“Temos que respeitar a experiência, ter muita responsabilidade com as pessoas ao nosso redor e ser pragmático nas decisões diárias e estratégicas” diz Analista Internacional sobre a construção de uma carreira sólida.
Graduado em 2008 em Relações Internacionais pela UNESP e com Pós-Graduação em Bussiness Adminstration pelo Insper Instituto de Ensino e Pesquisa em 2012, Rodrigo iniciou sua trajetória profissional aos 17 anos como professor em uma escola de idiomas. Após a graduação, participou de um processo de Trainee na BRF onde permanece até hoje.
Confira abaixo a entrevista completa.
O que o motivou na escolha do curso?
Ao longo da vida escolar sempre tive um interesse natural nas matérias mais humanísticas e relacionadas a história ou eventos mundiais. Após concluir o ensino médio nos Estados Unidos (Byron, Illinois) e retornar ao Brasil, desenvolvi um interesse ainda maior sobre fatos e acontecimentos globais e como eles influenciam nossas vidas cotidianas. Acabei escolhendo o curso de Relações Internacionais para me aprofundar nesses temas e desenvolver uma carreira de atuação em comércio internacional.
Como foi o seu processo de tomada de decisão para ingressar nesta carreira?
A tomada de decisão veio próxima do final do ensino médio após escolher qual carreira teria mais aderência com meus interesses à época. Naquele momento estava entre Economia, Jornalismo e Relações Internacionais. Creio que meu interesse em temas políticos e sociais também influenciaram, assim como orientações de professores, amigos e familiares.
Conte um pouco da sua trajetória profissional e sua situação atual.
Ao retornar dos Estados Unidos, ainda no final do terceiro colegial, acabei utilizando o conhecimento no idioma inglês para começar a trabalhar e aos 17 anos entrei na primeira escola de idiomas como professor. Acabei por permanecer lecionando até o final da faculdade. Gosto de reforçar isso pois foi uma decisão fundamental na manutenção e maior desenvolvimento do idioma que permitiu a entrada na área internacional de uma grande empresa com mais facilidade. Fui então escolhido em um processo de Trainee da empresa brasileira BRF, uma das maiores produtoras e processadoras de alimentos do mundo onde permaneço até os dias de hoje.
Em quase 10 anos de atuação, acabei desenvolvendo trabalhos na área de vendas internacionais para mais de 46 países em praticamente todos os continentes, com exceção da Oceania onde a empresa não atua. Tive experiencias com inúmeras linhas de produtos e desenvolvimento de canais de venda como varejo e Foodservices.
Há 4 anos lidero a operação da BRF Hong Kong, sendo responsável por toda a parte de Supply Chain, importação, logística, produção local, trade marketing e construção da marca Sadia no território.
Em que medida seus relacionamentos interpessoais (networking) foram importantes na sua carreira?
Creio que muito da atuação de forma bem-sucedida, em qualquer área é baseada no networking que construímos. Ao longo de um período mais extenso da carreira começamos a dar continuamente mais valor a isso, e devemos sempre buscar uma construção responsável de uma rede de contatos para nos auxiliar nos desafios diários.
Em que consiste especificamente a sua atividade? Pode nos falar da sua rotina e responsabilidades profissionais?
Lidero, juntamente com um parceiro em Hong Kong a operação das marcas e produtos da BRF. Tenho uma equipe quase que integralmente de nacionais de Hong Kong e muita interação com nossas matrizes regionais (Cingapura) e global (Brasil).
A rotina consiste majoritariamente em traçar estratégias para uma atuação assertiva da empresa nos canais de atuação e gerenciar as equipes para alcançar os objetivos. Também lidero a comunicação e interação com órgãos locais institucionais (consulado, órgãos governamentais locais, associações, etc), assim como desenvolvimento de projetos de maior longo prazo com clientes que consideramos mais relevantes no território.
Muitos dos nossos leitores nos perguntam sobre a importância de fazer pós-graduação. Porque a escolha dessas áreas e como as especializações têm contribuído para o seu desempenho profissional?
Acho que a formação em Relações Internacionais é um ótimo primeiro passo para atuar no mercado. Como abrange uma serie de temas extremamente importantes, mas que exigem aprofundamento, o subsequente estudo em algum tipo de especialização, seja de cunho acadêmico ou Lato Sensu, se faz muito importante. No campo Lato Sensu, o qual tive oportunidade de explorar, creio que seja mais interessante e eficiente que a pessoa tenha algum tipo de experiência profissional para definir as áreas que pretende estudar. Acho que o mercado está exigindo competências que vão além dos cursos, portanto temos que tentar extrair ao máximo seu valor e se seguimos logo após a faculdade podemos não atingir esses objetivos.
Imaginemos que você tenha que contratar um analista internacional para trabalhar com você. Quais características o candidato deve ter para desempenhar a função?
O analista internacional atualmente tem que agregar valor de maneira estratégica ao negócio/projeto em que está inserido. Não basta somente o conhecimento dos fatos e a constante atualização em um mundo que muda de maneira intensa e diária. Por isso é extremamente importante ter uma solida base de conhecimento nos grandes pilares de ciência política, economia e história e, consequentemente, conseguir compreender alguns movimentos que ocorrem de forma cíclica e até mesmo prever algumas tendências. É praticamente impossível ter uma visão assertiva dada a complexidade das relações atuais, mas o analista internacional bem-sucedido tenta compreender os fatos nas entrelinhas e não só que está disponível para todos acessarem. Desta maneira a pessoa tem que ter olhar crítico, capacidade de análise de dados, colocar como foco a construção de relacionamentos e visão estratégica.
Muitos jovens formam em RI e ainda não têm ideia de como se inserir no mercado de trabalho. Que dicas você daria para aqueles que estão iniciando a carreira?
Acho que a pessoa não tem que se limitar a fazer coisas que são necessariamente ligadas ao internacional de imediato. O importante é começar. Nossa formação tem uma base humanística forte e muito teórica que deve ajudar muito na criação de redes ao longo dos anos. Dessa maneira recomendo que no primeiro momento a pessoa foque em ter o máximo de contato possível em todas as áreas de atuação de uma empresa, projeto, ONG, etc., para começar a entender essas relações mais pragmáticas do mercado. Caso consiga, nos primeiros 5 anos, ao menos definir aquilo que não gosta ou não tem talento para fazer já é um grande passo.
Em sua opinião, qual a maior dificuldade de um analista de RI com relação ao mercado de trabalho?
Acho que o excesso de teoria, que é muito importante para a formação do analista, acaba prejudicando na inserção no mercado. O mundo está cada vez mais pragmático e temos que nos inserir tendo isso em mente. O grande desafio é traduzir a complexidade que o analista de RI consegue compreender, mas traduzir isso em ações práticas e que ajudem a área em que esteja inserido a entregar os resultados esperados.
Se pudesse dar alguma dica aos futuros analistas internacionais que desejam seguir a sua carreira, qual seria?
Apesar de nos interessarmos e nos aprofundarmos em temas complexos de Relações Internacionais tenha sempre em mente que tudo isso é formado por pessoas e elas são centrais. Busque se aproximar e se interessar por temas dos mais variados para ganhar experiencia. Atue com muita responsabilidade tendo a certeza que não há muitos atalhos para conseguir construir uma trajetória sólida. Temos que respeitar a experiencia, ter muita responsabilidade com as pessoas ao nosso redor e ser muito pragmático nas decisões diárias e estratégicas.
Essa entrevista foi produzida com a ajuda da estudante de Relações Internacionais da UFRRJ e Colaboradora Voluntária Glayceane de Souza.