Atualmente, professor na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP e co-fundador do canal no youtube Em Dupla Com Consulta, na companhia de Fernanda Magnotta. Mestre e Doutor pelo programa de pós-graduação San Tiago Dantas e pesquisador na Georgetown University.
Com uma jornada de muito sucesso, Lucas Leite nos contou um pouco mais sobre sua trajetória e o que pensa sobre o presente e futuro das Relações Internacionais. Continue a leitura para saber mais sobre a nossa Entrevista com Lucas Leite – Carreira acadêmica em Relações Internacionais.
O que o motivou a fazer o curso de RI? Como foi o seu processo de tomada de decisão para ingressar na carreira acadêmica?
Eu tive sorte de ter o curso bem próximo a mim desde o ensino médio por que uma prima fazia RI e sempre me falava das disciplinas, das possibilidades etc. Inicialmente, eu queria estudar História, mas no 3º ano do ensino médio mudei de ideia e acabei me inscrevendo para RI na PUC-MINAS e fui aprovado. Como eu sempre gostei de política, história, economia e tudo o mais que estudamos em RI, foi paixão à primeira vista. O ingresso na carreira acadêmica se deu principalmente pelos meus interesses em fazer pesquisa, mas também pela forma com que construí minha atuação durante a graduação: participei de simulações, monitoria, centro acadêmico, e percebia que tinha uma aptidão e interesse maiores nas questões relacionadas à segurança internacional e política externa. Como queria continuar a entender sobre esses temas, me encaminhei para um TCC focado nessa área que me levou posteriormente ao mestrado. Do mestrado pra frente foi um pulo para a Academia.
Quais dicas você daria aos analistas internacionais que desejam seguir a sua carreira acadêmica?
Em primeiro lugar, entenda que é um percurso longo e difícil – especialmente no contexto político e econômico em que vivemos. Para dar aula, o mínimo obrigatório é ter uma especialização, mas é muito improvável que isso abra portas na carreira acadêmica. Ou seja, é necessário fazer um mestrado e, posteriormente, um doutorado. Aqui em São Paulo, onde trabalho, a demanda costuma ser de, pelo menos, mestres que já estejam no doutorado – o que demonstra o tamanho da competição. Como toda carreira, trata-se muito mais de uma maratona do que de uma corrida rápida. São, em média, 2 anos de mestrado e mais 4 de doutorado, se tudo der certo. Em segundo lugar, pense além do mestrado e do doutorado, dica que vale para quem está na graduação: todo mundo vai ter as aulas, os créditos, a dissertação/tese, então é preciso se diferenciar. Vai importar muito os contatos que você fizer, as redes que construir, os relacionamentos ao longo do período. Não falo aqui de indicação ou coisa do tipo, mas de saber que não se faz nada sozinho; então, não adianta ser um excelente pesquisador que não sabe interagir ou trabalhar em grupo. Tem que saber que vai trabalhar com burocracia, com eventos, com problemas, tudo muito além das aulas e da pesquisa. E, por fim, a questão das atividades em si: é muito raro encontrar formações que se preocupem em “ensinar” a dar aula. Então, se prepare para aprender na marra como preparar uma aula, como organizar um plano de ensino, como construir uma boa bibliografia, como administrar o tempo etc. Além, claro, de ter que lidar com pessoas o tempo todo! E aí entra um problema no Brasil: você provavelmente nunca vai “só” dar aula ou “só” fazer pesquisa, é necessário saber trabalhar com isso tudo mais atividades de extensão, dentre outras.
A cada ano novos cursos de RI surgem no país. Como você vê o mercado para professores e pesquisadores? Está em crescimento ou saturado?
