ENTREVISTA COM THIAGO METZKER

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“Nesse setor o mundo é mais realismo e menos construtivismo”, diz analista internacional sobre iniciativa privada

Ele ingressou no mercado de trabalho como trainee da Femsa (Coca-Cola) e hoje é gerente nacional da Baccardi, ambas multinacionais do setor de bebidas. Com experiência de trabalho no México e prestes a embarcar em definitivo para a Espanha, o analista internacional Thiago Metzker fala com exclusividade ao What’s Rel? sobre sua experiência no setor privado e as vantagens e desvantagens de um RI no meio corporativo.

Formando em Relações Internacionais pela Puc Minas e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e Marketing pela ESPM, Thiago Metzker é um gestor moderno que preza pelo estilo despojado e colaborativo. “Eu gosto de trabalhar com pessoas descontraídas, comunicativas e que colocam o sucesso do time antes do sucesso pessoal”, diz quando questionado sobre o perfil de quem gostaria de contratar.

Confira abaixo a entrevista completa.

Thiago, você ingressou no mercado de trabalho a partir de uma seleção de trainee, não é mesmo? Como foi o processo?

Sim. Na época eu fiz inscrição para alguns programas e todos os processos foram muito similares. Prova online, em seguida uma dinâmica de grupo, alguns testes técnicos e por fim entrevistas individuais.

Para mim a primeira etapa e a mais importante é entender se aquela empresa tem a ver com você. O que se espera de um trainee de uma empresa de auditoria é bem diferente do que uma empresa de bens de consumo e tem muita empresa por aí. Escolha as que mais têm a ver com você e encare o processo com seriedade, uma etapa de cada vez.

Para mim, o grande trunfo do profissional de RI é que ele é um generalista por formação e no processo de trainee as empresas procuram bons candidatos que possam ser treinados. Use isso a seu favor. Não tente demostrar muito conhecimento técnico. Mostre boa atitude, capacidade de raciocínio, jogo de cintura e que é uma pessoa que todos gostariam de ter em seu time. É o básico, mas a grande maioria das pessoas não consegue pôr em prática.

E como foi a experiência de ser trainee na Femsa (Coca-Cola)?

Foi sensacional. A Femsa foi a minha escola, a empresa que me ensinou a trabalhar. Meu programa foi dividido em duas partes, na primeira eu passei meses rodando as diferentes áreas da empresa, aprendendo como funciona toda a cadeia de produção. Já na segunda, eu trabalhei como um estagiário na área de vendas, que foi a área com a qual eu mais me identifiquei.

O meu estágio foi muito bacana porque tive a oportunidade de ir para a rua, conversar com clientes, vendedores, carregar caixa, participar de matinais e ver na prática como seria uma rotina na área de vendas de uma grande empresa. Eu confesso que as matinais não eram a minha parte preferida do trabalho, mas eu me apaixonei pelo sentimento de equipe, de lutar por um mesmo objetivo, pelas marcas, por chorar e comemorar junto e aí tudo fluiu bem.

Você chegou a residir no México. O que fez lá? Como foi a experiência?

Eu morei no México durante um ano e meio numa espécie de programa de trainee interno da minha empresa. Fui convidado pelo RH para participar de um processo e acabei passando num programa de aceleração de desenvolvimento interno. Como a sede da Femsa é no México, me mudei para lá e trabalhei em outros negócios do grupo.

O México foi muito importante para minha vida. Foi a entrada para a vida adulta e quando entendi que a faculdade havia acabado. Ao mesmo tempo que dava um salto profissional interessante eu abri mão da convivência com amigos, com família, tudo. Eu já havia morado fora do país como vários estudantes de RI, mas morar longe de casa a trabalho é outra conversa. Enquanto você é estudante tudo é farra, mas trabalhando, pelo menos nas empresas onde trabalhei, ou entrega ou entrega, e essa rotina longe de casa não é tão glamourosa assim.

Logo depois da Femsa você foi para outra empresa do seguimento de bebidas, a Bacardi. Como foi que se deu essa transição?

