Entrevista com Rodrigo Reis

Conversamos com o Internacionalista Rodrigo Reis, Diretor Executivo do Instituto Global Attitude e especialista em Relações Internacionais, com mais de 10 anos de experiência profissional em organizações internacionais e do terceiro setor, agências da ONU e empresas privadas.

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“O mercado para internacionalistas teve um crescimento rápido nos últimos anos, mas ainda não é maduro e amplamente reconhecido. Isso não quer dizer que esses profissionais não tenham sido capazes de se inserir e disputar espaço em áreas extremamente competitivas”

Graduado em Relações Internacionais pela Goldsmiths, University of London,  Rodrigo desenvolveu projetos junto ao Parlamento Britânico e ao Parlamento Jovem Europeu. Atualmente, é Membro do Grupo Assessor Interagencial de Juventude da ONU Brasil, participando, ainda, de conferências internacionais, debatendo educação, empreendedorismo social, diplomacia pública, entre outros.

Confira abaixo a entrevista completa.

 

1 – O que o motivou a escolher o curso de Relações Internacionais em Goldsmiths, University of London?

Em relação à escolha da minha graduação e universidade, trilhei um caminho um tanto quanto diferente do que as pessoas normalmente tomam, tratando-se da jornada acadêmica. Iniciei os estudos com uma idade mais avançada, o que me proporcionou obter inúmeras experiências profissionais. Logrei experiências profissionais em bares, restaurantes, em Câmara de Comércio, trabalho voluntário enquanto residia no exterior. Penso que todas essas experiências me possibilitaram ter mais clareza e maturidade, uma vez que já possuía a vivência no exterior e compreendi que relações internacionais era a escolha mais adequada.

2- Uma de suas primeiras experiências profissionais foi como Vice-Presidente do Parlamento Jovem Europeu. Poderia nos contar um pouco sobre as atividades que desempenhou nesse período?

O Jovem Parlamento Europeu é um braço do Parlamento Europeu de Bruxelas. Sua atuação é na área educacional com a promoção dos valores europeus para dentro do bloco e em outros países. Na época em que atuei seu objetivo era pleitear  acesso ao bloco. Colaborei na região dos Bálcãs com países como a Romênia e Bulgária, que aspiravam estabelecer relações com a União Europeia ou formalizá-las. Portanto, isso justifica as ações direcionadas para a juventude no intuito de poder trazer educação e promover valores europeus. Era um exercício educacional, organizamos eventos com o objetivo de aproximar jovens dos valores europeus.

3 – Há sete anos você vem atuando no Instituto Global Attitude como fundador e obteve o maior reconhecimento de ONGs no Brasil (Certificado OSCIP, emitido pelo Ministério da Justiça). De acordo com a sua experiência, qual a importância do Instituto para os futuros internacionalistas que almejam atuar em empreendedorismo social?

O Instituto Global Attitude nasceu da visão de que a sociedade civil brasileira, com foco especial em jovens, pudesse participar de debates e estar efetivamente engajada em discussões que acontecem na esfera internacional.

O Instituto funciona atualmente como uma organização guarda-chuva, com diferentes projetos. Um deles é o “Diplomacia Civil”, um programa que seleciona, treina e coordena delegação de jovens brasileiros para fóruns internacionais. Outro projeto é o “Mob:Brasil”, com uma visão um pouco diferente, pela qual organizamos programas de intercâmbio de curta duração para universidades e empresas que desejam ter essa experiência internacional.

Atualmente, pelo Instituto Global Attitude, organizamos o BRAMUN, que é um dos maiores eventos de modelo de simulação de Nações Unidas da América Latina. Na última edição, o evento contou com mais de 450 pessoas, de mais de 26 escolas internacionais, com todos os comitês formados por integrantes que falavam inglês.  Além disso, o representante da ONU no Brasil, Niky Fabiancic, também estava presente sendo responsável pela abertura do evento.

4 – Você se tornou Membro do Grupo Interagencial da Juventude das Nações Unidas no Brasil, um círculo multisetorial liderado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Como surgiu a oportunidade para integrar ao grupo e como é a sua atuação?