Infelizmente, está bastante saturado. As vagas não tem acompanhado a formação de profissionais. Além disso, há uma precarização muito grande do trabalho para professores e pesquisadores em razão da falta de investimento, regulação e oportunidades. É necessário ainda questionar a qualidade de muitos cursos que abrem sem qualquer preparação, ou que empregam apenas profissionais de outras áreas para poder cumprir tabela, ou que inventam disciplinas e formações sem qualquer relação com o núcleo duro de Relações Internacionais. As vagas nas boas universidades e centros universitários em geral já estão preenchidas, e o que surge de novo tem relação com essa precarização promovida por grandes grupos que transformam o ensino em lucro, puro e simples. Não sou muito otimista com o cenário. Mesmo em instituições públicas, vejo colegas que trabalham muito sem aumento de salário há anos, ou sem conseguir recursos para pesquisa tendo que conduzi-las se quiser sem qualquer apoio.
Muitos jovens se formam em RI e ainda não têm ideia de como se inserir no mercado de trabalho. Você acha que o estudante e profissional de RI é carente de informação sobre carreira? Que dicas você daria para aqueles que estão iniciando a carreira?
Acho que ainda falta muita relação entre a graduação e o mercado (de forma ampla). O curso de RI é interessante justamente por que permite que seus profissionais sejam capacitados a trabalhar nas mais diversas oportunidades: desde mercado financeiro e agronegócio ao terceiro setor e organizações internacionais. Há uma demanda grande de trabalho qualificado, de um profissional que saiba inglês e tenha desenvolvido suas hard e soft skills. Mas isso não vai acontecer se o estudante ficar 4 anos sentado na cadeira, anotando, decorando e fazendo provas sem sentido. E isso vale para qualquer graduação da área de humanas e sociais aplicadas. Esse tempo da graduação tem que ser ocupado com ensino de línguas, grupos de estudo, participação em atividades extracurriculares, centro acadêmico, atlética, monitoria, iniciação científica, estágios, cursos e tudo o mais que existe e está disponível (gratuitamente, em muitos casos). É essencial entender quais são seus interesses, onde eles podem ser transformados em uma profissão e o que é exigido para se chegar lá. Estas sugestões valem para quem está começando ou já está no curso. Mas valem também para quem acabou de se formar: saiba se vender! Participação em simulação é significado de eloquência, capacidade de resolver problemas, de trabalhar em grupo, de falar em outra língua, de capacidade de pesquisa e análise – esse é um exemplo de como precisamos mostrar ao mercado nossas competências!
Fez estágio de RI? Onde? Qual a importância deste fator na sua carreira?
Como descobri cedo que queria ingressar na área acadêmica, foquei em atividades correlatas. Por isso, participei do centro acadêmico, fui representante discente, publiquei dois artigos na revista de iniciação científica da PUC-MINAS, fui monitor das disciplinas que envolviam metodologia científica, participei de congressos de Relações Internacionais etc. Meu “estágio” foi desenvolvido ao longo do curso nessas atividades e foram essenciais para construir um pequeno currículo na área de pesquisa, comprovado inclusive com publicações. Isso me ajudou muito na fase de análise de currículo e na entrevista para o mestrado e posteriormente para conseguir meu primeiro emprego. Trabalhei poucos meses em duas empresas com atuação diversa, mas percebi que não seria mesmo minha praia – o que é importante: não gaste seu tempo e seus recursos onde você acha que não lhe trará retorno. Foque em atividades e em estágios que façam sentido com o que você busca e seus interesses (óbvio que isso nem sempre é possível, a realidade às vezes nos impõe outras condições). E também dei aulas de inglês em uma escola de línguas e particular, o que foi ótimo para desenvolver métodos de ensino.
Sobre a sua participação em programas de extensão ao longo da graduação e do mestrado, qual foi o grau de relevância dessas atividades no direcionamento da sua especialização hoje? (política externa dos EUA, teoria das RI e História)
Muito relevantes! Conforme disse anteriormente, foram os primeiros contatos com a pesquisa e com o ensino que me permitiram construir um currículo voltado diretamente aos meus interesses. Reitero: os quatro anos de uma boa graduação são importantes, mas o que é feito além disso é que provavelmente definirá sua inserção no mercado de trabalho.
Além de dar aulas na graduação, você também amplia o acesso ao conhecimento de RI na internet. Como o EDCC e a exposição ao público impactaram suas tomadas de decisão profissionais posteriormente?
