenários. O internacionalista possui vantagem nesta parte, já que no curso adquirimos a capacidade de conexão entre diferentes assuntos.
9- Além do inglês, você tem domínio do francês e alemão. O que a motivou a aprender estes dois últimos idiomas? Quais outros idiomas você recomenda que nossos leitores deem atenção para conquistar uma posição de destaque no mercado de trabalho de Relações Internacionais?
Normalmente, o estudante de Relações Internacionais já possui a pretensão de aprender uma segunda ou terceira língua no início do curso. Como eu já falava inglês, tive a ideia de fazer francês, por ser a língua da diplomacia, valorizada pelo Instituto Rio Branco. Foi bem necessária por sinal, visto que hoje em dia em meu cargo atual utilizo muito o francês.
Já o alemão, eu quis aprender por ser uma das línguas mais faladas na Europa. A Alemanha é um país muito populoso, além de ter um papel de destaque comercial na União Europeia.
Sobre os idiomas que necessitam de atenção do estudante de RI, além do inglês cito o espanhol, principalmente. Me arrependo de não ter estudado e me faz falta atualmente. É a língua de importantes parceiros comerciais do Brasil e está muito em alta.
10- Qual foi a maior dificuldade que você encontrou em sua jornada profissional e como você conseguiu superá-la?
Acho que a minha maior dificuldade foi a dúvida sobre a inserção no setor privado. Eu não sabia se as empresas desse setor iriam valorizar o meu mestrado e doutorado. Acho que há um momento em que todos os alunos se perguntam se devem mesmo apostar em mestrado ou doutorado, pois o Brasil ainda tem grande dificuldade de assimilar o que a Universidade produz e o que o mercado de trabalho valoriza. Foi um desafio profissional. Algumas vezes tive a dúvida se deveria mandar meu currículo para vagas de trainee, por exemplo, já que o mercado valoriza mais outros tipos de pós graduação, como um MBA.
Hoje me sinto realizada profissionalmente, pois como eu tive essa aproximação com o mundo acadêmico, eu fiquei por lá. Mas o desafio e o dilema ocorreram em determinado momento e cabe aqui a reflexão: devemos sempre tentar construir pontes entre este setor e a academia.
* Walkiria Zambrzycki é autora do livro “Entre dois mundos: a política de habitação em Minas Gerais e o conflito federativo”. Para conferir o post do What’s Rel? sobre o lançamento, clique aqui)
Esta entrevista foi realizada pela internacionalista Marina Fontoura.