Esse grupo é uma junção de iniciativas que são realizadas por diferentes agências da ONU com pauta de juventude. É uma reunião construtiva, bastante interessante, pois, são compartilhados tantos casos de sucesso, como boas práticas que estão sendo conduzidas por essas diferentes agências. O convite para participar da reunião surgiu da Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE).

Meu trabalho neste grupo é reportar a perspectiva do CONJUVE, as tomadas de decisão, assim como as prioridades do Conselho e da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) em termos dos programas. É uma via de mão dupla, nesse sentido, pois pautamos as atividades que estão sendo desempenhadas, em que as agências podem contribuir e vice-versa.

5 – Fazendo uma retrospectiva da sua trajetória profissional: de acordo com a sua experiência, quais foram os maiores desafios que enfrentou na construção da sua carreira internacional? – Como superou esses obstáculos?

Um dos maiores desafios da carreira internacional, para mim, foi efetivamente construir um networking internacional, fora do Brasil, que no meu caso aconteceu por eu ter morado no exterior. Na minha visão, penso que os profissionais de relações internacionais são pessoas que precisam de línguas e experiências internacionais para moldá-las e, posteriormente, voltar ao Brasil para efetivamente desempenhar um trabalho. Julgo que RI é uma graduação muito ampla, o contato com a arena internacional é necessário para compreensão real de como as decisões são tomadas, na prática. Dessa forma, é possível definir um nicho de atuação. Ao concluirmos a graduação, saímos com uma formação generalista, com muitas possibilidades, ao mesmo tempo que nenhuma prática.

6 – Como Analista Internacional, tratando-se de mercado de trabalho, quais são as maiores vantagens ou desvantagens que um internacionalista possui em relação a outros profissionais?

A mesma vantagem que vejo pode ser uma fraqueza também, pois o profissional de relações internacionais é generalista. Enquanto tem essa visão ampla, muito valorizada por empresas, dependendo do cargo, não possui especialização, então pode pecar, muitas vezes, quando o escopo de uma vaga de trabalho é muito específica.

7 – Se você pudesse listar os principais pontos negativos e positivos da atuação profissional em uma ONG internacional, quais seriam?

Penso que o ponto positivo seria essa possibilidade de trabalhar de maneira “glocal” (global+local). Temos, sem sombra de dúvida, essa capacidade analítica em ver diferentes fontes da esfera internacional, estar atualizado, participando e engajado com temas da agenda internacional, tendo essas participações bastante ativas e estando nos espaços de poder da arena internacional, com possibilidade de trazer isso para o Brasil.

O ponto negativo é a quantidade de viagens, julgo que no começo é muito interessante viajar, ter todo esse “glamour” de poder ser um internacionalista e atuando fora, mas, ao mesmo tempo, penso que as viagens a partir de um momento começam a ser algo bastante difícil de conciliar.

Tratando-se do Instituto Global Attitude, o desafio é ser reconhecido atuando em um nicho tão específico de educação inovativa, juventude, engajamento político jovem, etc., que são parte dos pilares do trabalho desenvolvidos por nós. Penso que é um nicho que ainda não é reconhecido e que tem muito espaço. Entretanto, esse processo de reconhecimento demora muito, no qual atingimos de certa maneira, mas ainda tem muito espaço e reconhecimento que temos que conquistar.

8 –  A cada ano novos cursos de RI surgem no país. Como você vê mercado para analistas internacionais, seja no Brasil ou no exterior? E o mercado específico para analistas internacionais em ONGs, qual a sua percepção? Porque uma ONG deve contratar um internacionalista?

Acredito ser um mercado que está em plena expansão. Julgo que as ONGS Internacionais não existem tantas assim, elas não contratam tanto, mas vejo um espaço muito amplo para internacionalistas em pleno crescimento. Penso que a profissão do internacionalista necessita ser reconhecida. Já existe um projeto de lei que propõe reconhecimento da profissão e a criação de um Conselho de Internacionalistas. Julgo que é um mercado que ainda precisa se formalizar e se popularizar, até para os empregadores entenderem como um internacionalista pode adicionar e criar valor dentro das empresas, que tenham já atuação internacional ou pretendem ter. 

 

Esse artigo foi produzido com a ajuda das Colaboradoras Voluntárias Giovanna Soares estudante de Relações Internacionais da UFRJ e Glayceane de Souza estudante de Relações Internacionais da UFRRJ.

 

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