Sai da Femsa depois de um período de 5 anos. Achei que era hora de mudar. Eu fui procurado por um headhunter e depois de algumas conversas ele me indicou para uma vaga que me chamava muita atenção na Bacardi. Era uma responsabilidade grande e a cultura da empresa tinha tudo a ver comigo. Resolvi arriscar e acabou que deu muito certo.

Poderia nos descrever suas funções na Bacardi?

Essa pergunta é muito difícil! Resumindo hoje sou Gerente Nacional de Vendas Brasil e minha função é basicamente servir e liderar meu time, mas no mundo corporativo tudo muda muito rápido. Nesse momento estou inclusive me preparando para outra função, agora na Espanha. Vou para lá de vez em outubro e seguramente é uma oportunidade que surge porque dentre outras coisas eu uso no meu dia-a-dia aprendizados de RI: como hoje atuo na área comercial, teoria dos jogos é praticamente rotina!

“Trabalho e Champions League”- Equipe da Bacardi faz reunião no escritório em São Paulo de olho no jogo do Barcelona

Em sua opinião, quais são as características positivas que um profissional de RI tem e que são apreciadas pelo setor privado?

Para mim a característica mais forte do profissional de RI é ser um generalista e isso é algo muito bom! É importante conseguir interpretar o contexto geral das situações e tomar decisões considerando o todo e isso o profissional de RI faz muito bem, principalmente em empresas multinacionais ou que possuam relações internacionais seja na forma que for.

Por outro lado, quais são os pontos fracos de um profissional de RI que devem ser desenvolvidos para se destacar no setor privado?

O profissional de RI possui pouco contado com a realidade do setor privado. Proporcionalmente as oportunidades de estágio em ONGs ou em projetos acadêmicos é maior. Para mim, quanto maior for o contato com o setor privado e quanto mais rápido ele perceber que nesse setor o mundo é mais realismo e menos construtivismo maior as chances dele se destacar.

Uma pergunta frequente dos nossos leitores é quando e qual pós-graduação fazer. Você tem dois MBA! Passamos a bola para você. Conte-nos como e por que escolheu seus cursos.

Eu escolhi fazer um MBA em Gestão Empresarial logo que sai da faculdade, bem no início do meu trainee e por necessidade. Lembro que uma das minhas tarefas de uma determinada semana era entregar uma análise utilizando a matriz de SWOT. Todos os meus amigos trainees receberam essa informação com naturalidade enquanto eu fiquei desesperado e só fui saber o que era a matriz de SWOT quando cheguei em casa e olhei no Google (na época não tinha net no celular).

Para mim foi muito útil e me deu a oportunidade de aprender conceitos básicos que mais para frente usei e faço uso diário. Se você quer seguir o caminho do setor privado eu recomendo muito e quanto antes melhor. Agora, se você já está trabalhando e se sente confortável com conceitos básicos do dia-a-dia de uma empresa, minha sugestão é esperar uns 2 ou 3 anos e entender melhor qual área você quer se destacar.

Por fim, se você tivesse a chance de contratar uma pessoa recém-formada agora, que tipo de perfil você levaria em conta?

Eu gosto de trabalhar com pessoas descontraídas, comunicativas e que colocam o sucesso do time antes do sucesso pessoal. Pessoas com esse perfil dificilmente ficam sem espaço no mercado.

“Com a taça na mão”- Thiago participou de uma viagem para a Rússia em 2016 com a equipe da Bacardi

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Jornalista e analista internacional apaixonado por Mountain Bike. Trabalha com Relações Internacionais e é Editor de Conteúdo do What’s Rel?

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito bacana essa perspectiva de alguém que optou pelo setor privado, infelizmente, temos poucas referencia do corporativo nos cursos de RI. Me interesso pelo seguimento e estarei, formando no segundo semestre de 2021, obrigado por esse feedback e parabéns pelo conteúdo maravilhoso do Blog!

    • Ola, Ismael,
      Ficamos muito felizes que goste do nosso trabalho. Ele é feito com muito carinho e seriedade por vários voluntários ligados as Relações Internacionais.
      Ficamos na torcida pelo seu sucesso!
      Abraços, Elisa

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