Foi uma revolução e eu não esperava que tomasse a proporção que tem hoje. O canal surgiu de uma conversa informal com a Fer (Fernanda Magnotta), de explorar novas possibilidades, de democratizar conhecimento e propor algo novo na área de RI no Brasil. Deu muito certo, temos quase 20 mil inscritos no YouTube, fomos convidados a participar de diversos podcasts, canais, eventos, congressos etc. – o que nos enche de orgulho e alegria – e a recepção é sempre muito carinhosa. Buscamos mostrar como é possível falar de RI de uma forma mais descomplicada, que não substitui o estudo em nenhum sentido, mas ajuda a deixar mais claro uma série de conceitos e temas. Brincamos que não é um trabalho necessariamente, e também não se configura como fonte de renda (alô, marcas). Mas o retorno, em termos de visibilidade profissional para interessados em RI no Brasil todo, como também no contato com a mídia, foi muito grande. Estamos repensando algumas questões relacionadas ao canal por que nos demanda muito tempo e recursos. Mas o que posso adiantar é que não abandonamos o projeto!
Você acredita que trabalhar com Relações Internacionais na internet seja uma possível área para as futuras gerações de internacionalistas?
Sem dúvida! Saber construir oportunidades a partir das mídias sociais é uma forma muito inteligente de se inserir no mercado. Tenho ex-alunos, inclusive, que hoje trabalham em grandes corporações de tecnologia, de gestão de redes sociais, de marketing digital, data science e afins. Não existem fronteiras para a construção do conhecimento e toda forma, se seriamente empenhada, é válida. No canal sempre falo isso: busque destacar-se, faça algo que ainda não foi feito, expresse-se da forma que puder. Criar redes e relacionamentos também passa por saber usar a internet.
Estamos vivendo um conflito relevante entre Rússia e Ucrânia que tem trazido protagonismo midiático a analistas internacionais. Você mesmo tem sido recorrentemente convidado a entrevistas em grandes veículos. De que maneira você acha que esse contexto bélico pode impulsionar o desenvolvimento da nossa profissão? Há chances de setores privados recorrerem cada vez mais a analistas internacionais para evitarem perdas em cenários globais cada vez mais incertos?
Os conflitos internacionais ainda chamam bastante atenção da mídia e, hoje em dia, os grandes canais de TV e notícias, as principais rádios, podcasts etc. buscam profissionais de Relações Internacionais para comentar e analisar esses fenômenos. Vejo isso de forma muito positiva, é uma exposição importante para o nosso curso, para nossa profissão e nossa carreira. Em geral, a maioria dos que vão às mídias participar são muito qualificados e falam com muita clareza e discernimento – em tempos de influenciadores e pseudo-pesquisadores que acham conhecer e saber de tudo, é ainda mais importante que ocupemos esse espaço. O contexto bélico, por si só, não sei se gera um desenvolvimento da profissão, mas indiretamente ajuda a que ela seja mais reconhecida e valorizada. O setor privado já é o maior empregador de profissionais de RI, mas ainda falta muito para que entendam que professores e pesquisadores também podem trabalhar para além da Academia, infelizmente.
É possível que a exposição de analistas internacionais na mídia atraia mais interessados a estudar a área. Como você enxerga essa possibilidade: como risco de saturação de um mercado já concorrido ou como um fortalecimento da área?
Não necessariamente, depende dos interesses de cada um ao ingressar no curso. Relações Internacionais ainda é um curso promissor e cheio de oportunidades, mas é necessário entender que flexibilidade do curso precisa ser bem trabalhada para que se possa tirar proveito disso na hora de se inserir no mercado. 4 anos de graduação muitos fazem, aproveitar esse tempo para ter o autoconhecimento necessário a construir uma carreira desde então é que se tornou o grande desafio. Há possibilidades de trabalho nas mais diversas áreas para o profissional formado em Relações Internacionais, mas é necessário entender que o curso evolui junto do mercado e das necessidades de um mundo cada vez mais tecnológico e diverso. Acompanhar isso é essencial para o sucesso daqueles que ingressam no curso.
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